Sylvain Wiltord, Phillippe Candeloro Anne-Flore Marxer, Jeannie Longo e Alain Bernard os desportistas participantes no programa francês «Dropped» que ficaram para contar a trágica história para os outros três atletas gauleses que morreram no acidente aéreo desta segunda-feira. Podia ter sido fatal para mais daquele grupo. Mas há detalhes que, muitas vezes, são responsáveis por que a morte não chegue quando já parecia estar marcada.

Aconteceu com Bernard, agora, devido ao seu peso. Como já aconteceu com outros, por este ou aquele singelo motivo, em outros momentos que acabaram fatais para muitos.

O choque entre helicópteros que aconteceu em La Rioja, na Argentina, provocou a morte de todos os ocupantes de ambos os veículos. Entre as dez pessoas que faleceram, duas eram os pilotos, cinco eram da produção do programa e três eram desportistas concorrentes: o pugilista Alexis Vastine, a nadadora Camille Muffat e a velejadora Florence Arthaud.
 


A notícia da tragédia que aconteceu na Argentina, mas que atingiu a França e o seu desporto de forma particular (pela notoriedade dos falecidos) foi sentida com muitas reações de choque e consternação.

Os jogadores do PSG irão jogar nesta quarta-feira com um fumo negro (frente ao Chelsea na Liga dos Campeões). A clássica Paris-Nice parou para fazer silêncio.
 



As manifestações como estas multiplicaram-se. Das instâncias políticas mais altas do estado gaulês, às desportivas. Mas uma das mais significativas no desporto foi a de Willtord: ele mesmo participante do programa, que já não estava na Argentina. O antigo futebolista
internacional francês já tinha deixado o programa e regressado a França. E não deixou, assim, de expressar o que sentiu.
 



Mas os que ainda estão lá estão mais silenciosos... Philippe Candeloro anunciou nas redes sociais estar «extremamente chocado, mas são e salvo» - palavras assinadas pelo agente do patinador. Alain Legond contou à «Europe 1» o que Candeloro lhe contou ao telefone: «Ele disse-me que estavam a 500 metros [de distância]. Eles tinham os olhos vendados e ouviram um estrondo enorme. Correram de seguida para o local do acidente, os helicópteros estavam em chamas. Eles não puderam fazer nada: o horror absoluto».

À «RTL», Candeloro ainda revelou que os sobreviventes foram conduzidos para o hotel com a indicação de não prestarem declarações. «Temos ordens da produção para não falarmos porque está em curso um inquérito», disse o antigo patinador. De Jeannie Longo não se soube uma palavra tendo sido os meios de comunicação social franceses a confirmá-la como uma das sobreviventes. Também Anne-Flore Marxer «está OK», com a confirmação, neste caso a ser feito pela mãe da snowboarder.

Alain Bernard fecha o lote dos que tiveram alguém a dar conta do seu estado são e salvo». Também Robert Leproux confirmou ao «Le Parisien» que o grupo de desportistas concorrentes «tentou fazer o que fosse quando chegaram ao local do acidente», mas o amigo e conselheiro do nadador francês também explicou que «nada havia a fazer». Mas Bernard pôde pensar o que os outros sobreviventes não pensaram: pôde pensar que ele também podia ter morrido. E que foi o seu peso que o fez fintar a morte
.



Alain Bernard era um dos passageiros previstos para estar num dos dois helicópteros que colidiriam no ar em La Rioja. O campeão olímpico era para ter embarcado com a outra nadadora entre os concorrentes, Camille Muffat. Mas, por uma questão de excesso do (seu) peso, segundo revelou o «L`Equipe», Bernard acabou por ficar em terra à espera de um terceiro helicóptero que viria. «Tudo bem, estou vivo», disse o nadador a Leproux via sms, segundo os media
franceses.

Alexis Vastine foi um dos três franceses que acabaram por não conseguir fintar
a morte sabendo-se nesta terça-feira que esteve quase a consegui-lo. Segundo Roberto Cammarelle, o pugilista francês podia ter ido para a sua equipa de boxe, cujo compromisso o teria impedido de entrar no programa
da televisão gaulesa. «Alexis Vastine tinha podido assinar um contrato no ano passado com a equipa de boxe Italia Thunder. Talvez não tivess ido para aquele reality [show]
e o pugilimos o tivesse salvo» disse Cammarella ao «La Reppublica».

Vastine não se salvou, Bernard, sim, devido ao seu peso (que deve rondar os 90 quilos). No caso de outro nadador (ainda mais famoso do que o gaulês), foi uma máquina fotográfica que o levou a escapar à morte. Ian Thorpe salvou-se de ser uma das vítimas dos ataques ao World Trade Center em 2001. A finta
sobre a morte foi, então, contada por um dos seus agentes. Thorpe estava na «Big Apple» para uma visita promocional e um passeio a pé junto às Torres Gémeas depois de acordar cedo quase foi fatal.

O nadador australiano decidiu subir aos arranha-céus. E tirar umas fotografias faria parte do programa. Por isso, voltou ao seu hotel para ir buscar a máquina fotográfica, que não tinha levado. Foi esse esquecimento
e essa volta (para trás) no destino que o salvou. Foi ainda no quarto de hotel que, ligando a televisão, viu que o primeiro avião já tinha atingido uma das torres. «Ele ficou em choque. Uns minutos mais tarde, quem sabe o que poderia ter acontecido?!». Foi o relato de Frank Turner ao «Chicago Tribune» na altura.



Envolvendo outros acidentes de avião houve outros sobreviventes que por uma decisão de última hora evitaram a morte. Como Marc Rosset. O tenista suíço, em 1998, estava em Nova Iorque e, depois de ter sido eliminado na primeira ronda do US Open, preparava-se para regressar a casa e já tinha o voo para Genebra reservado num avião da Swissair, no dia 2 de setembro. A partida era às 19h50 de Nova Iorque.

Como tinha já sido eliminado do US Open, Rosset não conseguiu vaga nos courts de Flushing Meadows para treinar logo de manhã (a primazia fica para os jogadores ainda em prova). Decidiu treinar à tarde. Pouco depois do meio-dia desse dia 2 anulou a reserva. O voo 111 da Swissair terminou fatalmente para todos os seus 229 ocupantes aalgumas horas depois junto à costa do Canadá.

«Tomei conhecimento da notícia terrível quando regresse ao meu quarto», contou Rosset com os olhos ainda vermelhos de uma noite sem dormir
, como escreveu o «Le Soir». Rosset apressou-se a telefonar a toda a gente de que se lembrou «para os tranquilizar». «Depois, fiquei a ver a CNN
praticamente toda a noite», disse o suíço que, recordando as imagens das famílias das vítimas, «já não conseguia dormir».

Ladislao Kubala também podia ter ficado conhecido como uma das vítimas mortais do acidente de Superga que vitimou a famosa equipa de futebol do Torino em 1949. O grande jogador húngaro acabou por escapar
a este destino devido à família. Quando fugiu da Hungria para a Áustria, em 1948, Kubala deixou a família refugiada na antiga Checoslováquia. Passou a jogar no Pro Patria de Itália. E tinha sido convidado para ir fazer com o Torino alguns jogos com a grande equipa da altura.

Era suposto Kubala ter estado na digressão que trouxe o Torino a Lisboa para defrontar o Benfica. Mas a notícia de que a sua mulher e o filho já tinham conseguido chegar a Udine fez com que o jogador húngaro desistisse da viagem com o Torino. E evitou
assim estar na viagem de regresso que terminou com o desastre de avião que se despenhou contra a Basílica de Superga, em Turim, deixando os 31 ocupantes mortos.



O futebolista Christian Panucci ou o tenista Matts Wilander são outros desportistas conhecidos que fugiram
a desastres de avião. Wilander e a mulher escaparam ao famoso atentado de Lockerbie em que um avião da Pan Am fazia o voo entre Londres e Nova Iorque. Explosivos colocados na aeronave fizeram-na despenhar-se ainda na Escócia. Morreram todos os ocupantes (259) e ainda 11 pessoas da cidade escocesa. Wilander e a mulher, Sonja Moholland, foram os dois únicos passageiros que não fizeram o check-in
em Londres.

A Panucci valeu-lhe o atraso na bagagem depois de uma lesão o ter afastado dos Jogos Olímpicos Atlanta 1996. Em viagem até Nova Iorque para, depois, apanhar mais um voo para Roma, via Paris, a bagagem do voo de Atlanta perdeu-se. Panucci ficou à espera e decidiu apanhar um outro voo, já direto, para Milão. O avião da TWA que ligaria Nova Iorque e Roma despenhou-se poucos minutos depois de descolar. Morreram os 230 ocupantes.