Nunca foi um Ayrton Senna, nem sequer um Rubens Barrichello ou um Felipe Massa. Pedro Paulo Diniz terá sido, apenas, mais um dos pilotos brasileiros que tentaram a sorte na Fórmula 1 na década de 90. Um dado corriqueiro. É conhecida a paixão do Brasil pelo campeonato. Aliás, o país é, ainda hoje, o maior mercado mundial da Fórmula 1.

Mas se, nas pistas, Diniz nunca foi extraordinário, fora delas foi, durante muito tempo, das personalidades mais interessantes para a imprensa brasileira, sobretudo a dita ‘cor de rosa’. Motivo? A vida agitada e o facto de ser herdeiro de uma das maiores riquezas do país.

Pedro Paulo Diniz tinha à sua espera a fortuna do grupo Pão de Açúcar. Durante muito tempo pareceu viver aguardando o momento em que assumiria a herança da família. Uma vida de luxo, boémia entre celebridades. A Fórmula 1 parecia apenas mais um capricho.

A verdade é que a melhor classificação de sempre, em seis anos na categoria, entre 1995 e 2000, foi um quinto lugar, no Grande Prémio do Luxemburgo, em 1997, e na Bélgica, no ano seguinte. Ambas pela Arrows, equipa com que conseguiu as melhores pontuações da carreira: três pontos.

«Nunca ganhei um campeonato nos karts. Ganhei algumas corridas. Dava para ver que tinha talento. Fazia muitas ‘poles’, mas arriscava muito e batia nas corridas. E era esforçado na parte mecânica, gostava de entender como funcionava». As palavras pertencem ao próprio Pedro Paulo Diniz, numa entrevista à revista brasileira «Trip», onde deu a conhecer o seu novo eu.

Longe do glamour do Mónaco, das festas privadas, dos amigos milionários, das máquinas do asfalto. Vive agora numa fazenda no interior de São Paulo com a mulher, Tatiana, praticando agricultura biológica.

Tornou-se fã de ioga e estuda veterinária. Tem um novo mundo à sua frente. E explica o que o levou a mudar de vida: «Quando se entra no jogo, parece ótimo, sentes-te o maior. Achas que és o maior por comprar um Ferrari e circular no Mónaco com ele. Mas faltava alguma coisa. No primeiro dia é como uma criança com um brinquedo novo. Depois enjoa. E não preenche nada.»

Sem talento suficiente, o dinheiro resolve na F1

O dinheiro da família, assume o ex-piloto, foi mais decisivo na sua carreira do que qualquer resultado em pista. «O automobilismo é movido a dinheiro», sublinha.

«Quem tem um equipamento bom faz a diferença. Eu tive isso, mas tive de correr atrás porque o meu pai não me dava nada de mão beijada. É lógico que me abriu várias portas, mas quando passei para a Fórmula Ford fui eu que fui atrás. Apresentei-me em empresas, consegui patrocínios. Mas admito que as portas que ele me abrir, com o Pão de Açúçar, facilitaram», explica.

O sonho era chegar à Fórmula 1, mas os resultados conseguidos no Brasil não entusiasmavam os europeus. Havia tradição de bons pilotos brasileiros, mas nem todos tinham o mesmo talento, claro está. E Pedro Paulo Diniz percebeu-o: «Consegui apenas resultados medianos na Fórmula 3 e na Fórmula 3000. Vi que não tinha aquele talento natural que eu imaginava. Para um moleque de 20 anos, perceber isso foi um golpe duro.»




Tornou-se praticamente impossível ser contratado por uma equipa, mas há outros caminhos de entrada na F1. Sobretudo naquela altura, em que escuderias apareciam e desapareciam com relativa frequência.

O dono da equipa onde competia na Fórmula 3000, a Forti Corse, queria dar o passo para a Fórmula 1. A fortuna de Pedro Paulo Diniz e o patrocínio da Parmalat ajudaram a realizar dois sonhos: o de Guido Forti, dono da equipa, e o de Pedro Paulo, que assim também chegou onde queria.

«O primeiro ano foi meio maluco. A equipa não tinha estrutura, foi uma bagunça. No segundo ano fui para uma equipe mais estruturada, a Ligier. Aí começou a ficar melhor a brincadeira. Eu era bom em pistas muito rápidas, mas acho que isso tinha mais a ver com inconsequência», assume.

Na Ligier somou os primeiros dois pontos na carreira. No ano seguinte passou para a Arrows onde esteve duas temporadas e em 1999 entrou na Sauber. Fez mais dois anos e abandonou a Fórmula 1. Para sempre.

Acidente com Pedro Paulo Diniz na F1:



Festas com Naomi Campbell e passeios com o príncipe do Mónaco

Para lá das pistas, há todo um mundo na Fórmula 1 que encantava Pedro Paulo Diniz. A vida de piloto não era (e não é) apenas o que se passa durante os treinos, qualificação e corrida.

«Aquela vida era muito boa. Quando se chega a um lugar és tratado como um rei. Em todas as cidades onde o ‘circo’ ia havia mordomias, toda a gente a bajular-te, foi bem divertido. Por outro lado também era tenso. Há muitos interesses. Muita gente com dinheiro, pessoas com ego enorme a disputar quem se vai sentar a jantar com o príncipe do Mónaco e coisas assim», descreve.

Com 25 anos, Pedro Paulo Diniz admite que se deslumbrou. Eram os autógrafos, as namoradas em rotatividade…Se o ambiente em torno dos pilotos já é diferente, o brasileiro vivia num ambienta ainda acima de quase todos os companheiros de pista. Morou oito anos no Mónaco, ficou amigo do Príncipe, circulava nesse mundo de glamour.

«Em Saint-Tropez, o glamour do glamour, eu chegava na boate e tiravam as pessoas da mesa para o monsieur Diniz sentar», conta, lembrando ainda que fazia anos no mesmo dia da modelo Naomi Campbell o que originava, anualmente, uma festa enorme, que o ex-piloto descreve como «a maior palhaçada na Terra».

Naturalmente, a felicidade era, apenas superficial. Pedro Paulo Diniz começou a achar menos graça às festas, deixou de ser piloto em 2000, ainda esteve, como sócio, na equipa de Alain Prost, mas, aos poucos, desligou-se por completo desse mundo.

Tornou-se praticante de ioga e, em 2006, começou a administrar uma fazenda que pertencia aos bens do grupo Pão de Açúcar. Descobriu a agricultura biológica e implantou-a no local. O projeto cresceu e, em conjunto com a esposa, mudou-se de malas e bagagens para o interior de São Paulo. Era um novo mundo.

A nova vida conquistou-o para sempre

A nova vida de Pedro Paulo Diniz é, nas palavras do próprio, «nova e instigante». Além do objetivo natural de criar alimentos saudáveis, o ex-piloto destaca o prazer de poder criar os filhos na fazenda

A ideia passa, agora, por lançar produtos de marca própria. «Fazenda da Toca» é o nome escolhido. Nessa altura, o apoio da empresa da família irá voltar a ser decisivo. Tudo com a meta de «democratizar o alimento orgânico».

«Imagino-me aqui com 60 anos. Para nós já só faz sentido a vida fora dos grandes centros. Não sentimos falta de nada. Protegi-me por um tempo, quis desaparecer para ficar traquilo. Viver a minha vida sem me sentir invadido. Foi fácil»
, garantiu.