Certificar o fracasso deste FC Porto é prematuro. Patentear a sua tremenda crise de identidade já não. O que é esta equipa? O que pretende ser? Esqueçam os sarrabiscos do treinador e os lugares comuns do costume. O brasão azul e branco está há 430 minutos sem golos.

É incompreensível, quiçá inaceitável, mas o quadro clínico é este: espiral depressiva imparável, provavelmente motivada pela angústia na hora do remate, a incapacidade de lidar com os azares da vida (1-1 no recente clássico) e a evidente falta de qualidade de alguns elementos.

Nulo, mais um do FC Porto e novamente contra um brioso Belenenses, desta vez reduzido a dez unidades durante 50 minutos.

Nem o regressado Yacine Brahimi, o mais inconformado, muito menos o fraquíssimo Laurent Depoitre, e também não o menino Rui Pedro e o alheado Adrián López. Nenhum dos quatro avançados utilizados nesta estreia na Taça da Liga foi capaz de marcar e acabar com a imparável máquina do tempo. O contador avança e golos nem vê-los.

Nuno mudou nove peças (manteve os dois centrais, novamente excelentes), Quim Machado trocou oito. Diferentes protagonistas, sim, mas muito em comum com o jogo de há três dias em Lisboa.

Mais bola para o FC Porto, mais cabeça e organização para o Belenenses. Os dragões tiveram um golo anulado a Felipe, aparentemente mal, mas depois pouco criaram para afrontar aquilo que o destino, a sorte, o Olimpo do futebol, seja lá o que for, determinou para esta equipa: esterilidade absoluta.

Podemos pensar em fatores sobrenaturais, até esotéricos ou religiosos, mas a explicação é mais simples do que isso. E terrena. Basta olhar atentamente a movimentação básica e previsível dos quatro médios, os cruzamentos mal feitos e sempre muito longe da linha de fundo, a incapacidade de criar um desequilíbrio e levar a bola controlada para zonas prometedoras.

E quando isso acontece? Bem, com o inócuo Depoitre é difícil pensar em maravilhas mas, naturalmente, os males deste FC Porto vão muito além do inepto belga.

Com Benny bem expulso perto do intervalo – entrada duríssima sobre Rúben Neves -, o Belenenses baixou as linhas, abdicou de ter a bola e, por incrível que pareça, continuou confortável e sem sofrer horrores.

Nuno E. Santo tentou tudo ao lançar Rui Pedro e Adrián para os 30 minutos finais, abdicando dos dois piores da equipa (Varela e Depoitre), mas só um bom pontapé de Yacine Brahimi e uma bola no poste de Rui Pedro assustaram verdadeiramente Ventura.

Pouco mais do que zero para o FC Porto, muita competência para o Belenenses. E assim arrancou a Taça da Liga para estes dois históricos.