Depois de uma excelente temporada em Portugal, ao serviço do Rio Ave, que o consagrou como um dos melhores laterais esquerdos do futebol português e o levou à seleção nacional, Tiago Pinto aproveitou o final do contrato para emigrar.
 
Um bocadinho surpreendentemente assinou pelo Osmanilspor, que tinha acabado de subir à liga turca, admitindo que foi uma excelente proposta para ele. Quatro meses depois garante ao Maisfutebol que não está arrependido: nem um bocadinho.
 
Pelo caminho sublinha que não desiste de voltar à seleção nacional, visita uma carreira muitas vezes colada à sombra do pai João Pinto e abre a alma ao Maisfutebol. Tudo a começar por um golo, um grande golo, aliás, mais um do lateral esquerdo.

 

Publicado por Carla Baía em Sexta-feira, 6 de Novembro de 2015


Então agora é o lateral dos golos bonitos?
(risos) Não sou um lateral de muitos golos, mas os dois últimos que fiz foram de facto dois golos bonitos. Os meus colegas, especialmente os do Rio Ave, já brincam com isso.
 
O que lhe dizem?
São aquelas brincadeiras normais. Temos um grupo no Facebook por onde falamos e vieram todos dar-me os parabéns. O Vilas-Boas até me disse que muito raramente faço golos, mas quando os faço são sempre espetaculares...
 
Já agora, entre este golo e o outro ao Belenenses consegue eleger o melhor?
E difícil... Este foi importante porque estou numa fase inicial, quero mostrar o meu valor e quero ganhar confiança. O outro, ao Belenenses, foi quase uma consagração. Foi na parte final do campeonato e foi uma espécie de prémio pela boa temporada que realizei.


 
Sente que está no melhor momento da sua carreira?
Penso que sim. O ano passado fiz a minha melhor época, fui chamado à seleção nacional, tive grande exposição e isso foi uma prova que dei a todas as pessoas. Neste momento sinto que não tenho de mostrar nada a ninguém. Ao contrário de épocas anteriores, não sinto a pressão em relação ao meu valor, esse foi mostrado em Portugal.
 
Ainda sente o peso de ser filho de um dos melhores jogadores da história do futebol português?

Não. Sinceramente nunca senti esse peso. Acho que as pessoas é que tentaram colocar esse peso em cima de mim, mas honestamente nunca o senti.
 
Que pessoas?
As outras pessoas todas, no fundo. Elas é que pensavam que eu tinha esse peso ou que devia ter esse peso. Mas a verdade é que nunca senti necessidade de mostrar mais do que mostrava por ser filho do João Pinto.
 
Muitas vezes surgiam comparações, calculo...
Sim, mas é normal. Sendo filho de uma pessoa tão mediática e tão importante para o futebol português, é normal que haja comparações. Até pelo aspeto físico, porque somos muito parecidos. Mas as posições são completamente diferentes, não há comparação...
 
Isso é realmente curioso: como é que o filho de um avançado se torna lateral?
Comecei como extremo esquerdo, fiz mais ou menos metade da formação como extremo, depois a adaptação a lateral foi natural, como acontece com muitos jogadores. Tive vários anos ainda de formação de lateral e sinto que este é o meu lugar. É ali que me sinto bem.


 
Agora a pergunta ao contrário: o que sente que ganhou enquanto jogador em ser filho do João Pinto?
Acima de tudo ganhei experiência do futebol enquanto acompanhava o meu pai. Enquanto jogador, não sinto que me tenha ajudado. Antes pelo contrário: acho que me prejudicou em alguns momentos. Não por mim, claro, que tenho muito orgulho no meu pai, mas por algumas pessoas que não souberam distinguir as coisas.
 
O João Pinto foi uma fonte de experiências?
Sem dúvida. Vivi coisas que muitas crianças gostavam de poder vivenciar mas não tiveram essa hipótese, e eu pude vivê-las. Lembro-me, por exemplo, do Euro 2000, na Holanda. Sempre senti muito o futebol e através do meu pai pude ter a oportunidade de viver muitas experiências verdadeiramente incríveis. Sinto que tive muita sorte.
 
Quando fiz que foi prejudicado em alguns momentos fala do quê?
Lá está, tem a ver com o facto de as pessoas querem comparar-nos. Mas não quero falar muito disso para as pessoas não pensarem que estou a fazê-lo como desculpa. Sinto que fiz uma bonita carreira e se não o fiz mais foi porque não tive as oportunidades que outros tiveram, mas ainda vou a tempo e tenho a ambição de chegar a um clube grande.
 
O que traz do seu pai no jogador que é?
Os seus conselhos e a maturidade que me transmitiu. O meu pai foi capitão em várias equipas, sei o que ele passou em momento difíceis, sei o que ele fez nessas alturas em prol da equipa, por isso ganhei experiência e maturidade por viver as coisas ao lado dele.


 
Voltando um bocadinho atrás, acha que o Fernando Santos viu este último golo?
Não sei, mas acho que não é um por causa de um golo que eu voltarei à seleção.
 
Então é por o quê?
Se voltar é pelo que faço aqui no campeonato turco. Comecei agora a jogar e claro que é um sonho que tenho, regressar à seleção nacional. Embora saiba que é difícil.
 
Ainda se lembra das sensações que se tem por estar naquele grupo dos melhores?
Perfeitamente. Lembro-me do que senti quando soube que fui convocado, foi um sonho concretizado. Gostava de ter podido jogar, não foi possível, mas o sonho não acabou. Gostava de voltar a estar lá e sei que para isso tenho que mostrar que posso estar lá.
 
Sente que nesse sentido assinar pelo Osmanlispor pode ter sido um passo atrás?
Quando apareceu a proposta nem pensei muito nisso, sinceramente. É um projeto muito ambicioso e as condições que me ofereceram são muito boas. Acredito que o clube vai crescer nos próximos anos e eu quero crescer junto com o clube.
 
É um clube que subiu agora à liga turca, onde quer chegar?
Este ano quer cimentar a posição na liga, mas a partir do próximo ano quer tornar-se um dos maiores clubes, até porque Ankara é a capital da Turquia e não tem nenhum grande. O Osmanlispor tem boas condições, bons jogadores e eu quero fazer parte deste projeto.


 
Um desses jogadores é o Artur Moraes...
Quando recebi a proposta do Osmanslispor vi que o Artur Moraes já cá estava e isso foi um apoio importante. É uma prova de ambição contratar um guarda-redes que estava no Benfica, com uma carreira muito importante. Mas não é só o Artur, há mais jogadores aqui com muito valor, internacionais, que já mostraram valor noutros países...
 
Portanto está satisfeito com a decisão que tomou?
Completamente. Continuo motivado e empolgado em construir aqui uma boa imagem. Assinei por três anos e espero para já cumprir esses três anos.
 
Neste momento não pensa num grande campeonato?
Não. É como disse, aceitei o projeto do clube e estou concentrado em ajudar o clube. Sempre tive o sonho de jogar em Inglaterra e mantenho esse sonho, claro, mas não deixo que isso neste momento influencie a decisão que tomei.
 
A adaptação à Turquia foi fácil?
Está a correr muito bem, sim. O clube tem boas condições, apesar de ser pequeno tem muito melhores condições do que a maioria dos clubes portugueses, a cidade também dá-me tudo o que preciso, tenho os meus filhos numa escola internacional, estou a viver num sítio muito bom, enfim, não me posso queixar de nada. Tenho tudo para poder render.


 
  Passou pelo Benfica e pelo Sporting na formação: o coração bate por algum clube em especial?
Não, honestamente não. Um bocado por influência do meu pai, sempre fui do clube em que ele jogava. Nunca tive um clube de coração desde que nascei. Sempre vi o futebol de uma forma muito profissional, primeiro através do meu pai e depois quando comecei a minha carreira dedicando-me inteiramente ao clube que representava.


Mas quando olha para os resultados da liga portuguesa, qual o primeiro clube que procura?
O Rio Ave, sempre o Rio Ave. Tenho lá muitos amigos, conheço as pessoas e é sempre o Rio Ave que procuro. Acompanho todas as notícias sobre o clube e torço por ele.
 
Tendo vivido sempre mergulhado no futebol, pensou em fazer outra coisa na vida?
Sinceramente não, nunca pensei noutra coisa. Muitas vezes penso no que vou fazer quando terminar a minha carreira, é uma das minhas preocupações, mas sinto que vou continuar ligado ao futebol. É isto que gosto e sempre gostei de fazer. Não consigo arranjar uma profissão que me provoque o mesmo gosto ou que sinta que me vai dar o prazer que tenho a jogar futebol, ou a estar envolvido no futebol.
 
Aos 27 anos até onde chegam os seus sonhos?
Se calhar gosto mais de jogar futebol agora do que gostava antes. Por isso a minha motivação é a mesma de sempre: tenho todas as condições para chegar a um clube grande e para voltar à seleção. É um sonho legítimo e não vou deixar que ninguém o mate.
 
Já agora, qual foi o melhor momento da sua carreira?
O mais feliz foi a chamada à seleção nacional. Foi uma semana mágica para mim.
 
E o pior?
O pior momento acho que foi quando não renovei com o Sporting, antes de assinar pelo Sp. Braga. Etava numa situação em que podia ficar três anos sem jogar, por causa do regulamento das compensações por formação. O Sporting estava a pedir muito pelo meu passe, não havia nenhum clube que pagasse aquilo e podia ter de ficar sem jogar. Tinha 20 anos e para um miúdo de 20 anos passar o que passei foi muito difícil.