Ficou desde logo marcada como a maior tragédia de sempre no Monte Evereste. A primeira contabilização de vítimas mortais entre alpinistas deu logo conta de 17 mortes. O sismo que no sábado abalou o Nepal foi o maior em 81 anos. Teve uma magnitude de 7.9. O número total de mortos já ascende aos 2.500 depois de uma réplica igualmente brutal de 6.7; que provocou mais avalanches depois da primeira que devastou o campo na base da montanha mais alta do mundo.

Os números são provisórios, pois, esperando que não haja mais réplicas devastadoras do sismo ou novas avalanches, o tempo é de encontrar desaparecidos e resgatar feridos: da tragédia natural no seu todo; dos que foram apanhados na montanha em particular, (contabilizados em 60 feridos à medida que se escreve este artigo).

Entre números da Associação de Alpinismo do Nepal e od ministério do Turismo nepalês estavam entre 800 a mil alpinistas no Monte Evereste a caminho do pico mais alto do mundo (8.848 metros): desde a sua base – o local atingido mortalmente – até aos vários campos intermédios da subida.

A avalanche mortífera de sábado aconteceu entre o campo da base (a 5.334 metros de altitude) e o campo 1 na subida da montanha (perto dos 6 mil metros), na zona denominada Queda de Àgua Khumbu – há mais três campos intermédios (2, 3 e 4) até ao pico. Nos campos 1 e 2 (este a 6.500 metros de altitude) estavam já cerca de uma centena de alpinistas. Não houve registo de vítimas mortais, mas, parte da avalanche, deixou-os isolados da base da montanha.

Os socorros estão a trabalhar à medida que se escreve. Depois dos primeiros relatos pela redes sociais do que estava a acontecer por quem estava no local chegaram também as imagens. Um fotógrafo da AFP no campo base fotografou a avalanche.
 


A agência noticiosa francesa foi também das primeiras a ter relatos em primeira mão do que foi vivido.

«Corri e corri, e a vaga, semelhante a um prédio branco de 50 andares, engoliu-me. Tentei levantar-me e ela engoliu-me de novo. Eu já não conseguia respirar. Pensava que morria. Quando consegui finalmente levantar-me, não conseguia acreditar que a vaga tinha passado por cima de mim e que eu estava praticamente livre.»

O relato foi contado à AFP por George Foulsham, um biólogo de 38 anos de Singapura. Ao «The Guardian», foi David Hamilton, de 58 anos, quem contou o que viu. Este escocês já subiu ao pico do Evereste sete vezes e liderava o grupo onde estava o executivo da Google que morreu vítima da avalanche, Dan Fredinburg. Hamilton estava um pouco mais abaixo do campo base quando aconteceu a avalanche e contou o que encontrou quando lá chegou.

Parecia que tinham colocado uma bomba lá no meio.. Uma vasta área tinha sido completamente dizimada. As estruturas grandes (a tenda refeitório e outras) foram completamente achatadas e as coisas foram arremessadas centenas de metros.»

«Não foi o tipo de avalanche mole com pó branco. Foi um penhasco de gelo despedaçado com blocos de gelo maciços e rocha que arrasaram o centro do campo.»

«Há penhascos de gelo em três lados e caem pequenas partes deles durante todo o ano. Mas isto foi numa escala completamente diferente. Foi preciso a força de um tremor de terra para deslocar o que devem ser milhares de toneladas de rocha e gelo. Não é uma coisa que já se tivesse visto.»

 



A tragédia que aconteceu ainda só tem um cálculo das consequências em vidas. Mas já se sabe que foi a maior de todas neste plano, um ano depois daquela que tinha sido a maior até então. No dia 18 de abril de 2014, dezasseis nepaleses morreram também vítimas de uma avalanche. Eram guias alpinistas, conhecidos como Sherpa, e o desastre trouxe os perigos que correm os habitantes locais para debaixo de holofotes mais fortes.

A questão da segurança passou a ser encarada de outra forma em relação a um ofício dos nepaleses que é também uma atividade turística que se traduz em cerca de três milhões de euros para a economia local. O maior acidente até então obrigou mesmo à interrupção da época de alpinismo no Monte Evereste durante mais de um ano – ultrapassou o assinalar das 16 mortes dos Sherpa no passado dia 18.

A época de alpinismo no monte mais alto do mundo tinha acabado de começar.