O Rio Ave venceu a custo o Esmoriz (2-1), que nem parecia jogar dois escalões mais abaixo. Mais do que a vitória vilacondense e a eliminação do mais modesto adversário, há que registar um nome nesta partida, um daqueles jogadores ajudam a que a Taça seja mesmo uma festa: Rui Sacramento.
O guarda-redes do Esmoriz defendeu muito. Aliás, defendeu tudo o que podia, menos um remate a meias entre o peito e a barriga de João Tomás e uma bomba de Tarantini. Quando viu que não chegava defender o resultado, resolveu fazer um golo de baliza a baliza. Grande golo. Não chegou, mas o gesto ficou na história de um jogo com uma segunda parte repleta de golos de arregalar os olhos.
Carlos Brito é pouco dado a riscos e experimentou pouco. Trocou Carlos por Trigueira na baliza ¿ e fez mal, como se verá mais à frente ¿ e deixou de fora Zé Gomes, mas não andou longe de apresentar a melhor equipa disponível. Ou seja, só por lesão o jovem lateral-esquerdo Tiago Terroso foi chamado à equipa, suprindo as ausências forçadas de Sílvio e Valdir. Pelo mesmo motivo, faltaram o médio Vítor Gomes e o avançado Bruno Fogaça.

Tudo isto para dizer que não se pode explorar a culpa do treinador, mas sim a falta de atitude do onze, que entrou em campo para justificar tão fraca primeira parte vilacondense. O Esmoriz jogou como quis durante largos períodos e quase inaugurou o marcador em dois cabeceamentos de Paulo Ferreira. É certo que o Rio Ave entrou amorfo no jogo, mas sempre que deu sinais de querer acordar esbarrava no guardião do Esmoriz.
Chilavert, Higuita, Ceni? Não, Sacramento... Rui Sacramento
Não se esgotaram nas grandes defesas os momentos de inspiração divina do guarda-redes de 24 anos, formado no FC Porto. Já depois de não evitar um golo em que João Tomás empurrou a meias entre a barriga e o peito a bola para o fundo das redes Sacramento vestiu a pele de guardião das esperanças esmorizenses, tentando escrever a página mais bonita da história do jogo.
Conseguiu-o, num lance que, à falta de adjectivos, merece apenas a devida descrição: Sacramento pegou na bola na sua área, pontapeou forte, com esta a cruzar todo o terreno de jogo e a bater à frente de Pedro Trigueira. Mal colocado, fora dos postes, o guarda-redes vila-condense não evitou que o couro lhe passasse sobre a cabeça e se aninhasse no fundo das redes.
Parecia escrito que o Esmoriz ia mesmo vestir a pele de tomba-gigantes. Porém, já no quarto de hora final, Tarantini recorreu a uma bomba para detonar o guarda-redes de betão. Golo do Rio Ave e passagem garantida à 4.ª eliminatória. Sacramento não merecia. O Esmoriz também não. Foi demasiado pesado o castigo para a formação da Barrinha, que em quase todo o jogo dissipou categoricamente o enorme fosso entre uma equipa da II Divisão Nacional e outra que até ocupa a primeira metade da tabela do principal escalão do futebol nacional.
Ficha do jogo
Estádio do Rio Ave FC, em Vila do Conde
Cerca de 400 espectadores
Árbitro: Elmano Santos (Madeira), auxiliado por Sérgio Serrão e Álvaro Mesquita. 4.º árbitro: Roberto Rebelo.
RIO AVE: Trigueira; Magno, Gaspar, Bruno Mendes e Tiago Terroso; André Vilas Boas (Tarantini, 46), Wires e Adriano; Bruno Gama, João Tomás e Evandro (Sidnei, 46).
ESMORIZ: Rui Sacramento; Tiago Moreira, André, Adelino e Gonçalo; Alcino, Eder e Márcio Sousa; Fábio Ferreira, Paulo Ferreira e Elísio (Rafael, 60).
Golos: João Tomás (58); Rui Sacramento (67), Tarantini (78)
Cartão amarelo: João Tomás (24), Tiago Terroso (35), André Vilas Boas (36), Wires (48), André (85), Bruno Gama