A conquista da primeira Taça Intercontinental pelo FC Porto completa esta quarta-feira 30 anos. A 13 de dezembro de 2012, por ocasião das bodas de prata, o Maisfutebol realizou uma extensa reportagem sobre a primeira vez que os dragões se sagraram campeões do mundo. Recorde agora as histórias da neve de Tóquio e de um jogo inesquecível.

São 30 anos desde aquela final gelada de Tóquio mas ficaram várias histórias por contar. O F.C. Porto venceu o Peñarol por 2-1 conquistou a primeira Taça Intercontinental. Gomes e Madjer, autores dos golos portistas, já recordaram esses momentos. Sobram episódios que Geraldão desvenda através do Maisfutebol.

Geraldo Dutra Pereira, brasileiro de Minas Gerais, aterrou em Portugal no verão de 1987. Venceu a Supertaça Europeia e a Taça Intercontinental, mais campeonato e taça. Uma época inesquecível.

A preparação para a viagem intercontinental teve capítulos deliciosos. Desde logo, pelos treinos de madrugada no Estádio das Antas. Uma forma de adaptar o plantel ao fuso horário do Japão.


«Lembro-me que um mês antes da viagem, já estávamos a fazer treinos secretos no Estádio das Antas. Começavam de madrugada e acabavam quanto fosse preciso. Estava há alguns meses em Portugal e percebia logo ali a organização do F.C. Porto, fantástica», recorda Geraldão.

Seguiu-se uma viagem «ao contrário». «Fomos ao contrário para o Japão. Tivemos de fazer uma escala no Alasca e lá chegámos. É verdade que havia alguma tensão, brigas internas, mas isso sempre ficou no balneário. Não vou ser eu a revelar. Só posso dizer que, para sermos campeões, sofremos muito (risos).»

Geraldão enaltece o valor do adversário, que chegara ao destino dias antes. A preparação seria essencial e o F.C. Porto parecia estar em desvantagem, nesse aspecto. «O Peñarol era melhor que algumas equipas argentinas da época. É normal desvalorizar as equipas sul-americanas, mas esquecem-se que elas chegam a essse jogos no final da sua temporada, portanto preparam-se de forma muito intensa e exclusiva.»

Porto decide jogar de manga curta!

O Peñarol não foi, contudo, o maior obstáculo. Para um brasileiro, então, o frio e a neve inquietavam. Sobretudo, após uma decisão de Pinto da Costa e João Pinto.

«O presidente e o capitão decidiram que íamos jogar de manga curta, para não demonstrar fraqueza. Foi uma decisão que o grupo aceitou e lá fomos nós!»

O antigo central não esquece. Diz, por iniciativa própria, todo o onze do F.C. Porto desse encontro. Resume com entusiasmo: «Era uma equipa de sonho, fantástica. Para além disso, tinha uma retaguarda tremenda. Foi aí que aprendi muito sobre estruturas profissionais de futebol.»

«Durante o jogo, claro que sentimos dificuldades. Jogámos de manga curta mas tínhamos plásticos por baixo, tudo para tentar combater o frio. Foi uma batalha muito dura. E sentimos isso na pele no final», revela.

Queimaduras debaixo do chuveiro

Na pele? Literalmente. «Após o jogo, já nos balneários, fomos logo tomar banho. Mas rodámos as torneiras de água quente e entrámos logo. Ainda me lembro do Rodolfo Moura a aperceber-se disso e a mandar toda a gente sair, mas para alguns já era tarde. Eu e outros ficámos com queimaduras no corpo.»

«Enfim, tudo valeu a pena. Todos os anos, por esta altura, lembro-me dessa conquista na Intercontinental. Tenho uma bandeira do F.C. Porto na minha fazenda e o clube deixou muitas saudades», acrescenta o brasileiro.

Geraldão, aos 49 anos, divide o tempo entre a sua fazenda em Governador Valadares e o cargo de gerente de futebol do Democrata de Valadares, clube local. Mas a ligação a Portugal perdura até aos dias de hoje.

«Tenho um andar no Porto e costumo ir aí. Não vou há dois anos, mas já fui uma vez com o meu filho ao Estádio do Dragão. Fui muito bem recebido, como sempre. Levo o F.C. Porto no coração», remata, em entrevista ao Maisfutebol.