Conflituoso, truculento, maravilhoso, até explodir nas luvas de Helton, no derradeiro minuto: senhoras e senhores, madames e cavalheiros, bem vindos a um extraordinário dérbi da cidade do Porto!

Tudo decidido por um raio de luz de Yacine Brahimi, com um golo a meio do primeiro tempo, e por um penálti defendido pelo brasileiro de sorriso eterno. No último segundo! Martins Indi empurrou Douglas Abner, mas os 19 aninhos do avançado brasileiro tremeram no duelo com São Helton.

Emoção é isto!

FC Porto nas meias-finais da Taça de Portugal, sim, mas um Boavista a perder de queixo bem levantado e dignidade intacta. Qualquer semelhança entre esta pantera e a de domingo, doente e desdentada, é pura coincidência.

Dúvida no ar até ao derradeiro pontapé, com o Boavista a carregar – durante toda a segunda parte – e o FC Porto a sofrer com a coragem dos campeões, mormente após a expulsão do infeliz Imbula, aos 67 minutos.  

O DÉRBI VISTO AO MINUTO A PARTIR DO BESSA

Aos dragões valeu o milagre da simplificação, o rosário preferido de Rui Barros. Até ao intervalo, os bons sinais do dérbi anterior repetiram-se, com as ideias do treinador interino a privilegiarem uma máxima tantas vezes esquecida: a linha reta é a distância mais curta entre dois pontos.

O que se viu, de facto, de diferente? Dois ou três exemplos só. Neste pós-Lopetegui, os médios que jogam à frente de Danilo (Evandro e Herrera) não recuam para pegar no jogo; o central que assume a primeira fase de construção evita o passe lateralizado e tem ordem para lançar longo; o fosso entre o outrora solitário Aboubakar e o resto da equipa é mais reduzido, pela aproximação de um dos extremos e, pelo menos, um dos médios.

Está tudo resolvido? Naturalmente que não. Ser simples não significa ser bacoco, muito menos insensato. Significa, à partida, ser mais lúcido e genuíno na aproximação às raízes e ao fundamento do jogo: o golo.
 

O génio de Brahimi desbloqueou  dérbi

Os adeptos do FC Porto estão cansados de esperar pela excelência. Percebe-se isso. Seja como for, não há um antídoto para a cura imediata, após meses de angústia e quebra.

Os dragões estão no caminho do reencontro e o rumo pode encontrar obstáculos e originar recaídas. No Bessa, a equipa revelou qualidade no primeiro tempo e caráter no segundo. Mas quase não chegava.

O Boavista, insistimos, surpreendeu pela positiva. A introdução de Rúben Ribeiro (que bela estreia!) deu qualidade à equipa na posse de bola, elevando ao quadrado os níveis de confiança no processo ofensivo.

Os axadrezados justificaram, aliás, o prolongamento, pela forma como castigaram o FC Porto na segunda parte. Depois de Aboubakar mandar uma bomba à barra e Imbula ser expulso, só deu Boavista.

DESTAQUES DO JOGO: Helton e Rúben Ribeiro, senhores do dérbi

A competência do FC Porto desvaneceu-se, algures entre a sensatez e o artístico. Não havia que inventar, apenas sofrer e segurar a qualificação, num dérbi onde a beligerância não podia faltar (quantas vezes o árbitro teve de controlar os jogadores?).    

Intensidade, paixão, bola constantemente nos flancos e o golo a rondar com interesse e galanteio a baliza de Helton.

O melhor ficou para o fim.

Uchebo, em cima do minuto 90, rematou para a baliza deserta, mas já em desequilíbrio; logo depois, Douglas Abner atirou de penálti para o voo perfeito de Helton, dragão dos pés à cabeça rapada.

Isto é um dérbi, isto é um grande jogo de futebol.