Jorge Jesus merecia estar entre os candidatos ao prémio de treinador do ano, atribuído pela FIFA e pela «France Football»? A pergunta foi lançada ao próprio treinador do Benfica, que evitou incluir-se claramente na lista mas que não resistiu a defender a ideia de que fez mais em 2014 do que alguns dos nomeados.

 

Jesus não avançou com nomes e no ar ficou a questão, em jeito de debate: quem fez menos do que o treinador do Benfica neste ano que caminho para o final? A conclusão mais imediata é a de que nenhum dos candidatos ganhou tantos títulos quanto o treinador do Benfica, que ergueu quatro troféus (Liga, Taça da Liga, Taça de Portugal e Supertaça Cândido de Oliveira). Jesus marcou presença ainda na final da Liga Europa, mas a prova europeia foi perdida para o Sevilha, em Turim.

 

Entre os candidatos a treinador do ano é Carlo Ancelotti que mais se aproxima de Jorge Jesus no número de títulos conquistados em 2014: o italiano ergueu três com o Real Madrid (Liga dos Campeões, Taça do Rei e Supertaça Europeia) e tem ainda o Mundial de Clubes, a fechar o ano.

 

Mas esta é uma visão simplista da questão, que não pode ser analisada (apenas) pela perspetiva do número de títulos. Há muita subjetividade envolvida, sobretudo quando se compara a importância das provas. Jorge Jesus disse, de resto, desconhecer os critérios que guiam a escolha do Comité da FIFA e dos especialistas da «France Football». Mas ele próprio avançou com um filtro para a discussão:

 

«Olhei para a lista e pensei: “há aqui alguns que não estiveram em nenhuma final, muitos nem foram campeões nacionais.”»

 

 

Jesus não especificou, mas entre os dez nomeados há três treinadores que não conquistaram qualquer título em 2014 e que não estiveram em nenhuma final. Um deles até é o único português da lista. José Mourinho é mesmo o único totalista de nomeações para este prémio, que vai na quinta edição, mas pelo segundo ano consecutivo consegue estar entre os candidatos mesmo sem qualquer título conquistado.

 

No regresso ao Chelsea o «Special One» foi terceiro classificado na Liga inglesa, e na Liga dos Campeões caiu nas meias-finais, diante do Atlético de Madrid. Na Taça de Inglaterra ficou pelos oitavos-de-final (eliminado pelo Manchester City) e na Taça da Liga chegou aos «quartos» (afastado pelo Sunderland, no prolongamento).

 

Agora a trabalhar em Inglaterra, Louis van Gaal é outro dos nomeados que enquadra no filtro de Jesus: em 2014 não ganhou qualquer título nem esteve em qualquer final. Ficou perto, ainda assim, com o terceiro lugar no Mundial2014, com a seleção holandesa. A Argentina afastou a «Laranja» da final, que depois derrotou o anfitrião Brasil para ficar com o último lugar do pódio. Van Gaal mudou-se depois para o Manchester United, mas o início de época nem foi muito famoso, e os «red devils» ocupam um modesto oitavo lugar na Premier League, e foram eliminados da Taça da Liga de forma humilhante, diante do MK Dons (4-0), do terceiro escalão.

 

O outro treinador sem títulos ou finais em 2014 é Jürgen Klinsmann, o nome mais discutido da lista. O selecionador dos Estados Unidos apresenta como principal feito do ano a presença nos oitavos-de-final do Mundial, por força do apuramento no grupo em que estava Portugal. Foram apenas cinco jogos oficiais, com uma vitória (sobre o Gana), um empate (com a equipa das quinas) e duas derrotas (Alemanha, na fase de grupos, e Bélgica, nos «oitavos).

 

O poder das «big five» e os outros nomes riscados

 

Alejandro Sabella também não conquistou nenhum título este ano, e até só esteve em atividade até meio do ano, mas esteve numa final, e logo a do Campeonato do Mundo, com a Argentina.

 

Antonio Conte, agora selecionador italiano, surge na lista depois da conquista do título nacional com a Juventus, embora na Liga Europa tenha sido da final que ia ser disputada em Turim pelo Benfica, precisamente. Jorge Jesus acabou por perder o troféu para Unai Emery, que também não está nomeado, confirmando alguma resistência à inclusão dos vencedores da Liga Europa nesta lista.

 

André Villas-Boas, o único nomeado para além de Mourinho, foi uma exceção em 2011, mas é bom lembrar que fez a segunda metade do ano no Chelsea. Nunca um treinador de um clube português esteve nomeado para o prémio. Nem de um emblema luso nem de qualquer emblema que não pertença às cinco principais Ligas Europeias, refira-se.

 

E das «Big Five» o único campeão que fica de fora é Laurent Blanc, que para além do título francês ainda conquistou a Taça da Liga e a Supertaça com o PSG. O também francês Arsène Wenger não conseguiu a quarta nomeação, embora pela primeira vez tivesse o argumento dos títulos (Taça de Inglaterra e Supertaça). E há quem visse também justiça na nomeação de Jorge Luis Pinto, que levou a Costa Rica aos quartos-de-final do Mundial, mais além do que Klinsmann e os Estados Unidos.

 

Mais consensuais são as escolhas de Manuel Pellegrini (vencedor da Liga inglesa e da Taça da Liga com o Manchester City) ou Pep Guardiola (vencedor da Liga e da Taça da Alemanha com o Bayern de Munique), embora os grandes candidatos ao troféu sejam Carlo Ancelotti (vencedor da Liga dos Campeões, da Taça do Rei e da Supertaça Europeia), Diego Simeone (campeão espanhol, finalista da Liga dos Campeões e vencedor da Supertaça Espanhola com o At. Madrid) e ainda Joachim Löw (campeão mundial com a Alemanha).