Cinquenta anos depois, mais uma vez a 22 de maio, o Sp. Braga volta a fazer a festa no Estádio Nacional e a levantar o troféu da Taça de Portugal, depois de bater o FC Porto no desempate por grandes penalidades (4-2), depois de um emocionante empate 2-2, invertendo a sorte de há um ano, num jogo com muitas semelhanças com a final perdida diante do Sporting. Tal como na edição anterior, os minhotos chegaram a ter uma vantagem de dois golos, tirando máximo proveito das tremendas fragilidades da defesa de José Peseiro, mas depois permitiram que o adversário chegasse ao empate, em tempo de compensação, num final de jogo dramático. Mas, desta vez, os minhotos, com duas defesas de Marafona, foram mais felizes na lotaria das grandes penalidades e levam o segundo troféu para casa. Um jogo que teve de tudo um pouco. Um FC Porto, numa caricatura à temporada, a oferecer dois golos de bandeja, antes de ressuscitar, embalado pelos golos de André Silva, e voltar a morrer novamente às mãos de Marafona. Uma final que fica para a história…do Braga.

Confira a FICHA DO JOGO

Mas vamos ao princípio do jogo. O FC Porto procurou impor o seu estatuto logo após o primeiro apito de Artur Soares Dias, assumindo a iniciativa do jogo, empurrado pelo vento a favor, para a baliza de Marafona, diante de um Sp. Braga que entrou mais na expetativa, determinado a travar as primeiras investidas da equipa de José Peseiro. Logo após o pontapé de saída, Marafona atrapalhou-se, chutou contra André Silva e o FC Porto conquistou o primeiro canto. Estava dado o mote para os primeiros minutos desta final, com um FC Porto a assumir as despesas do jogo. Mas com Mauro e Luiz Carlos à frente dos centrais, o FC porto viu-se cedo obrigado a explorar as faixas laterais, onde encontrava mais espaço para conseguir profundidade, com destaque para as combinações entre Maxi e Varela sobre a direita que renderam uma série de cantos logo a abrir o jogo.

Mas com Varela e Brahimi demasiado aberto sobre as alas, André Silva tinha dificuldades em ganhar bolas na bem povoada área minhota. O Sp. Braga demorou a entrar no jogo, sentia dificuldades em sair a jogar, mas, aos poucos, foi testando a velocidade de saída de Rafa, Hassan e Rui Fonte, com rápidas investidas que provocavam o caos na área do FC Porto. Mas nada fazia prever o tremendo erro que permitiu à equipa de Paulo Fonseca abrir o marcador, logo aos 12 minutos. Num pontapé longo de Hassan, a bola, travada pelo vento, ganhou efeito e atrapalhou Helton e Chidozie. Rui Fonte levantou a bola, destacou-se na área e marcou de cabeça para as redes vazias. Estava justificada a aposta de Paulo Fonseca em Rui Fonte que não jogava desde fevereiro.

Um golo, por sinal o primeiro consentido pelo FC Porto na caminhada para o Jamor, que fez mossa na equipa de Peseiro que, nos minutos seguintes, demorou a arrefecer a cabeça, diante de um Sp. Braga cada vez mais confiante e seguro. Ao FC Porto faltava quem transportasse a bola, com Herrera e Sérgio Oliveira a insistirem nos passes longos de fácil resolução para a defesa do Sp. Braga que, de frente para a bola, ganhava quase sempre a melhor sobre os avançados do FC Porto. Até ao intervalo, pouco FC Porto, tirando um lance individual de Brahimi, sobre a esquerda, e um remate traiçoeiro de Maxi que apanhou Marafona desenquadrado. O Sp. Braga atacou pouco, mas a verdade é que cada vez que subia no terreno, a defesa do FC Porto tremia por todos os lados. Maxi e Layún demoravam a recuperar e Chidozie e Marcano não se entendiam nas compensações.

O intervalo chegou ao som de assobios dos adeptos do FC Porto e aplausos dos minhotos. José Peseiro procurou corrigir as evidentes insuficiências da sua defesa e do meio-campo de uma assentada, abdicando de Chidozie [exibição desastrada] para lançar Rúben Neves, recuando Danilo para o lado de Marcano. Tal como na primeira parte, o FC Porto voltou a entrar mais forte diante de um Sp. Braga ainda mais recolhido. Paulo Fonseca bem pedia à equipa para subir no terreno, mas o FC Porto carregava por todos os lados, explorando, mais uma vez, as faixas laterais, com Maxi e Layún muito ativos.  Neste período, o FC Porto chegou a ameaçar o empate, com destaque para um remate de Herrera que passou a rasar o poste e levou mesmo muitos adeptos a gritar golo. Mas quando parecia que o FC Porto estava perto do empate, a defesa voltou a comprometer e de que maneira. Mais uma descoordenação entre Helton e Marcano a permitir a Josué marcar à sua equipa. O médio não festejou, deixou-se cair no relvado, prostrado, enquanto os companheiros faziam a festa.

Fantasma minhoto volta a assombrar Jamor

Tal como na final de há um ano, frente ao Sporting, o Sp. Braga chegava aos 2-0, mas logo a seguir o FC Porto reduziu, por André Silva, numa recarga a um primeiro remate de Brahimi, ressuscitando os fantasmas dos minhotos. Ainda faltava meia-hora para o final e estava tudo em aberto. Agora valia tudo. As equipas libertavam-se das amarras táticas, abriam o coração e entregavam-se definitivamente ao jogo. O FC Porto, moralizado com o golo de André Silva, carregava com tudo o que tinha, mas abria espaços para os contra-ataques do Sp. Braga que teimava em expor as tremendas fragilidades da defesa portista. Helton, pressionado por Hassan, voltou a fazer parar os corações azuis-e-brancos com uma rosca na bola num jogo que estava frenético. Logo a seguir, André Silva, o melhor do FC Porto, quase voltou a marcar, com um remate travado por uma palmada de Marafona.

Mas entre as substituições e as lesões no Sp. Braga [Ricardo Ferreira saiu lesionado e Marafona esteve a receber assistência], o ritmo foi caindo e os minutos continuavam a correr para o final. José Peseiro lançou André André e Aboubakar, concluindo a metamorfose do FC Porto, para melhor [que diferença o meio-campo com Rúben Neves e André André]. Paulo Fonseca, que já tinha trocado um central e prescindido de Rui Fonte a seguir ao segundo golo, fez descansar Josué, um dos melhores do Sp. Braga, para apostar na velocidade de Pedro Santos.

O Sp. Braga continuava seguro na defesa, o FC Porto arriscava tudo, numa altura, já sobre o minuto noventa, em que as bancadas começavam a render-se ao resultado. Os adeptos minhotos faziam a festa e os portistas gritavam «joguem à bola» quando tudo mudou subitamente num pontapé de moinho de André Silva. O FC Porto chegava ao empate em tempo de compensação e, pelo segundo ano consecutivo, o Braga via esfumar-se uma vantagem de dois golos e estava mais uma vez obrigado a jogar um prolongamento.

O final do tempo regulamentar era assinalado com uma mudança total de cenário. A bancada vermelha, que instantes antes estava em festa, caía num silêncio profundo, enquanto a bancada azul, que já tinha dado sinais de resignação, levantava-se para um novo jogo. O prolongamento voltou a proporcionar um FC Porto mais autoritário, com Rúben Neves a fazer a equipa crescer, mas já não havia forças para muito mais. O Sp. Braga, mais limitado em termos físicos, limitava-se a tentar manter a bola afastada da área de Marafona. No último lance a partida, André Silva ficou a centímetros da glória, mas este jogo, tal como a edição anterior, estava mesmo destinado a ser decidido na lotaria das grandes penalidades.

Mas desta vez foram os guerreiros a fazer a festa, com Marafona a ganhar estatuto de herói com defesas aos remates de Herrera e Maxi Pereira. A festa segue dentro de momentos do Jamor a caminho do Minho.