A primeira vitória do FC Porto na Taça Intercontinental foi há 25 anos. Na neve de Tóquio, frente ao Peñarol. A recordação desse momento pela voz dos protagonistas, num artigo originalmente publicado em dezembro de 2004, quando o FC Porto jogou a sua segunda Intercontinental, a última edição naquele formato.

Treinos de madrugada, manga curta e queimaduras

42 minutos. Jaime Magalhães recupera a bola a meio-campo e solicita Madjer de imediato na direita, que finta Dominguez. Sem perder tempo, remata cruzado, a bola fica parada quase em cima da linha de baliza e surge Fernando Gomes, que se antecipa a Herrera e faz o 1-0.

Foi este o primeiro momento de triunfo registado a 13 de Dezembro de 1987, no Estádio Olímpico de Tóquio, sob um incessante nevão. O F.C. Porto ainda não era «campeão do mundo», como lhe chamariam na altura, porque os uruguaios do Peñarol viriam a empatar aos 80 minutos, por Viera, mas o tal golo de Gomes serviu para provar que era possível jogar naquele terreno impraticável, um lamaçal gelado, e vencer. Comprovando esse facto, já durante a segunda parte do prolongamento, Madjer pegou na bola amarela e despachou-a para o fundo da baliza de Pereira, fazendo-lhe um chapéu a mais de trinta metros da baliza.

Os heróis da altura mantêm as memórias frescas. «Lembro-me muito bem do jogo. O clima era péssimo, o campo impraticável, por isso as condições eram terríveis e ainda havia o Peñarol, que era uma belíssima equipa. A nossa única vontade era vencer e felizmente conseguimos. O Gomes marcou o primeiro golo, após uma jogada minha na direita; os uruguaios empataram e, finalmente, no prolongamento o Sousa recuperou a bola, chutou-a para a frente, o defesa não consegue controlar e eu venho de trás. Percebendo que o guarda-redes estava fora da baliza, chutei a bola mais ou menos do meio-campo, e esta, quando bateu no relvado, rolou muito levemente e houve algum suspense, mas acabaria por entrar», recorda Madjer ao Maisfutebol.

Para o argelino maravilhoso, este foi um dos melhores momentos da sua carreira. Não houve neve suficiente que o travasse: «Na altura até acho que não tivemos muitos problemas, porque enquanto estávamos a correr ficávamos quentinhos. O pior foi quando o jogo acabou, porque realmente estava muito frio, o que já nem interessava, porque éramos campeões».

Orgulho de «capitão»

Fernando Gomes, o bi-bota de ouro, esteve igualmente em destaque naquela madrugada louca de Tóquio. «Sabe, nunca cheguei a ver o jogo pela televisão. Até hoje apenas guardo as memórias daquilo que senti dentro de campo», confessa, conseguindo provar com toda a certeza o que tinha dito ao explicar minuciosamente o golo que marcou.

O ex-avançado resume os sentimentos em algumas palavras elogiosas para com todos os seus colegas da altura. «Tenho de realçar o comportamento dos jogadores sob aquelas condições. Foi o jogo mais difícil que tive na minha carreira, como com certeza o foi para todos os meus colegas. Mas valeu a pena, porque continuamos a ser a única equipa portuguesa com esse título. Fiquei muito feliz, porque para além de ter marcado o golo, fui o capitão e levantei a taça», abordou. De facto, Gomes levantou a Intercontinental, enquanto Lima Pereira se encarregou da Toyota Cup e Madjer da chave dourada do automóvel, prémio por ter sido o melhor jogador em campo.

FICHA DO JOGO

F.C. PORTO: Mlynarczyk; João Pinto, Geraldão, Lima Pereira e Inácio; Jaime Magalhães, André, Rui Barros (Quim, 61m) e Sousa; Madjer e Gomes.

Treinador: Tomislav Ivic

PEÑAROL: Pereira; Herrera (Gonçalves, 95m), Rotti, Trasante e Dominguez; Perdomo, Vidal, Da Silva e Cabrera (Matosos, 46m); Viera e Aguirre.

Treinador: Óscar Tabarez

Marcadores: 1-0, Gomes, aos 42m; 1-1, Viera, aos 80m; 2-1, Madjer, aos 109m.