Sabe que mais, caro leitor? A Taça de Portugal é incrível. Inexplicável. Enfim, o que quiser.

Histórica com histórias sem fim. Alegrias, tristezas. Festa do povo. E dos jogadores, que lá dentro fazem o espetáculo.

É preciso dizer isto para falar de um dos jogos do ano. 10 de janeiro de 2018, Vila do Conde, Estádio do Rio Ave: 120 minutos mais penáltis. Oito golos, reviravoltas, expulsões. Vamos a isto?

Antes de mais, o facto. O Desp. Aves está nas meias-finais da Taça, eliminou o Rio Ave num jogo decidido na «lotaria» dos penáltis. E que os vilacondenses venciam por 3-1 aos 89 minutos. Sim, isso mesmo. Venciam por 3-1, deixaram-se empatar e tudo seguiu para um prolongamento que acabou em 4-4 e obrigou ao último dos desempates.

O início.

O Rio Ave nem sempre conseguiu explanar a sua ideia de jogo, mas foi a primeira equipa a procurar o que de melhor ele traz. Seria, pois, compensado primeiro.

Antes, porém, Rui Vieira trouxe susto à fita de um filme com suspense de início a fim. Um mau alívio ia custando caro. Pânico? Longe com ele.

Nesta trama, Marcelo desatou o marcador ao minuto 17. Canto de Yuri Ribeiro, primeiro a cabeça de Guedes e depois a do imperador de Vila do Conde: 1-0.

O jogo estava agradável. Teve resposta positiva do Desp. Aves. Mas foi além dos 22 jogadores que o enredo ficou feio. Dois foras de jogo mal tirados aos avenses – um deles dava o empate a Amilton – e um lance para penálti dúbio com a mão de Marcelo à mistura.

Um soar a injustiça a que Lito Vidigal não se ficou. Protestou e foi expulso por Carlos Xistra (31m) num episódio caricato que durou vários minutos.

Com ou sem treinador, o jogo seguiu para um Desp. Aves expedito na reação. Em crescendo até ao intervalo. Carlos Ponck falhava de cabeça à boca do apito. Rio Ave em vantagem no regresso aos balneários.

Pausa na cena. Cabeças a frio, a mesma toada.

O Desp. Aves regressou valente e justificou a igualdade pela cabeça de Defendi a livre de Paulo Machado. Minuto 50, tudo igual.

FICHA E FILME DO JOGO

Aí, depois do imperador, apareceu um capitão de ar oportuno a desviar para o 2-1 do Rio Ave. Lance fotocópia do golo inaugural, só com o toque a mais de Marcelo. O que antes ficara igual voltava à mesma diferença em três minutos.

Só que o Rio Ave, na filosofia inovadora de Cardoso, teve dificuldade maior que o habitual de respirar o seu futebol. Mérito do Desp. Aves, até ao minuto 75.

Clímax.

Nesse minuto, João Novais, a passe de Geraldes, batia Adriano pela terceira vez. Dava a estocada no marcador. Assim pensaria o comum dos mortais. Na bancada, os adeptos do Desp. Aves iam-se cobrindo. Pela momentânea chuva. Na quase utópica recuperação. Do outro lado, alegria total.

89 minutos, 3-1. Anticlímax.

Mas se há coisa mais certa na vida do que não ter certeza de coisa alguma, o Desp. Aves provou-o na quimera da redondinha. Amilton teve cabeça para o 3-2 e Arango, aposta do Professor Neca, disse que isto havia de ter mais para contar. Minuto 90, chapéu a Rui Vieira, 3-3. Siga para para mais meia hora.

Nessa, o Rio Ave até entrou mais audaz. O Aves, mais sóbrio e pela certa, deu a volta ao texto aos 105. Fê-lo por Arango, que se livrou de Lionn antes de Rui Vieira sofrer pela quarta vez.

No meio da desordem, já sem a lucidez de outrora, o Rio Ave ainda conseguiu empatar, pelo reforço Gelson Dala. Deu novo alento ao Rio Ave. Seria em vão.

Desenlace

Só nas grandes penalidades. Aí, o Desp. Aves não falhou uma e Adriano, na última da série, deu uma palmada no remate de Bruno Teles e coloca o Desp. Aves pela primeira vez nas meias-finais da Taça de Portugal e lá vai encontrar o Caldas.