Lisboa, 28 de setembro de 2014. Meo Arena, em Lisboa. Uma meia-lua cheia a rodear a mesa onde se ia jogar o título europeu por equipas. Duas horas e meia depois, o sonho português ficou concretizado. Portugal tornou-se o novo campeão da Europa por equipas.

O sonho concretizou-se. Essa concretização começou a ser sonhada (por todos os que deram conta) de que Portugal conseguiu receber um Campeonato da Europa de ténis de mesa. Numa altura em que tem a melhor geração de sempre na modalidade. E as duas situações são, obviamente, indissociáveis.

A geração de ouro do ténis de mesa português ganhou o título continental na sua casa atingindo o melhor resultado de sempre para a modalidade em Portugal – melhor resultado que já tinha obtido também quando se qualificou para a final deste domingo. Pela frente esteve a toda-poderosa Alemanha; a maior potência europeia, com seis títulos europeus no currículo que trouxe até Lisboa depois de tê-los ganho nas seis edições anteriores dos campeonatos.

Foi a cereja no topo do bolo. Ganhar a final e ganhá-la a Alemanha. Essa Alemanha que tinha calhado a Portugal na fase de grupos e que ganhou nesse primeiro confronto. Ainda sem o nº1 europeu, Dimitrij Ovtcharov, que no jogo decisivo não chegou para travar o jogo lusitano.

Nesta final, a seleção portuguesa libertou-se finalmente em pleno das amarras que a pressão de jogar em casa várias vezes intrometeu no jogo da segunda equipa europeia no ranking. Mas a constância portuguesa entre os vários desempenhos individuais que se foram compensando ao longo da prova deu frutos com a subida exibicional dos jogadores nesta final.



Se João Monteiro brilhou quando carimbou o apuramento no grupo da morte, Marcos Freitas manteve ao logo do campeonato o respeito que a seleção nacional exigia. E Tiago Apolónia explodiu finalmente na hora das decisões ao vencer o nº1 europeu. No encontro que deu o título, Marcos Freitas fez o que ainda faltava acontecer: derrotar Timo Boll.

«Estivemos num grupo considerado o da morte e estivemos praticamente fora da competição. O João [Monteiro] esteve perfeito e conseguiu garantir o apuramento. Depois, passo a passo, contrariámos os adversários. Amanhã, a Alemanha voltará a ser favorita», disse o selecionador nacional num retrato fiel do que é o atual ténis de mesa europeu.

Mas Pedro Rufino lembrou também que «o pormenor fez toda a diferença» e que os portugueses «merecem ser os atuais campeões da Europa». Nesta final onde era preciso errar menos do que os melhores para ser melhor do que eles foi isso o que aconteceu.



Tiago Apolónia rejeitou ideias de vingança, mas declarou antes «um sentimento muito especial». «A Alemanha é uma grande potência a nível europeu e mundial. Vivo há sete anos lá e perdemos muitas vezes com eles», referiu o jogador do Saarbrüicken.

Sem pensar nos alemães, os jogadores nacionais quiseram celebrar com o seu público o que antes nunca tinha sido visto quer em Portugal ou sequer por portugueses. «O que interessa é que fomos campeões da Europa e ainda por cima frente ao nosso público», afirmou João Monteiro. Marcos Freitas ganhou o último ponto da final e explicou isso mesmo: «O fim foi muito rápido, nem me lembro do ponto. Sei que festejámos todos juntos.»



As declarações da maior alegria, manifestadas à maneira de cada não foram só feitas pelos mais ligados à modalidade. Os outros melhores dos outros desportos também não quiseram deixar de relevar o feito, como Cristiano Ronaldo.




O presidente da Federação Portuguesa de Ténis de Mesa fez o último resumo desta página de ouro da modalidade em Portugal: «É de sonho. O nível dos mesatenistas de Portugual permitia sonhar com um momento destes, mas só num dos meus melhores sonhos é que conseguiria ver Portugual organizar um Europeu e acabar desta maneira.» «Foi a história perfeita, parece um conto de fadas», disse Pedro Moura.

Para o registo histórico ficam também os números da final. Portugal ganhou 3-1 à Alemanha. Marcos Freitas venceu Steffen Megnel por 3-0 (11-8, 11-8 e 11-8); Ttimo Boll ganhou a João Monteiro por 3-0 (11-7, 11-1 e 11-8); Tiago Apolónia ganhou a Dimitrij Ovtcharov por 3-1 (11-7, 11-2, 11-13 e 11-9); e Marcos Freitas venceu o nº2 europeu, Timo Boll, por 3-1 (12-10, 5-11, 11-6 e 11-9).