«Parece que ainda estou a sonhar, que ainda não acordei... É mesmo incrível. Contra a Alemanha... E em casa...» É assim que Tiago Apolónia nos conta como se sente no dia seguinte à vitória de Portugal no Campeonato da Europa por equipas de ténis de mesa.

Foi no domingo, aqui mesmo, em Portugal, que a seleção nacional ganhou 3-1 à Alemanha. Mesmo a jogar fora de casa, a equipa alemã seria sempre a favorita ao ouro; desde o primeiro até ao último dia dos campeonatos – o que incluiria uma final em que defrontassem os anfitriões portugueses.

Os germânicos são a maior potência europeia do ténis de mesa. Chegaram a Lisboa detendo os seis anteriores títulos europeus por equipas. Nestes campeonatos, cruzaram-se com a equipa portuguesa logo na fase de grupos e ganharam o primeiro embate. E foram passando eliminatórias sem grandes dificuldades, até à final mais esperada: com Portugal.

A seleção nacional também cumpriu o seu primeiro objetivo assumido. Para a concretização do sonho português de ganhar o título faltava vencer a favorita com os seus nº1 e nº2 europeus, Dimitrij Ovtcharov e Timo Boll, respetivamente, os 4º e 9º do mundo. «Tudo é possível no desporto», lembra-nos Tiago Apolónia.



O apuramento difícil para os quartos de final, a passagem às meias-finais e o (logo histórico) apuramento para a final foram feitos num crescendo exibicional suportado por pontos muito altos dos atletas nacionais, divididos com Marcos Freitas e João Monteiro nos vários encontros (a partir do terceiro de seis) sempre de caráter decisivo.

«É um dos nossos pontos fortes. Todos nós temos possibilidades de ganhar a um atleta de nível mundial», diz Tiago Apolónia ao Maisfutebol reconhecendo que «o meio do campeonato não correu tão bem» quanto ao seu desempenho em particular, com «erros incríveis, em match points» que não conseguiu concretizar.

«Mas é como eu tinha dito antes: se perdesse com os outros por 3-0 e ganhasse ao Ovtcharov, eu assinava por baixo», admite Tiago Apolónia confirmando a particular importância deste jogo da final. E mais. Contando que foi também aí, quando o triunfo sobre o alemão mais cotado começou a concretizar-se, que o sonho passou a ser vivido como alcançável: «Depois de eu ter ganho o meu jogo ao Ovtcharov e fazermos 2-1 [no encontro], não só eu, como todos, e o público também, toda a gente sentiu que era mesmo possível!»



O resto do resultado é conhecido: Marcos Freitas venceu Timo Boll e o público português aplaudiu in loco o primeiro título europeu da sua seleção masculina de ténis de mesa. Mas nunca foi fácil. Como já se disse, Portugal suou bastante. E o factor casa tem um caráter duplo: o de motivar e o de pressionar. A equipa portuguesa foi sentido menos pressão quanto mais longe foi chegando até se soltar em pleno na final.

Tiago Apolónia confirma a análise: «O facto de jogarmos em casa é bom quando as coisas começam a correr bem. E motiva mais. Mas quando as coisas ainda não estão na perfeição e ainda há os problemas criados pelos adversários, é claro que sentimos ainda mais a responsabilidade. «Torna-se mais complicado», reconhece o jogador de 28 anos.

«Na final, contra o favorito, estamos a começar por baixo», explica Tiago Apolónia destacando que, aí, «o público é determinante» para o lado da motivação. «Jogámos mais soltos» e o entusiasmo nas bancadas com a exibição da equipa foram-se alimentando como numa «espiral». Tiago Apolónia ganhou 3-1 ao nº1 da Europa tendo chegado aos 2-0 nos parciais, com um segundo set arrasador. E divide os louros desse triunfo por 11-2 sobre Ovtcharov: «Foi dos melhores sets que fiz, de sempre. E devo-o ao público pelo que fez depois de eu ganhar o primeiro set.»



O jogador português do Saarbrücken reconhece que «há um sentimento especial por ser contra a Alemanha». «É um país onde estou há vários anos e que me ajudou muito no ténis de mesa», explica Tiago Apolónia. Mas todo o resto «é unicamente uma alegria enorme: a de ser campeão da Europa por equipas.»

«Foi espetacular. Era com isto que todos sonhávamos, dar esta alegria, à família, aos amigos, a todos os que estiveram presentes no pavilhão... Era isto mesmo que queríamos dar: esta alegria imensa...» confessa Tiago Apolónia como quem resume o sonho concretizado que revelou estar ainda a viver.

Ao acordarem para a sua nova realidade, os novos campeões europeus por equipas pretendem «continuar a trabalhar para novas metas». «Agora que somos campeões da Europa temos de pensar a nível mundial, temos de tentar ganhar aos melhores no Mundial e nos Jogos Olímpicos», assume Tiago Apolónia, com uma motivação guiada pelos acontecimentos da véspera: «A Alemanha continua a ser a favorita a nível europeu. E nós temos de tentar evoluir...»