Clubes da moda, emblemas de passado altivo e presente ambicioso. Rio Ave e Sp. Braga, candidatos a uma vaga no Jamor, olhos nos olhos esta quarta-feira pela quinta vez esta temporada.

Sinal dos tempos. Crescimento evidente, resultados sólidos, duas instituições a investirem no enraizamento social e na disseminação da respetiva influência.

Fundados na primeira metade do século XX – o Rio Ave em 1939 e o Sp. Braga em 1921 -, os emblemas habituaram-se a rechear a caderneta de cromos do campeonato nacional em períodos distintos, até se tornarem em dois dos projetos mais atraentes do futebol nacional.

Os de Vila do Conde estrearam-se no escalão maior em 1979/80. Estão desde 2008 a disputar a I Liga de forma consecutiva e ameaçam, pelo menos isso, igualar o melhor registo de sempre: o 5º lugar de 1981/82, época do treinador Mourinho Félix e de outras figuras inesquecíveis, como o eterno capitão Duarte Sá, Cabumba, Biro Biro, Luís Saura, o veterano Mário Reis, Quim, Abel Miglietti ou os guarda-redes Trindade e Alfredo.

Do plantel constava, de resto, José Mário Mourinho, 19 anos, longe de ser Special, Il Speciale ou The Happy One.

Os Guerreiros do Minho têm uma ligação mais longa e segura à I Divisão. A primeira presença data de 1947/48 e disputam a prova ininterruptamente desde a temporada 1975/76. Em Democracia, o Sp. Braga jogou sempre o Campeonato Nacional maior.

Os melhores resultados, porém, são recentes. Basta lembrar a presença na final da Liga Europa (2011), a vitória na Taça da Liga (2013) e o segundo lugar na I Liga (2009/10). Só a conquista da Taça de Portugal tem mais anos (1966/67).

O guarda-redes Armando, os defesas José Manuel e Estevão, os médios Espingardeiro e Bino, e os avançados Miguel Perrichon, Estevão e Luciano inscreveram o nome na mais bela página do historial arsenalista.  

O Maisfutebol analisa a última década destes dois grandes nortenhos e a conclusão é simples: Rio Ave e Sp. Braga vivem a primavera das suas histórias, a melhor e mais profícua fase de conquistas.

RIO AVE: a Europa e o espelho de 1982    

Uma década de valor acrescentado. O título escolhido tem duas leituras. Pode ser aplicado à riqueza conferida pelos clubes em análise à I Liga ou, por outra, à própria idiossincrasia das instituições, cada vez maiores, cada vez mais poderosas.

Nos Arcos, a abrangência da competitividade do futebol sénior extravasa as fronteiras da Liga. Na temporada 2014/15, o Rio Ave teve uma estreia digna de reverentes vénias na Liga Europa, com dez jogos efetuados, duas fases transpostas e uma presença interessante na fase de grupos.

Foi nesta última década que o clube voltou ao Jamor (2014), 30 anos depois da primeira presença, diante do FC Porto e recordada pelo capitão Duarte ao nosso jornal, em agosto de 2014.

Nessa mesma conversa, Duarte explica o que torna especial o Rio Ave Futebol Clube:

«A proximidade com o mar, a ligação aos pescadores, o facto de ser uma zona piscatória, dá um caráter muito marcante a este clube. Os adeptos do Rio Ave vivem o futebol com grande fervor, com grande paixão».   

O cordão umbilical com o Atlântico é robusto e obstinado, mas há outras razões para a explosão desportiva recente: a gestão das direções de António Campos, empresário da região e a cumprir o terceiro mandato, tem sabido escolher com sabedoria e gerir sem vaidade.

A associação ao super-agente Jorge Mendes permitiu a entrada de atletas de valia insuspeita e a transferência de outros para grandes emblemas do futebol europeu.

Basta pensar no nome de Fabinho, internacional brasileiro que nunca vestiu a camisola do Rio Ave. Fez parte dos quadros do clube e esteve cedido ao Real Madrid e ao Mónaco. Inimaginável, num contexto de normalidade.

Finalmente, os treinadores. Carlos Brito, nome indissociável, cimentou a equipa na I Liga; Nuno Espírito Santo e Pedro Martins exponenciaram as valências do clube. Os resultados estão à vista e são francamente bons.

O que falta, então, para o Rio Ave se afirmar como clube de dimensão europeia? Aumentar o número de sócios e espetadores nos Arcos. Nesta altura, de acordo com informações oficiais da Liga, a média de assistências é inferior a três mil pessoas por jogo.

A equipa merece mais.

RIO AVE NAS ÚLTIMAS DEZ ÉPOCAS:

Campeonato:
2005/06: 16º lugar, despromovido
2006/07: II Liga
2007/08: II Liga
2008/09: II Liga
2009/10: 12º lugar
2010/11: 8º lugar
2011/12: 14º lugar
2012/13: 6º lugar
2013/14: 11º lugar
2014/15: 10º lugar
2015/16: 5º classificado, a dez jornadas do fim

Liga Europa:
2014/15: dez jogos (3 vitórias, 2 empates, 5 derrotas)
. 3ª Pré-Eliminatória, Play-Off e Fase de Grupos

Taça de Portugal:
2013/14: finalista vencido

Taça da Liga:
2013/14: finalista vencido

Principais atletas transferidos:
Fábio Coentrão: para o Benfica, 2007
Miguel Lopes: para o FC Porto, 2009
Sílvio: para o Sp. Braga, 2010
Bruno Gama: para o Deportivo, 2011
Júlio Alves: para o Atlético Madrid, 2011
Ederson: para o Benfica, 2015
Diego Lopes: para o Benfica, 2015
Tiago Pinto: para o Osmanlispor, 2015
Hassan: para o Sp. Braga, 2015
Marvin Zeegelaar: para o Sporting, 2016

SP. BRAGA: o foguete já chega à UEFA

Agora sim, Guerreiros do Minho. Mais de cem jogos nas provas da UEFA, salto qualitativo violento, capaz até de atormentar aqui e ali com dores de joelho e articulações. O que cresceu o Sp. Braga sob o comando de António Salvador!

«Partíamos de Braga para o Porto no comboio regional, pela manhãzinha. O foguete. Chegávamos a Campanhã e apanhávamos o foguete das 14h35 para Santa Apolónia. Não havia estágio, qual estágio? Tínhamos só 12 jogadores no plantel, veja lá».

A recordação é de José Maria Vieira, atleta arsenalista nas décadas de 50 e 60, e reflete a transformação operada nas últimas duas décadas, com a estabilidade a surgir já em pleno século XXI.

Se o futebol português fosse analisado à luz da última década, de resto, contestar o estatuto de quarto grande do Sp. Braga seria um absurdo. No campeonato, os Guerreiros só não acabaram no top-5 em 2007/08 e 2013/14.

Foram, desde 2005, cinco vezes quarto classificados, uma vez terceiros e uma vez segundo. Têm estado constantemente nas decisões das taças e, sob os bons auspícios de Paulo Fonseca, são por estes dias o único clube português em quatro frentes: Liga (4º lugar), Taça de Portugal (meia final), Taça da Liga (meia final) e Liga Europa (oitavos de final).

Quarto grande? Nos resultados, sim; na dimensão de adeptos, não. O Sp. Braga é quinto neste item, atrás dos três do costume e do rival Vitória de Guimarães. Cerca de três mil espetadores por jogo separam os dois vizinhos minhotos: 13 mil vs. 10 mil.   

SPORTING DE BRAGA NAS ÚLTIMAS DEZ ÉPOCAS:

Campeonato:
2005/06: 4º lugar
2006/07: 4º lugar
2007/08: 7º lugar
2008/09: 5º lugar
2009/10: 2º lugar
2010/11: 4º lugar
2011/12: 3º lugar
2012/13: 4º lugar
2013/14: 9º lugar
2014/15: 4º lugar
2015/16: 4º classificado, a dez jornadas do fim

Taça Intertoto:
2007/08: vencedor

Liga Europa:
2010/11: finalista vencido

Taça de Portugal:
2014/15: finalista vencido

Taça da Liga:
2012/13: vencedor

Principais atletas transferidos:
Orlando Sá: para o FC Porto, 2009
Artur Moraes: para o Benfica, 2011
Sílvio: para o Atlético Madrid, 2011
Pizzi: para o Atlético Madrid, 2011
Ismaily: para o Shakhtar Donetsk, 2012
Beto: para o Sevilha, 2013
Leandro Salino: para o Olympiakos, 2013
Rúben Micael: para o Shijiazhuang, 2014
Éder: para o Swansea, 2015
Aderlan Santos: para o Valência, 2015