A diferença entre o sonho e a realidade para o humilde Odivelas, da II divisão, esteve na falta de força e velocidade de Félix. O esguio Semedo já tinha feito o resto: dois dribles tinham desequilibrado por completo o meio-campo do Belenenses, e um último passe rasgado o que faltava da defesa azul. Perante Costinha, ainda com alguns metros por correr, o avançado esperou, susteve em demasiado a respiração e permitiu que Nivaldo recuperasse o que não podia recuperar. As passadas que tinha em atraso. Pisava-se no 26º minuto de jogo e ninguém merecia nada. Pelo que o jogo teimou em mostrar depois, ninguém o iria merecer tanto nessa primeira parte. É sempre raro encontrar um oásis no deserto. Félix pensou que era uma miragem e o Belenenses chegou aos quartos-de-final (0-1).
As duas equipas encaixaram. Dady e Garcés sempre foram demasiado posicionais para criar problemas, Carlitos não estava nos seus dias e a relva levantava formava demasiados obstáculos para o toque suave de Silas. O embate acontecia no meio-campo, com um losango voluntarioso dos da casa a apertar sobre Mancuso e Ruben Amorim e a separá-los da cabeça da equipa. Os de Odivelas ganhavam a bola e lançavam-na de imediato para as costas do adversário, aproveitando o pique de Semedo e o raciocínio rápido de Vasco Varão.
Na segunda parte, tudo mudou. Os homens de Jesus perceberam que tinham de se entregar mais ao jogo, de correr mais, de procurar levar a melhor nos ressaltos e bolas divididas. Assim se explica a subida do número de remates. E, finalmente, o golo que decidiu o apuramento para os quartos-de-final. Jogada de envolvimento, com Dady a entrar na área - algo que poucas vezes conseguiu no primeiro tempo - e a servir Garcés. Um defesa do Odivelas e o pé de Bruno Costa à recarga do recém-entrado Eliseu ainda evitaram a desilusão, mas já não havia ninguém para impedir depois a finalização de Garcés, de novo de pé. Aos 63 minutos, os azuis provavam superioridade.
Não se pode retirar mérito ao Odivelas. Tentou, tentou, mastigou rotinas, mas o Belenenses é literalmente de outro campeonato, mesmo que se tenha esquecido disso durante 45 minutos. E os homens de Rui Grgório até saem do jogo insatisfeitos, queixando-se de uma mão de Rolando na grande área, da qual só se terá certezas com as imagens da televisão. Mas depois do golo e apesar da curta desvantagem, a equipa de Rui Gregório deixou de acreditar e alguns jogadores perderam o norte. Vasco Varão, a um quarto de hora do fim, fez uma falta dura sem bola e viu o vermelho, castigando a própria equipa. A única nota má num bonito adeus à Taça.
FICHA DE JOGO
Estádio Arnaldo Dias, em Odivelas
Árbitro: Hélio Santos (Lisboa)
Assistentes: Carlos Carmo e Gabínio Evaristo
4º árbitro: Nuno Barata
ODIVELAS (4x4x2, losango) - Bruno Costa; Tero (Samarra, 70), Jorge Teixeira, Tô-Pê e Filipe Martins; Saramago, Djão (Miko, 65), Vasco Varão e Hélder Costa; Semedo (Paulo Fonseca, 83) e Félix.
Treinador: Rui Gregório
BELENENSES (4x2x1x3) - Costinha; Amaral, Ronaldo, Nivaldo e Rodrigo Alvim; Ruben Amorim e Mancuso (Eliseu, 61); Silas (Cândido Costa, 70); Carlitos (Mano, 83), Garcés e Dajão.
Treinador: Jorge Jesus
Ao intervalo: 0-0
Disciplina: cartão amarelo a Nivaldo (12), Jorge Teixeira (34), Mancuso (36), Filipe Martins (57), Semedo (72) e Paulo Fonseca (85) e Tô-Pê (90). Cartões vermelhos directos a Vasco Varão (76) e Garcés (90).
Marcadores: Garcés (63).