Timor Leste. O país dizia-lhe tanto e tão pouco como aos restantes portugueses. José Luís, uma das glórias do Benfica dos anos 80, seguiu ao longe a luta dos timorenses pela independência, mas não tinha nenhum vínculo especial à ilha, nem pensava que um dia viria a ser o primeiro técnico da seleção timorense. Ao Maisfutebol, José Luís recorda esse desafio que lhe lançaram para preparar a equipa nacional de Timor Leste para a Tiger Cup, torneio que reúne 10 seleções do sudeste asiático, e que foi a primeira competição em que a nova seleção participou.

«Acompanhei pela televisão a situação de Timor Leste até à independência, as manifestações em Portugal, mas nunca imaginei que viria a ser selecionador. Foi uma enorme surpresa. Não tinha nenhuma ligação ao país, mas foi com muito orgulho que recebi e aceitei o convite», contou. «Estava sem clube na altura e pareceu-me um desafio interessante».

A federação estava a nascer, e o país também, por isso José Luís sabia que não trabalharia da mesma forma que em Portugal, mas estava otimista. «Eu já ia preparado. Sempre que vou para um país diferente procuro encarar positivamente todas as situações. O futebol é uma linguagem universal, mas claro que o que encontrei era muito diferente da Europa e mesmo do resto da Ásia».

As dificuldades e a paixão pelo Benfica

Rapidamente José Luís percebeu que a tarefa não seria fácil. Sem uma liga profissional no país, os jogadores tinham quase todos outra ocupação. A disponibilidade era muito menor do que se fossem profissionais e a experiência também. «Havia um jogador ou outro que tinha jogado em Portugal, mas os restantes não estavam preparados para uma competição internacional. Não tinham metodologia de treino, não tinham cuidados de nutrição e demoraram muito a memorizar o que eu pretendia em campo».

«Deparei-me com dificuldades de trabalho, mas foram compensadas pela paixão daquele povo pelo futebol e por Portugal. É um país e um povo muito simpático. Gostavam de fazer perguntas sobre Portugal e sobre o futebol português», recorda. E havia um interesse em comum: «A maior parte dos timorenses tem uma grande paixão pelo Benfica e lembravam-se de eu jogar. Não só por isso -mas também- fui muito bem recebido», explicou.



Os resultados não foram bons, mas José Luís não se arrepende de ter aceite o desafio. «Talvez hoje fosse mais fácil porque há mais timorenses a jogar em Portugal e fora. Não estive lá muito tempo, mas sinto que há algo na metodologia do futebol timorense do que eu deixei. Foi uma grande experiência profissional e pessoal», garante.

E que futuro tem a seleção timorense? «Pode evoluir muito e o povo merece. Mas é preciso criar infraestruturas. Vi jogadores evoluídos em termos técnicos, mas com dificuldades físicas. É preciso mudar isso. Em Timor há muitos jogos de rua e é aí que se fazem os jogadores, não como aqueles que parecem feitos por computador, mas precisam de formação e acompanhamento», frisa.

«Timor pode ter uma boa seleção, mas é preciso que as pessoas queiram».