Imperou a lógica, onde ela não devia ter existido. O Olhanense segue em frente na Taça de Portugal, debaixo de uma arbitragem polémica e perante um Sertanense nobre, trabalhador e que teve no prolongamento a passagem da eliminatória. A lógica de o maior vencer imperou, mas as diferenças entre as duas formações foram mínimas: os algarvios estiveram perto de atingir o nível dos da casa.

Ainda se lembram do futebol de rua?

O Sertanense tem essa bela tradição de, nos últimos anos, defrontar o F.C. Porto na Taça de Portugal. Por isso mesmo, juntinho ao intervalo, alguém dizia na bancada: «Só saímos com o Porto.» Pelos 45 iniciais, a possibilidade de estar em novo sorteio com os dragões era de percentagem maior para a equipa da casa.

Nem foi preciso ver as equipas para se perceber que os algarvios iam ter dificuldades: bastou ver o relvado. Em mau estado, beneficiou claramente quem tem menos argumentos técnicos. Daúto Faquirá tinha de apelar ao espírito de futebol de rua dos jogadores. Porque é aí que todos começam, seja no asfalto, ou, como neste caso, a meio caminho entre o pelado e o relvado.

O Sertanense unia-se atrás, tapava espaços ao Olhanense. Os algarvios tentavam tabelar, levar a bola para o ataque. Só que a boa defesa da casa limpava e metia a bola lá para a frente, onde os três avançados rápidos da equipa surgiam abertos. Assim, no final do primeiro tempo, a contagem de lances perigosos resumia-se a: um para o Olhanense, num remate de João Gonçalves; cinco para os da casa! Não havia dúvidas de quem fora melhor.

Olhanense melhor, ao contrário do árbitro

No segundo tempo, o Olhanense conseguiu estar mais perto da área contrária. Rui Duarte assustou de livre, Maurício também, e Jorge Gonçalves entrou para o lugar de Rui Duarte e causou impacto imediato, também derivado do novo posicionamento de Lulinha: deixou a ala e foi para o centro. Mas os lances de perigo eram escassos para uma equipa de I Liga.

O protagonista passou a ser, por minutos, o árbitro. Primeiro, esqueceu-se de mostrar cartão amarelo a Maurício, que seria expulso; depois, não viu Ricardo Batista derrubar António, depois de ter segurado um cruzamento: era grande penalidade, como parece ter havido outro, logo a abrir, para o Olhanense, por mão de um defesa. E mais tarde, novas e muitas dúvidas, com Ventosa a cair na área. O povo de uma «vila pequena» insurgia-se contra o grande da I Liga e, sobretudo, contra o juiz. E assim, com decisões polémicas e poucos lances de golo, o nulo perdurou para lá dos 90.

No prolongamento, Júlio teve a justiça no pé direito. Mas atirou-a para o lado. O momento do encontro era aquele, o Sertanense teve a qualificação a um pontapé de distância. Assim, teve ir para os penalties, onde acabou por perder, perante todos os remates certeiros dos algarvios.

Ficha de Jogo:

Estádio: Municipal Dr. Marques Santos, na Sertã.

Árbitro: Vasco Santos (Porto), auxiliado por João Santos e Alexandre Freitas.

Quarto árbitro: Luís Alberto Ferreira.

SERTANENSE: Paulo Salgado; Ventosa, Adilson, António e Gil; Idris, Leandro e Leo Oliveira (Casquinha, 46) (André Santos, 117); Tony, Júlio e Alex (Fábio Ferreira, 108).

Suplentes não utilizados: Pedro, André Cacém, Danny e Luís Fernando.

Treinador: Bizarro

OLHANENSE: Ricardo Batista; João Gonçalves, Maurício, Jardel e Carlos Fernandes; Cadu, Vinicius e Rui Duarte (Jorge Gonçalves, 61); Lulinha, Yontcha (Matias 91) e Toy (Djalmir 69).

Suplentes não utilizados: Moretto, Anselmo, Ismaily e Maynard.

Treinador: Daúto Faquirá

Ao intervalo: 0-0.

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Disciplina: cartões amarelos para Maurício (17), Paulo Salgado (38), João Gonçalves (45), Gil (81), Jorge Gonçalves (105). José Bizarro, treinador do Sertanense, foi expulso (90).