A conquista da primeira Taça Intercontinental pelo FC Porto completa esta quarta-feira 30 anos. A 13 de dezembro de 2012, por ocasião das bodas de prata, o Maisfutebol realizou uma extensa reportagem sobre a primeira vez que os dragões se sagraram campeões do mundo. Recorde agora as histórias da neve de Tóquio e de um jogo inesquecível.

Fernando Gomes, Madjer e Mlynarczyk. Nas palavras de Pinto da Costa esta foi a Santa Trindade na conquista de Tóquio e, por consequência, do mundo. Gomes e Madjer fizeram os golos ao Peñarol, Mly foi um verdadeiro cubo de gelo intransponível na baliza.

Ao Maisfutebol, o mítico guarda-redes polaco comove-se ao recuar até 1987. O ano de todas as glórias portistas não larga a memória de Mly. «Viena foi inesquecível, histórico, mas em Tóquio fomos os heróis do sofrimento», diz, traduzido pela filha Maczena, a partir de Lodz.

Sete graus negativos, 20 centímetros de neve, um jogo de futebol. Na baliza, Mlynarczyk sofreu ainda mais do que os outros. «Pensei que morria na baliza», atira o inesquecível guardião azul e branco. «Fiz boas defesas e em cada uma delas sentia que ia partir as mãos. Parecia de cristal».

É por aí que a conversa vai. O cenário verdadeiramente desumano impressiona, mesmo 25 anos depois. Como é que alguém se prepara e aguenta tamanho castigo?

«No intervalo meti as mãos numa bacia de água a escaldar. Outros colegas fizeram pequenas fogueiras para aquecer os pés. Nunca vi nada igual num balneário, parecíamos escuteiros», recorda Jozef Mlynarczyk, um dos grandes obreiros da vitória na Taça Intercontinental.

«Toda a preparação foi de doidos»

A cada voo, a cada contato com o chão, Mlynarczyk sentia o corpo a desaparecer. A neve derretia no equipamento, pequenas linhas de água gelada escorriam.

«Todos pensámos que estávamos a entrar em hipotermia. Muitos colegas meus sentiram-se mal depois do jogo, nem conseguimos celebrar convenientemente. Foi um dia de loucos, aliás, toda a preparação foi de doidos», conta o polaco.

Os treinos de madrugada, já recordados por Geraldão, a viagem com escala no Alasca, enfim, tudo condimentos fortíssimos para a construção de uma narrativa lendária.

Foi esta a maior vitória de Mly na baliza do Porto?

«Não consigo responder a isso. Estive em Viena, joguei a Supertaça Europeia contra o Ajax, fui duas vezes campeão nacional [1985/86 e 1987/88], até marquei um golo de penálti ao Boavista na Taça [18 de maio de 88, 0-0 e 4-5 no desempate por castigos máximos]».

«Espero que os adeptos tenham uma boa imagem de mim»

Mlynarczyk, 59, vive calmamente em Lodz com a esposa Czeslawa. Tem uma empresa de transitários e está afastado do trabalho diário no futebol.

Mly saiu do F.C. Porto em 1999, quando era adjunto de Fernando Santos. Na altura, a «falta de comunicação» criou algum mal-estar entre o clube e o treinador dos guarda-redes. Tudo sanado, 13 anos depois.

«Tive um convite da federação polaca, sentia saudades de casa e aceitei. Passei muito tempo sozinho no Porto e senti necessidade de voltar para a minha família. Espero que os adeptos não me tenham levado a mal e que guardem boas recordações de mim», deseja Mlynarczyk.