Reencontrar a doce sensação de serenidade, reformular ideias e planos, cumprir a obrigação sem necessidade de sofrer e remoer em pecados escusados. O FC Porto voltou a vencer, a convencer e a dar ares de campeão, no mesmo relvado onde na época passada fizera uma exibição perfeita.

0-2, os dragões atiram para fora da taça o detentor do troféu.

Desta vez, volvidos nove meses e uma mudança de treinador, o tricampeão não pode falar em perfeição. Mas pode, e isso é um excelente sintoma, recolher dados de relevo inquestionável para o futuro imediato.

É verdade que a expulsão de Mangala, a dez minutos do fim e novamente inquinada de ingenuidade, obrigou os dragões a reviverem os horrores defensivos recentes, mas esse terá sido um dos poucos lapsos a apontar à estrutura de Paulo Fonseca na Cidade-Berço.

FICHA DE JOGO E O AO MINUTO


Guiada pela inteligência de Lucho Gonzalez, autor das duas assistências para golo, e a inesgotável força de tração de Fernando, o FC Porto cedo impôs a naturalidade da sua superioridade e muito raramente permitiu assomos de inconveniência ao Vitória.

Fernando, aliás, inaugurou o marcador num remate com tanto de feliz como de acidental. No estádio, a ideia que nos fica é clara: o Polvo fugiu pela direita e tentou cruzar para o coração da área; a bola ganhou uma trajetória abençoada, sobrevoou as mãos perdidas de Assis e morreu no aconchego das redes.

Por essa altura, já Jackson ensaiava uma curiosa série de tentativa-erro com a baliza minhota. O colombiano teve de falhar três vezes o remate, até por termo à teimosia de uma seca que já o acompanhava há quatro jogos: Zenit, Sporting, Belenenses e novamente Zenit.

Do Vitória, o melhor que se via era um futebol direto e desapaixonado, invariavelmente em busca das longas e milagrosas pernas de Maazou. Nada feito, a não ser num instante em que o árbitro Jorge Sousa assinalou falta ao ponta-de-lança, quando tinha sido Otamendi a derrubar Mangala.

OS DESTAQUES DO JOGO: Fernando, simples


Rui Vitória não pode estar descansado com o que viu. Muito previsível, débil na fase de construção, o Vitória só incomodou Fabiano nesse tal lance de Maazou e numa ou noutra arrancada do menino Ricardo Gomes: bela estreia a titular!

Aqui ou ali, mais por defeito comportamental do que por ameaça vitoriana, o FC Porto perdeu as rédeas do duelo, mas sem nunca comprometer a distância justamente acumulada no primeiro tempo.

Boas notas também para o reaparecimento de Kelvin e a entrada muito boa de Carlos Eduardo em jogo. Podemos estar enganados, mas este médio ex-Estoril respira qualidade por todos os poros, das chuteiras à cabeça.

As ideias de Lucho, a energia contagiante de Fernando e a mortandade idealizada por Jackson numa mão-cheia de pontapés permitiram ao FC Porto respirar novamente sem dificuldades.

Por uma vez este ano, o dragão pode deitar a cabeça na almofada e adormecer em paz. Um luxo.