«Passar as passas do Algarve»

Estar em grande sofrimento ou em dificuldades. = Sofrer

É de dicionário na mão e expressão popular na ponta da língua que podemos resumir esta receção do FC Porto ao Portimonense: o dragão passou as passas do Algarve para seguir em frente esta noite para os oitavos-de-final da Taça de Portugal.

O líder da Liga esteve na iminência de ser afastado pela segunda época consecutiva na 4.ª eliminatória. Esse era, aliás, o cenário aos 90 minutos de jogo. No entanto, dois golos na compensação, de Aboubakar e Brahimi, salvaram os azuis e brancos de caírem com estrondo aos pés de um Portimonense que já haviam recebido e goleado por 5-2 na 7.ª jornada da Liga.

Desta vez, foi o duelo foi bem diferente. Os algarvios voltaram a marcar dois golos na deslocação ao Porto (coisa que só o Besiktas havia feito) e tiveram pela frente aquela que foi a pior versão portista desta temporada, a coincidir com a pior assistência no Dragão (20 687 espetadores).

Tudo, porém, parecia correr sobre rodas quando aos cinco minutos Danilo inaugurou o marcador. Antes disso, ainda o apito inicial não havia soado e já havia um motivo de interesse adicional: Casillas regressou à baliza, um mês e meio depois. Tal como Óliver também voltou ao meio-campo, para dar certeza de passe e visão periférica, que não contou com Herrera e teve André André a adicionar consistência, mas também lentidão, ao sistema de 4-3-3. Um triângulo invertido que, mais do que aposta, parece forçado pela falta de opções para fazer companhia a Aboubakar no eixo do ataque.

Conceição não pode ser condenado pela falta de quantidade no ataque: aliás, dar a titularidade a Hernâni e lançar às feras um jovem da equipa B como André Pereira é clamar por opções. 

TP: FC PORTO-PORTIMONENSE, 3-2: O JOGO AO MINUTO

Esta noite, Corona apareceu sobre o flanco esquerdo, com um domínio de bola capaz de segurar o jogo e partir para cima do defesa, e Hernâni sobre a direita a fazer o oposto: um turnover atrás do outro... Um suplício que durou até aos 50’, quando depois de ver à sua frente Hernâni desperdiçar mais um contra-ataque Conceição perdeu a paciência e chamou ao banco Brahimi para substituir o extremo.

Se o jogo começou animado no Dragão, com Danilo à vontade a corresponder com um desvio na pequena área a um canto cobrado por Alex Telles logo a abrir, assim poderia ter continuado: mesmo Danilo de cabeça quase bisou (19’), e Corona até sentou um adversário para permitir o corte salvador de Lumor (25’).

Reagiria o Portimonense. Sem Paulinho, o maestro do meio-campo dos algarvios, o aniversariante Vítor Oliveira optou por um 4-1-4-1, soltando Shoya Nakajima lá na frente. Endiabrado, veloz e muito talentoso o japonês tentou visar o alvo portista um par de vezes. Até que, após canto, apareceu solto a rematar com a bola a desviar no pé de Felipe e a sobrar para Wellington, que fez a bola a passar por baixo das pernas do guarda-redes espanhol.

O golo pôs em sentido os dragões, que entraram para o segundo tempo com a eliminatória mais em aberto do que gostariam e sem aparentes melhorias ofensivas. Até que houve um Sá esta noite a tramar Casillas... Pedro Sá arriscou aos 68’ um pontapé do meio da rua e fez a reviravolta para a equipa de Portimão. 1-2 e menos de meia-hora para jogar. Soaram os alarmes no Dragão, encharcado com o balde de água fria.

TP: FC PORTO-PORTIMONENSE, 3-2 (DESTAQUES)

Sem grandes opções ofensivas no banco (além de Herrera, Marega, Otávio e Soares estão lesionados) Sérgio Conceição teve de lançar em campo o jovem avançado da equipa B André Pereira. Faltavam ainda assim espaços, mesmo com a expulsão de Felipe Macedo por acumulação de amarelos, aos 78’. Em cima dos 90 o cenário era de hecatombe, mas havia sete minutos de compensação para jogar.

Foi nesse último suspiro que o Dragão teve finalmente chama: Aboubakar isolado na cara de Carlos Henriques por uma assistência primorosa de Alex Telles empatou. Momentos depois, quando já se esperava o prolongamento, lá apareceu Brahimi solto na área para com um remate na passada resolver o assunto e fazer o 3-2 com que o FC Porto carimbou a passagem aos oitavos de final. Dois golpes letais.

O argelino veio da seleção (onde bisou) com fome de bola. Brahimi nem é devoto da quadra natalícia que se aproxima, mas ao tocar do sino deparou-se com as tais passas do Algarve e chamou-lhes um figo. O dragão devorador do costume desta vez apareceu por sete minutos apenas.

RESUMO DO JOGO: