O fim da supensão por doping de Maria Sharapova foi marcado para 26 de abril e é exatamente nesse dia que ela voltará a jogar. Para isso, a organização do torneio de Estugarda deu-lhe um «wild card» e marcou o seu encontro da primeira ronda para esta quarta-feira. É atenção garantida, mas o processo está longe de ser pacífico.

Suspensa, Sharapova estava impedida de entrar sequer no recinto do torneio de Estugarda para treinar. Por isso, alugou um court na cidade e é lá que tem treinado por estes dias, quase anónima.

Irá aparecer em público para defrontar a italiana Roberta Vinci a partir do final da tarde (nunca antes das 17h30). Vinci foi precisamente uma das muitas vozes de tenistas a criticar que o regresso da russa tenha sido «facilitado» por convites para vários torneios.

Sharapova, 30 anos acabados de fazer, é provavelmente a tenista mais mediática de sempre, aquela que ganhou mais dinheiro ao longo da carreira. Um fenómeno desde que surgiu no circuito, ainda adolescente. Chegou a número 1 do mundo em 2005, voltou a liderar o ranking em duas ocasiões e ganhou cinco Grand Slams.

O caso de doping abalou a sua imagem, mas não ao ponto, por exemplo, de os patrocinadores a abandonarem, como aconteceu noutros casos. Alguns continuaram a apoiá-la, outros suspenderam a ligação por algum tempo.

A notícia chegou em março de 2016, pela voz da própria Sharapova. Foi ela quem anunciou que tinha acusado positivo no Open da Austrália por meldonium, uma substância usada essencialmente na Europa do Leste que só passou a ser proibida no início desse ano e é considerada pelas autoridades antidopagem um modulador, que pode alterar processos metabólicos.  

A russa disse que tomava a substância há muito tempo por motivos médicos e alegou desconhecer que tinha passado a ser proibida. Foi suspensa por dois anos, sanção que seria reduzida depois para 15 meses.

O castigo implicou que Sharapova visse o seu ranking suspenso, pelo que não teria acesso a torneios WTA, teria de começar por baixo. Mas vários torneios abriram-lhe as portas. Além de Estugarda, recebeu «wild cards» para os torneios de Madrid e Roma. E ainda está em aberto o que acontecerá com Roland Garros. Ainda não há uma posição formal da organização, mas a Federação francesa já veio questionar que a russa possa a vir ser convidada, e anunciar uma decisão para o início de maio. Nesta altura, os cenários mais insistentes apontam para que receba um «wild card» para a qualificação.

É isso que contestam as rivais, o facto de se estar a dar a possibilidade a Sharapova de voltar por cima. «Não concordo com o «wildcard» que lhe deram para aqui, para Roma e para outros torneios», disse Roberta Vinci: «Ela cometeu erros, mas pagou e acho que pode voltar a jogar. Mas não com wildcards.»

A polaca Agnieszka Radwanska, que pode enfrentar Sharapova na segunda ronda de Estugarda se ambas se qualificarem, insiste na mesma ideia. E defende que, pelo menos em relação aos Grand Slams, deve mesmo ser traçada uma linha: «Os wild cards deviam aplicar-se a jogadores que cairam no ranking por lesão, doença ou outro problema assim. Não para suspensões por doping. A Maria devia recuperar de outra forma, começando com eventos mais pequenos. Até agora não foi convidada para Paris nem Londres, e era assim que devia ficar.»

Sharapova tem-se mantido discreta. «Sei que as adversárias me respeitam, sei que nem toda a gente gosta de mim», disse.

A WTA saiu em defesa da russa, dizendo que não está a ser feito mais do que noutros desportos: quando um atleta regressa de suspensão, é normalmente reintegrado. «se olharem para outros campeonatos, os atletas voltam às equipas e recomeçam a jogar. Ela começa da base. Vai afetar a posição dela em grandes torneios e vai continuar a ser penalizada por uns tempos», afirmou Steve Simon, diretor da WTA.

Certo é que Sharapova virará holofotes para o circuito feminino. Num regresso com um timing notável, agora que Serena Williams, a número 1 do mundo, anunciou que está grávida e vai parar por um ano.