Tanaka é provavelmente a antítese do jogador de futebol típico: não veio de um meio pobre nem nasceu com um talento demasiado evidente para além de um remate forte.
 
Nasceu em Tóquio e cresceu no seio de uma comunidade desenvolvida.
 
Frequentou o jardim de infância, a escola primária, a escola secundária e a universidade, onde cursou educação física. Como professor diplomado, orientou-se para ser jogador, um sonho que trazia desde menino, e trabalhou muito para desenvolver os aspetos menos fortes do futebol dele.
 
Tanaka não é, por isso, fruto do talento inato: é fruto de um exercício de desenvolvimento.

 

Tudo nele foi metodicamente calculado e exponenciado. Tudo menos o remate forte, lá está: isso sim, é inato. O japonês conta até que um dia, ainda no jardim de infância, alguém o viu rematar e lhe disse que ainda jogaria na primeira divisão japonesa.
 
Aquela profecia nunca lhe saiu da cabeça.
 
Mas há mais, claro. Na juventude, por exemplo, Tanaka dividiu o futebol com a prática também do basquetebol: uma partilha que se tornou quase obrigatória perante a tendência do japonês para crescer rapidamente.
 
Chegou muito cedo a medir 1,80 metros, aliás, e por isso, já na faculdade, mostrou-se preocupado perante os responsáveis. Com estes traçou um plano para travar o crescimento: Tanaka não queria perder velocidade ou flexibilidade.
 
Refira-se que a faculdade em causa foi a Universidade Juntendo: à semelhança do que acontece nos Estados Unidos, quando os talentos acabam o ensino secundário são recrutados por uma universidade, na antecâmara da profissionalização.
 
Tanaka recebeu, garante, convites de mais universidades, mas preferiu a Juntendo. Lá, e outra vez por causa do remate forte, ganhou a alcunha de Adriano, entre os colegas: uma comparação com o avançado brasileiro de remate forte que jogou no Inter e no Parma.
 
No fim do quarto ano de curso, em 2010, recebeu um convite para participar com outros colegas num campus de férias de um mês no Kashiwa Reysol.
 
Foi o início de tudo.
 
No final do campus o clube convidou Tanaka a assinar contrato de um ano e o avançado estreou-se no futebol profissional na segunda divisão japonesa. O Kashiwa subiu de divisão e Tanaka renovou constantemente durante cinco temporadas.


 

Durante esse tempo, garante o empresário Jonny Baez, houve vários clubes que se interessaram por Tanaka, mas o clube japonês nunca facilitou a saída.
 
Até que em 2014, quando o avançado já somava 27 anos, foi atingida uma plataforma de entendimento e o Kashiwa Reysol aceitou deixar Tanaka experimentar outros voos. O empresário de imediato apresentou o jogador a vários clubes, por exemplo ao Eitracht Frankfurt e ao Schalke 04, mas também ao Sporting.
 
Bruno de Carvalho respondeu que sim, que o queria: Tanaka foi escolha dele.
 
Nesse momento o Sporting garantiu um excelente rematador e uma ótima pessoa. A garantia é dada Vítor Silva, jogador que partilhou o balneário leonino com Tanaka durante cerca de mês e meio no início da época.
 
«O Tanaka é muito, muito simpático», disse ao Maisfutebol. « É extremamente simpático. Por isso foi muito bem recebido por toda a gente. Todos os jogadores têm um grande carinho por ele porque está sempre de bem com todos e com um sorriso nos lábios.»
 
Dizem que é da cultura dele.
 
«Mesmo sem falar português, e falando poucas palavras de inglês, adaptou-se muito bem. Entrava em todas as brincadeiras, mesmo sem perceber do que estávamos a falar ria-se de tudo, estava sempre bem disposto. Basta ver a forma como os colegas celebraram o golo dele em Braga: é verdade que foi no último minuto, mas também é porque existe um carinho muito grande no balneário pela figura do Tanaka.»
 
Há de resto um episódio revelador: Tanaka chegou a Lisboa no dia 28 de junho, e dois dias depois já estava em Alcochete a ver uma achega de touros. Feliz da vida.
 
 

I love Portugal !!! びびったーw

Um vídeo publicado por Junya Tanaka (@junyatanaka18) a


O japonês começou de imediato a aprender português e anda sempre com um dicionário atrás dele. Dizem que, como todos os japoneses, tem gestos gentis e é muito mente aberta: disponível para compreender todos os costumes nacionais e habituar-se a eles.
 
Por isso está feliz em Portugal.
 
Vive com a mulher e a filha que nasceu poucos dias antes de ele viajar para Portugal (atrasou a viagem para Lisboa, aliás, porque a filha estava quase a nascer), mas por vezes recebe a visita de familiares ou de três ou quatro amigos de infância que tem para a vida.
 
É em casa que mata saudades do Japão através da comida japonesa.
 
No relvado, de resto, ainda se comunica muito por gestos com os companheiros. Uma ou outra palavra em português não chegam para conseguir estabelecer uma conversa.

 
 

#JonathanSilva tentando falar con @junyatanaka18 kkkkkkkk ninguno se entiende nada hahahahahhahaga. 😂😂😂😂😂😂

Um vídeo publicado por Andre Carrillo (@18andrecarrillo) a


Mas nem por isso deixa de ser muito próximo de nomes como Carrillo, Jonathan Silva e Maurício. Muitas vezes, aliás, partilham a refeição.
 
De resto, todos lhe reconhecem uma excelente capacidade de remate, e em particular de bater livres.
 
«Não posso dizer que seja um grande jogador, porque o tempo que estive com ele foi escasso para tirar uma conclusão dessas, mas desde o início que notei que era um excelente finalizador, com um remate muito forte»
, explica Vítor.
 
«Eu também era batedor de livres e reparei que nesse aspeto é muito forte.»

 
Foi por isso aliás que, na última jogada do jogo em Braga, num livre à entrada da área, um jogador com o peso de Nani lhe passou a hipótese de bater aquela bola, e tornar-se o homem do jogo. Exatamente porque os jogadores lhe reconhecem esse talento, e aliás admiram a capacidade que tem de em cinco livres, dizem, fazer três golos.
 
Tanaka assumiu o livre, fez o golo e tornou-se a figura da jornada.
 
Num espécie de blog que mantém, o japonês explicou o que lhe passou pela cabeça naquele momento. «Era um momento muito aguardado por mim, podia por fim decidir um jogo. Estava 0-0 e tinha um livre à entrada da área»
, escreveu.
 
«O árbitro disse-me que era a última jogada do encontro e o Nani passou-me a possibilidade de bater a bola. Tinha o livre na minha cabeça, não estava cansado, estava confiante. Relaxei e marquei o livre.»

 
«Foi o meu primeiro golo na liga portuguesa. É por isto que o futebol é o melhor desporto do mundo: foi um golo inesquecível.»

 
Tanaka sorriu e Portugal conheceu por fim o Adriano japonês.
 
Muito prazer.