À entrada, dava a sensação de que se estaria prestes a assistir a mais um de muitos jogos de domingo de manhã de camadas jovens. A venda dos bilhetes era feita numa mesinha colocada estrategicamente junto ao portão da entrada, assim como a distribuição das credenciais para imprensa. Lá dentro, já conviviam alguns adeptos, à chuva. Quem se preparava para entrar em campo? Seriam os juniores da Naval, certamente…

Mas não, a realidade afinal era outra e o jogo era mesmo da Taça de Portugal. A Naval 1º de Maio, outrora militante do principal escalão do futebol português, vive uma crise financeira que se vem arrastando desde essa despromoção e procura sobreviver com uma dose louvável de esforço e escassos recursos. O Estádio José Bento Pessoa, palco de jogos épicos da I Liga na última década, está ao abandono, com o relvado queimado pelos maus tratos climatéricos e nas bancadas vão se acumulando ervas e detritos. A equipa, com a anuência da Federação e dos adversários, mudou o calendário de forma a poder jogar sempre fora por não ter um estádio em condições.

No entanto, e pela segunda vez consecutiva nesta Taça de Portugal, os navalistas puderam usufruir do campo de treinos adjacente ao Bento Pessoa para receber um adversário, neste caso do escalão principal, o Marítimo. Com uma pequena bancada e vários adeptos nas imediações do campo, o jogo decorreu em condições peculiares, incluindo para os próprios jornalistas, protegidos por chapéus de sol e para os câmaras, que tiveram de subir ao teto dos balneários por um escadote de forma a poder executar o trabalho. Apesar da visível falta de condições, há que louvar o trabalho incansável dos funcionários navalistas para minimizar essas contrariedades.

De resto, durante o jogo, imperou quase sempre o silêncio na bancada, com quase 300 espectadores, alguns deles afetos ao emblema madeirense. Silêncio que apenas era cortado durante um ataque dos donos da casa ou perante uma entrada mais dura de algum jogador maritimista. O ambiente não foi o mais excecional, embora a cordialidade tenha imperado de parte a parte.

O encontro foi emotivo até o Marítimo chegar ao primeiro golo e deitar abaixo qualquer esperança de que houvesse um tomba-gigantes renascido das cinzas na Figueira da Foz. Aí sim ouviram-se e bem os adeptos maritimistas, felizes por uma vitória sofrida e capazes de reconhecer o enorme espírito de sacrifício de tão nobre adversário.

No final da partida, jornalistas, jogadores e equipas técnicas cruzavam-se numa agitação saudável dentro do pequeno edifício que serve de suporte ao campo de treinos. A festa da Taça também é isto: permite que o distanciamento tantas vezes existente noutros campos e contextos se dissipe e exista uma maior proximidade entre os profissionais da imprensa e os profissionais do futebol.