Ao fim de uma jornada de Campeonato do Mundo, há apenas uma certeza: quem escolheu jogar com três defesas-centrais deu-se bem. Será circunstancial, mas a verdade é que todas selecções que os utilizaram venceram os seus encontros (e o México já empatou com o Brasil na segunda ronda, o que pode ser considerado um bom resultado). Foi assim com a Argentina, apesar da mudança ao intervalo face à escassa produção atacante, e também com a Holanda, o México e a Costa Rica. Um fenómeno.
O 4x3x3, se a esse esquema juntarmos o
irmão
4x2x3x1, foi usado por 19 entre as 32 seleções finais, entre as quais Portugal. O losango têm crentes ainda no Chile, nomeadamente no selecionador Jorge Sampaoli, e o 4x4x2 é o esqueleto de cinco equipas, mas entre estas já não se enoontra a Inglaterra.
SISTEMAS COM TRÊS CENTRAIS
5x2x3
Argentinaccio, o equívoco de Sabella
Talvez o esquema mais criticado entre todos os que já surgiram no Brasil. Mais do que os três defesas-centrais, que até são prática comum no seu país, Alejandro Sabella caiu em desgraça nas redes sociais depois de ter apostado num onze com cinco jogadores que atuaram a central durante a última temporada: Campagnaro, Fernández, Garay, Rojo e Mascherano. Chamaram-lhe
Argentinaccio, fazendo o paralelismo com o antigo
catenaccio italiano, ultra-defensivo. Apesar de estar a vencer a Bósnia ao intervalo, depois de um autogolo logo nos minutos iniciais, o selecionador mudou o esquema, voltando a uma linha de quatro defensores, e optou por colocar num meio-campo pouco produtivo a qualidade de passe de Fernando Gago e, mais à frente, Higuaín. Com isso, encostou a Bósnia mais atrás e soltou Messi, que acabaria de por marcar o segundo golo.
4x2x1x3, a mudança ao intervalo:
HOLANDA
5x3x2
Três centrais e transições rápidas para explorar Robben e Van Persie
Uma
Laranja virada para o contra-ataque e para a vertigem criada por Van Persie e Robben, este numa posição bem mais interior do que no seu clube. Sem Strootman, lesionado, e com Sneijder menos fresco que em outras alturas, Louis van Gaal voltou aos três defesas-centrais, com os laterais com ordem para lançar longo. O «10» Sneijder tem também as costas bem protegidas e será responsável pela segunda vaga ofensiva.
COSTA RICA
5x4x1
Três centrais, quatro médios e um génio à solta
Uma equipa a viver da irreverência de um miúdo, Joel Campbell, e de uns lampejos de Bryan Ruiz, menos influente que noutros tempos, e Bolaños. Depois de uma qualificação quase brilhante, a Costa Rica chegou ao Mundial e já derrotou o quarto classificado de há quatro anos, numa verdadeira lição de intensidade a Tabárez e ao seu Uruguai.
MÉXICO
5x3x2
Segurar atrás, construir com Herrera e Guardado, e esperar que Peralta resolva
Com Rafa Márquez como patrão, os
Aztecas jogam também com três defesas. Preocupado com a fase de qualificação, demasiado fraca, Miguel Herrera reforçou o setor mais recuado da equipa, e entregou ao portista Herrera e a Guardado a construção do jogo ofensivo, que beneficia mais à frente da fantasia de Giovanni dos Santos e da eficácia de Peralta. Na segunda ronda, entretanto realizada, o selecionador ficou ainda com mais certezas de que estava no caminho certo, com o empate frente ao anfitrião Brasil.
O 4x4x2, EM LINHA E EM LOSANGO
URUGUAI
4x4x2
Será por culpa de Suárez?
4x4x2
Será por culpa de Suárez?
HONDURAS
4x4x2
O problema é a falta de talento
Há muito pouco a dizer sobre uma das seleções mais fracas do Mundial, sem grande talento entre os seus jogadores.
CHILE
4x4x2
O losango chileno, e a classe de Alexis
A
Roja partia para o Mundial com uma grande dúvida: Vidal. O médio da Juventus recuperou, mas saiu frustrado com a sua exibição, apesar da vitória frente à Austrália. Talvez a culpa seja da posição no losango chileno, o único losango na primeira jornada do Campeonato do Mundo, que lhe rouba espaço e também alguma influência. Mais à frente, Alexis Sánchez é o porto de abrigo da equipa, que ainda tem Valdivia para ajudar a criar espaços.
EQUADOR
4x4x2
A pensar como verdadeira equipa, até chegar a Caicedo
A maior figura do 4x4x2 é um dos Valencias, o que joga no Manchester United, mas a grande referência é o antigo avançado do Sporting Felipe Caicedo. Até lá, o Equador trabalha como conjunto, criando o que o ponta de lança tem de finalizar. Não correu bem frente à Suíça ao ex-leão, mas a equipa esteve perto de segurar um empate, não fosse o golo de Seferovic nos descontos.
ESTADOS UNIDOS
4x4x2
Mentalidade forte, Bradley no centro de tempo e Dempsey endiabrado
As referências são o pensador Michael Bradley e Dempsey, o seu principal desequilibrador. O segundo está em grande forma e escreveu o seu próprio nome na história, frente ao Gana, ao assinar o quinto golo mais rápido da história do Campeonato do Mundo. A equipa de Jürgen Klinsmann procura transições rápidas, tentando manter-se ao máximo equilibrada lá atrás. A lesão de Altidore retirará certamente poder ao conjunto norte-americano, sempre muito confiante e, agora, também com uma mentalidade germânica, de luta até ao último segundo. O Gana foi um bom teste. Os Estados Unidos marcaram aos 30 segundos, consentiram a reação dos africanos e ainda foram a tempo de recuperar a liderança.
O PREFERIDO 4X3X3 (E A VARIANTE 4X2X3X1)
BRASIL
4x2x3x1
O duplo-pivot de Scolari
4x2x3x1
O duplo-pivot de Scolari
A lesão de Hulk fez mudar o esquema para a segunda jornada - Luiz Felipe Scolari aproveitou para reforçar o meio-campo com Ramires, num 4x2x3x1 menos explosivo, com o ex-benfiquista na direita -, mas a verdade é que o grande candidato Brasil começou o Campeonato do Mundo assente no duplo-pivot Luís Gustavo-Paulinho. Hulk (apagado) e Oscar e Neymar, mais à frente, procuraram encontrar desequilíbrios, com Fred a ser a referência entre os centrais adversários. A exibição não foi brilhante, mas chegou para a vitória.
INGLATERRA
4x2x3x1
O kick and rush só com um ponta de lança
Muitos ingleses, como o retirado Paul Scholes, por exemplo, já afirmaram que não gostaram de ver Wayne Rooney afastado do cento do terreno, onde costuma ser bem mais perigoso. Essa é a maior crítica apontada ao 4x2x3x1 de Roy Hodgson, que colocou diversos problemas à Itália na jornada inaugural. A vertigem, criada por Sterling, Wellbeck e Sturridge, nunca foi completamente controlada pela
Squadra Azzurra, que teve de suar e muito para garantir os três pontos. A juventude e a irreverência são hoje a maior arma da seleção dos três leões. Gerrard e Henderson, por outro lado, mostraram fragilidades.
BÓSNIA
4x2x3x1
As âncoras Pjanic e Dzeko
A Bósnia de Susic constrói bem de trás, por Pjanic, uma das grandes figuras da Roma. Lá à frente há Dzeko, que geralmente garante golos. Com três homens bem móveis atrás do seu ponta de lança, a equipa europeia criou muitos problemas à Argentina, que tinha entrado em campo com cinco defesas e um meio-campo pouco enérgico e construtivo. Romero brilhou, e Sabella assustou-se, a ponto de mudar o esquema ao intervalo, mesmo em vantagem no marcador. A derrota terá sido, no entanto, algo injusta.
COLÔMBIA
4x2x3x1
Recuo de Pekerman: estratégia ou mudança forçada?
Os colombianos esperariam certamente ver dois homens na frente, mas a verdade é que as lesões têm dizimado o ataque colombiano. Sobram Téo Gutièrrez e Jackson, mas Pekerman parece não contar por aí além com o avançado do FC Porto. A irreverência de Cuadrado e a qualidade técnica de James, sobretudo, vão ter de chegar, para já, para alimentar o ataque. Sem jogar por aí além, os
Cafeteros dizimaram a Grécia, mas Costa do Marfim e Japão prometem problemas diferentes a ultrapassar.
AUSTRÁLIA
4x2x3x1
Missão: servir Tim Cahill
Os
Socceroos entraram muito bem no Mundial, apesar da derrota frente ao Chile. O pensamento principal dos australianos é encontrar Tim Cahill na área, e se for pelo ar melhor. O avançado possui um excelente jogo de cabeça e há que potenciá-lo.
SUÍÇA
4x2x3x1
Drmic, o ponteiro novo no relógio suíço
O avançado de ascendência croata é o dado novo na equipa de Hitzfeld. O jovem Drmic, de 21 anos, é um goleador e fez muito boa época no Nuremberga, na última Bundesliga. Atrás há um duplo-pivot consistente, formado pelos experientes Behrami e Inler, e nas alas o talento individual de Shaqiri e Stocker. A pensar o jogo está Xhaka, o «novo Schweinsteiger», na opinião do selecionador helvético.
GANA
4x2x3x1
O mais prometedor entre africanos
Bela exibição frente aos Estados Unidos, também marcada pela derrota. Terá sido a seleção africana que melhor jogou, assim que conseguiu ultrapassar o golo sofrido antes do fim do primeiro minuto. Assente também em dois médios defensivos, o Gana conta com cinco jogadores muito versáteis e velozes para o ataque. Há alguma ingenuidade defensiva, no entanto.
JAPÃO
4x2x3x1
A intensidade encaixa em qualquer sistema
Se pensarmos nas equipas asiáticas pensamos em velocidade, e mais velocidade. O ponto de equilíbrio do Japão é Honda, o seu melhor jogador. Kagawa tem andado longe da boa forma, e há muito tempo, desde que deixou Dortmund. Mais um esquema assente em duplo-pivot.
NIGÉRIA
4x2x3x1
Também em crise de talento
As
Super Águias atravessam uma crise de talentos. Há Obi Mikel, há Moses e Emenike, e pouco mais. O esquema assenta também em duplo-pivot, como a maior parte das seleções apuradas. Fraca exibição frente ao Irão.
IRÃO
4x2x3x1
Um esquema para disfarçar dificuldades
O próprio Carlos Queiroz já o admitiu, e não é para esperar grande coisa do seu Irão. Duplo-pivot, rigor e a expetativa de um rasgo ou outro na frente.
CROÁCIA
4x2x3x1
Um meio-campo bicéfalo
4x2x3x1
Um meio-campo bicéfalo
A Croácia partiu para o Campeonato do Mundo com Mandzukic castigado, mas será certamente referência ofensiva nos restantes jogos. No meio-campo, Niko Kovac apostou num duplo-pivot cerebral, com dois homens habituados a fazer passes para golos e decidir jogos com assistências. Modric e Rakitic recuaram para construir a partir de trás frente ao Brasil. Apesar da boa exibição (que não evitou a derrota), sentiu-se a falta de pelo menos um deles, talvez o segundo, mais à frente.
RÚSSIA
4x2x3x1
Chegou para Portugal, mas...
A Rússia obrigou Portugal a ir ao
play-off, e dominou o grupo de qualicação sem problemas de maior. Já sem Arshavin, a sua maior referência dos últimos anos, a equipa da Fabio Capello agora tem Kokorin como homem mais adiantado e Kerzhakov no banco. É quem Samedov, Shatov e Zhirkov devem alimentar e, na falta destes, ainda haverá Dzagoev e Denisov, todos jogadores de qualidade. No entanto, esta Rússia parece já ter passado o seu momento de maior fulgor.
COREIA DO SUL
4x2x3x1
Sempre a pensar em sair veloz
A Coreia do Sul, a exemplo do que acontece com o Japão, é uma equipa virada para as transições. O objetivo é chegar rápido à área contrária, onde está Park Chu-Young, antigo jogador do Arsenal. A filosofia não é muito diferente de outras equipas asiáticas do passado.
COSTA DO MARFIM
4x3x3
A força como motor de (quase) tudo
4x3x3
A força como motor de (quase) tudo
Dois médios-defensivos, e Yaya para fazer o duplo papel de tapar o seu meio-campo e partir com a bola controlada. É ele o poço de energia inesgotável dos
Elefantes, que depois contam também com a técnica de Kalou e Gervinho para encontrar Bony (ou Drogba, a partir de agora) na zona de finalização. Sem o goleador do Galatasaray, pareceu de menos frente ao Japão. E quando ele entrou, o jogo virou por completo.
ALEMANHA
4x3x3
Talento nas alas e Müller, o falso 9
A
Mannschaft coloca os seus dois candidatos a número 10,
Özil e Göetze,
nas alas, com estes a procurar depois zonas mais centrais. E também o seu ponta de lança, cirúrgico é verdade, não é muito de ficar à espera da bola, caindo também para os flancos. Müller não precisa de muitos remates para marcar, e é dos mais inteligentes do jogo a perceber que espaços deve ocupar. E isso dá golos e vitórias. Atrás, um triângulo de trabalho, formado por Lahm e Khedira, e Kroos, ligeiramente mais à frente. Forte candidata ao título, destroçou por completo Portugal na estreia.
FRANÇA
4x3x3
Um meio-campo de trabalho, e Benzema para finalizar
Sem Ribéry, caberá ao
novato Griezmann a responsabilidade de criar desequilíbrios - parece com vontade de agarrar a oportunidade - e a Benzema de aproveitá-los. O meio-campo estará seguro, com o poço de força que é Pogba e a verticalidade de Matuidi, o gémeo francês do brasileiro Ramires. Cabaye, no meio, faz o equilíbrio. Não será tão forte como se tivesse o avançado do Bayern, mas não deixa de ser pretendente a chegar longe.
BÉLGICA
4x3x3
Os «Diabos Vermelhos» não se esgotam em Hazard
É apontada como grande candidata a
outsider (ou
underdog, se preferirem) neste Mundial. A seleção belga parte para a fase final com juventude, talento e irreverência suficientes para fazer boa figura. A sua defesa é formada por quatro centrais de origem, e lado a lado, à frente da defesa, estão a força de Dembélé e o jogo cerebral de Witsel. Chadli começou como titular, mas a derrota parcial com a Nigéria ao intervalo pode significar a perda do estatuto por parte do jogador do Tottenham. De Bruyne passou então para o meio, e Mertens entrou para a direita (marcou o segundo golo). Mesmo com Hazard em versão mais cinzenta, os «Diabos Vermelhos» acabaram por vencer.
PORTUGAL
4x3x3
O esquema e os nomes de sempre
A Seleção joga assim há muito tempo. E os nomes foram exatamente os mesmos que Paulo Bento utilizou há dois anos, na meia-final do Europeu frente à Espanha. Não houve evolução. E, pior, Portugal parece muito desgastado fisicamente e psicologicamente, e sem outras soluções de qualidade nos 23. A goleada sofrida perante à Alemanha veio expor todas as fragilidades de uma equipa que nunca pareceu equilibrada, e que perdeu ainda Pepe por agressão, Rui Patrício, Fábio Coentrão e Hugo Almeida, todos por lesão.
ESPANHA
4x3x3
Mudança de filosofia à vista?
Falar em fim de ciclo parece exagerado, mas a saída provável de Xavi
do onze
(ainda não confirmada por Del Bosque) d
epois da goleada sofrida perante a Holanda significará certamente uma mudança de filosofia, ele que é a alma do tiki-taka. Resta saber se o médio do Barça poderá ser considerado réu por tudo o que se passou de mau frente à seleção laranja. Nesse jogo de estreia no Campeonato do Mundo, o campeão mundial e europeu não foi capaz de pôr em ação uma das suas armas de sempre, a pressão alta, deixando-se ultrapassar em transições rápidas e em momentos de desequilíbrio.
OS 4X5X1 DE TRAÇÃO ATRÁS
ITÁLIA
4x5x1 ou 4x1x4x1
Pirlo metros mais à frente
4x5x1 ou 4x1x4x1
Pirlo metros mais à frente
Na Juventus, tudo começa de mais atrás, da posição 6. Com Pirlo. Mas
na
Squadra Azzurra
o médio veterano
constrói mais à frente, porque há De Rossi. E ao lado ainda beneficia da inteligência de Verratti e do rigor de Marchisio. Candreva, além de Pirlo, é o grande desequilibrador, com intensidade e cruzamentos muito perigosos. Depois, há Balotelli, e a fé em que o talento se sobreponha quase sempre à personalidade.
CAMARÕES
4x5x1 ou 4x1x4x1
4x5x1 ou 4x1x4x1
O que fazer, agora, sem Etoo?
Não será grande candidato aos oitavos de final, agora que também perdeu Etoo, apesar de ainda ter Aboubakar e Webó, e saiu derrotado do primeiro jogo frente ao México. Os «Leões Indomáveis» assentam em dois médios de boa qualidade, como são Mbia e Song, mas depois falta-lhes mais qualidade para serem verdadeiramente perigosos no ataque.
ARGÉLIA
4x5x1 ou 4x1x4x1
Qualidade made in França
Uma boa equipa, formada à base de muitos jogadores criados e formados em França. Os talentosos Ghoulam e Bentaleb foram dos últimos a chegar, acrescentando certamente qualidade, como se viu na primeira parte do encontro desta terça-feira frente à Bélgica. O sistema apoia-se muito no rigor defensivo e em transições rápidas, o que beneficia a aposta em Soudani (ex-Vitória Guimarães) em vez de Ghilas (FC Porto) ou Slimani (Sporting). Atrás, reside grande parte do problema, por culpa da ingenuidade e falta de experiência.
GRÉCIA
4x5x1 ou 4x1x4x1
Menos rigor defensivo, apesar do meio-campo reforçado
Fernando Santos não mexeu muito na alma da Grécia de Rehhaggel, que hoje continua continua a ser defensiva, mas bem mais permeável do que em anos anteriores. Algo que já tinha ficado evidente, apesar do 0-0 no jogo particular com Portugal. A prova da ideia é a forma como uma Colômbia desfalcada e nem por aí a jogar muito bem venceu o jogo com tranquilidade. No ataque, a colocação de Samaras à esquerda e a aposta em Gekas também parecem tiros ao lado do treinador português, num momento em que os oitavos de final parecem a uma distância enorme. Katsouranis também subiu para o meio-campo depois de toda a época como central. E Manolas continua a manifestar dificuldades a sair com a bola controlada.