Tó Madeira era o avançado perfeito. Exímio a finalizar, perfeito no primeiro toque, brilhante no jogo de cabeça, influente como poucos. A juntar a isto, era ainda um jovem e o contrato com o Gouveia, da III Divisão, não era de sonho. Por isso, Tó Madeira vestia com o mesmo agrado a camisola de qualquer um dos três grandes, do Real Madrid ou até de um clube da II Liga. De facto, Tó Madeira era o sonho de qualquer treinador. Só tinha um problema: não existia.

Qualquer pessoa que tenha jogado o Championship Manager (CM) no início do século XXI conhece os feitos de Tó Madeira, para quem menos de 30 golos numa época era pouco. O jogador era compra obrigatória logo no arranque e garantia de sucesso.

De Tsigalko a Adu: os fenómenos nunca confirmados

Na verdade Tó Madeira era António Lopes, o colaborador da empresa criadora do jogo que ficou responsável por introduzir o plantel do Gouveia, naquele ano. António achou piada à ideia de se introduzir no jogo e não fez por menos: arranjou um pseudónimo e carregou forte no potencial desse jogador. Nascia o mito Tó Madeira, que até levou a alguns clubes a tentarem saber quem era aquele fenómeno junto dos responsáveis do Gouveia.

Ainda chegou a ser lançada uma nova versão do jogo no mesmo ano, que não incluía Tó Madeira, mas os fãs adoraram aquele jogador. A fama alastrou-se e, em Inglaterra, nasceu uma equipa que dá ao nome o primeiro contacto com o futebol real: o FC Tó Madeira.

O Maisfutebol conversou com Stuart Warren, jogador, treinador-adjunto e responsável pela comunicação deste clube, que tem uma particularidade extra: é formado, na maioria, por colaboradores da empresa que desenvolve o jogo.

«O F.C. Tó Madeira nasceu a partir de uma brincadeira. Eu e um amigo, o Michael, que é agora o treinador, costumávamos marcar jogos de futebol com alguns amigos do trabalho. Como os jogos eram cada vez mais frequentes e quase sempre com os mesmos jogadores decidimos fazer uma equipa para atacar a época 2011/12», conta. Foi o renascimento de Tó Madeira. Pela primeira vez com futebol real.

A equipa foi inscrita num campeonato amador dos arredores de Londres, a Central London Sunday Super League. Os resultados é que não foram os melhores. Na primeira época, o F.C. Tó Madeira ficou em último entre nove emblemas. Apenas uma vitória e um empate. Depois, catorze derrotas. Este ano, dois jogos e outros tantos desaires.

Michael Burling, o treinador, conta-nos os objetivos para esta época: «Queremos melhorar. Um dos jogos já só perdemos 1-0 e ao minuto 85. Temos sido competitivos e queremos continuar assim. Na época passada empatámos e ganhámos os dois primeiros jogos. E perdemos os outros todos.»

Para quem ostenta nome de goleador, ainda que fictício, o F.C. Tó Madeira não tem conseguido honrar tamanha responsabilidade. «Mas treinar esta equipa tem sido muito divertido. Somos todos bons amigos e isso ajuda. Não temos cá florzinhas de cheiro a exigirem que têm de jogar», conta o técnico.

Stuart Warren partilha a ideia e até dá um toque: há um Tó Madeira em potência na equipa. Ou melhor...havia. «O David Milmine foi o nosso melhor marcado no ano passado. Ele é rápido e um finalizador letal», garante. O problema é o amadorismo que obriga a decisões que transformam a vida.

«Teve de ir para o Brasil em Dezembro. Ainda assim acabou por ser na mesma o nosso melhor marcador. Agora vai juntar-se ao nosso clube de fãs em Portugal», brinca Stuart Warren.

Uma coisa é certa, Michael Burling não descuraria ter o verdadeiro (se é que é possível usar esta palavra) Tó Madeira na sua equipa. «Era uma ajuda enorme», atira.

«Trouxemos alguns jogadores novos, vamos ver se dá para melhorar. Mas falta-nos, realmente, um jogador com aquele toque especial como o Tó Madeira. Mas depois também não seria fácil segurá-lo», brinca.