Muito simples. Um golo bastou para quebrar a maldição. Uma delas, pelo menos. Um golo de Luisão, fadado para estes momentos. Um sorriso de prata do central e de todos os jogadores do Benfica. Mais equipa. Mais forte. Simplesmente melhor. A Académica foi uma equipa cinzenta, meio-termo dos tons do equipamento. E pagou. Por isso e pela inexperiência. Para os de Coimbra, em Coimbra, a sina continua. Por que remodelaram o Calhabé?

A diferença? A diferença esteve na maciez. Os da Nova Luz tiveram inúmeras jogadas de antecipação, ainda no meio-campo dos da casa. Aproveitaram ainda os erros de Fouhami nos pontapés para o deserto e, sim, claro, a altura de Luisão para chegarem ao golo que tudo decidiu. O Benfica pouco acelerou, a Académica quando o fez fê-lo mal. Por isso, o «grande» está na sexta eliminatória da Taça e a «Briosa» fica por aqui.

Camacho teve o que queria. Um jogo-treino que foi tudo menos intenso, durante o qual conseguiu dar minutos a Bossio, Argel, Luisão, Anderson, Roger, Alex, Fehér e Nuno Gomes. Sim, o «rei» voltou. Mas ainda não fez jus ao novo epíteto no Mundo luso, ele que já tem um nome que usa como se fosse dele. O seu destino ainda não foi descoberto numa terra média, apesar de desejar que o fosse. Hoje, sobretudo. As tácticas equivaleram-se. O espanhol pouco mudou, variou. O 4x2x3x1 tornou-se num 4x3x3, que amordaçava Roger na direita e dava maior expressão à classe de Tiago, cada vez mais igual a Tiago. Vítor Oliveira respondia de forma semelhante, mas assumia-se menor, jogava em contra-ataque.

Das ameaças ao sorriso

O minuto 17, depois de uma entrada consistente dos «encarnados» e de tímidos lances dos «estudantes», trouxe a primeira nota de destaque do jogo. Um pontapé de canto rasgou a área dos da casa e chegou a Tiago, que rematou em esforço. Fouhami defendeu, Simão fez a recarga. Novamente, Fouhami. A primeira grande oportunidade. A Académica fez bluff, dois minutos depois. Cruzamento da direita, cabeça de Marcelo para as mãos de Bossio. Argel e Luisão a falarem a sua língua dançante, levantando os braços como se nada tivesse sido com eles. Mais dois minutos e o golo. Livre de Simão na esquerda, Luisão fez-se ainda mais gigante e cabeceou ao de leve na bola para trair o guarda-redes contrário.

As bancadas, compostas maioritariamente por adeptos do clube de Lisboa, pareciam que vinham abaixo de excitação. Tanto pareceram, que uma, onde estava uma claque «encarnada», ficou sem a grade de separação do relvado. Confusão geral. Seguranças a correrem para o local. Alguns feridos, aparentemente ligeiros, a serem assistidos. É também aqui que vai ser o Euro 2004, não é?

O Benfica esteve tão perto do 2-0 quanto o remate de Simão, aos 28 minutos, esteve do poste. Esperta a assistência de Tiago, a isolar o 20, extrema ingenuidade dos da casa, à espera de que o fora-de-jogo caísse do céu. A nova dupla de centrais da equipa de Camacho dava indícios de pele de galinha, mas, mesmo assim, o melhor que a Académica conseguiu antes do intervalo, foi forçar a saída de Bossio perante a proximidade de José António (43m).

A falsa oportunidade de Roger

Adivinhava-se que Roger, o bem-amado de muitos, não ficaria muito tempo em campo. Não foi a sua noite. Não foi extremo, nem criativo. Amarraram-no à direita. Foi uma falsa oportunidade, ele que jogou aí com Toni, porque Zahovic tinha o seu espaço atrás do ponta-de-lança. Como parece ter agora, mesmo que não jogue. Também a ansiedade era tal em rever Nuno Gomes, que se suspeitou que seria ele o sacrificado para fazer valer a dupla de pontas-de-lança com Sokota. Antes, porém, um bom cruzamento para Simão cabecear para Fouhami e duas arrancadas, com entradas mais duras dos adversários, davam apenas leves indícios de melhorias. Afinal, sairia para dar lugar a Alex, enquanto Sokota, mais uma vez incansável a trabalhar para os colegas, fazia surgir o outro ídolo, Nuno Gomes.

O Benfica, que tinha aguentado facilmente a pressão inicial dos academistas no início do segundo tempo, preparava-se para voltar a olhar de frente para Fouhami, mantendo a bola bem longe de Bossio e dos centrais brasileiros. A gestão da bola aparecia, com trocas sucessivas, e a defesa da Académica tremia com algumas corridas de Nuno Gomes e Miguel. Os dois fabricaram a melhor jogada da segunda parte, aos 67 minutos, com o lateral a rematar, já na área, ligeiramente ao lado. O minuto 90, sem que as «capas negras» fizessem cócegas, traria a maior dor de cabeça para Camacho. Simão, que tinha visto um amarelo nos primeiros minutos da etapa inicial, era expulso por acumulação. E sem justificação, senhor Paulo Costa.

Os «encarnados» conseguem passar o Natal com continuidade na Taça, à terceira época (Marítimo, em 2001/02, e Gondomar, em 2002/03, impediram-no nos últimos anos). Terminou a curta maldição. Os de negro deixam a prova rainha, sem terem ainda justificado a remodelação do Calhabé.