O Feirense trouxe as «fogaças» à Luz, mas o Benfica conseguiu apagar o fogo da quinta eliminatória da Taça de Portugal, com uma vitória sofrida, demasiado até, pela diferença mínima, e que coloca sem chama os encarnados na ronda seguinte da prova.
Diz a tradição que a «fogaça», doce regional e emblemático da história de Santa Maria da Feira, que data do século XIV, tem por sustento o cumprimento de promessas, fosse por motivo de calamidades locais (como sucedeu, na origem, com a peste) ou comemorações cristãs, em particular a 20 de Janeiro, curiosamente a véspera do encontro desta tarde de sábado.
Protecção que por pouco não surtiu efeito, já que perante a ameaça de nova catástrofe, ela dar-se-ia a algumas centenas de quilómetros. Na Luz, o Feirense, décimo da Liga Vitalis, soube carregar o fardo da inexperiência frente a um dos grandes de Portugal, que pequeno pareceu perante tão fraco espectáculo concedido. As risadas no primeiro tempo (fruto da atrapalhação dos jogadores da casa na hora de rematar), os assobios ao intervalo e o desinteresse nas bancadas, excepção feita aos visitantes, após o derradeiro apito deram expressão negativa à exibição da equipa anfitriã, que não soube, ou não quis, assumir o jogo com empenho.
Cardozo, que assistia ao encontro do banco de suplentes, entrou na segunda parte e, aos 51 minutos, fez aquilo que até então ninguém tinha conseguido, ou seja, acertar na baliza. Não foi também por falta de oportunidades que o Feirense não conseguiu idêntica proeza, até porque Butt de opositor teve quase só o nome. Aos 84, numa grande jogada de Serginho pela direita, atirou-se mal ao remate cruzado, que só por infelicidade não furou as redes encarnadas. Os aplausos sobraram para os derrotados em resultado, mas não em espírito, com milhares de apoiantes a vestirem de azul parte do recinto.
Rui Costa e pouco mais
A estratégia dos visitantes não poderia ser motivo de surpresa para José Antonio Camacho, que no dia anterior previra a táctica defensiva do Feirense (apresentou-se com cinco defesas), suposição acertada, mas que, ainda assim, não deixaria de sobressaltar os encarnados.
Os três centrais de Luís Miguel, em particular Luciano, foram incansáveis no auxílio a Hélder Godinho, que, entre os postes, soube afastar o perigo, como provam, por exemplo, as boas defesas aos 27, a remate de fora da área de Maxi Pereira, e aos 85, num livre directo de Rui Costa, demasiado sozinho para tantas tarefas (foi trinco, organizador, defesa e avançado, pelo menos). Katsouranis, no primeiro tempo (27), ainda atirou à barra, na conclusão de mais um momento atabalhoado, dividido entre Assis e Edcarlos, junto à grande área, e o regresso do médio grego viria a revelar-se prodigioso dois minutos depois do golo (53), quando desviou um cruzamento de Hélder, já com o guarda-redes alemão batido.
Apesar do aparente domínio, o Benfica não soube explorar os espaços concedidos, nomeadamente após a vantagem no marcador, e só viria a descansar à beira do apito, quando os homens de Santa Maria da Feira acusavam já desgaste considerável, por oposição ao vigor que comandava as suas mentes.