* Enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos
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Etimoni Timuani apanhou um avião em Fonfagale, capital de Tuvalu. Voou duas horas até às Ilhas Fiji e daí para Los Angeles. Escalas demoradas, cansaço e mais dois voos. LA-Panamá e Panamá-Rio de Janeiro.

Dois dias entre aviões e aeroportos para cumprir o desígnio do comité olímpico do micro-estado polinésio: ter um atleta a representar o país nos Jogos Olímpicos.

48 horas em viagem e 11,81 segundos nos 100 metros dos Jogos. Curto, sim, mas muito intenso. Principalmente se pensarmos que Timuani participou na modalidade errada.

«Eu sou futebolista», explica ao Maisfutebol o único representante de Tuvalu, dez mil habitantes, microscópico ponto no Pacífico.

Então como é isso? Um futebolista a correr os 100 metros? Etimoni Timuani é um rapaz tímido, habituado à pacatez paradisíaca de Tuvalu, não está particularmente empenhado em saciar uma curiosidade antípoda.

«Sou futebolista, sim. O meu país só teve direito a uma vaga nos Jogos. Nos 100 metros. O comité precisava de alguém rápido e convidou-me. Não correu bem, foi a primeira vez. Entrei com medo na pista, corri por acidente».

Não correu, de facto, bem. Isso é, porém, um detalhe menor na extraordinária aventura odisseica de Etimuani. O sprinter e defesa central foi o último colocado nos 100 metros, lado a lado com um representante das Ilhas Marshall.

O epíteto de fastest man in Tuvalu resistirá a esta provação.

«Consigo correr abaixo dos 12 segundos. Sou o homem mais rápido da ilha de Tuvalu. Para bater o Usain Bolt tenho de me aplicar mais um bocado (risos)».

A prova: Tuvalu tem um atleta olímpico

«Vi a final França-Portugal nas Ilhas Fiji»

Quando não está a jogar futebol com a camisola do FC Manu Laeva, Etimoni Timuani calça umas havaianas, veste uns calções e uma camisa para estar ao serviço do Estado de Tuvalu.

«Trabalho numa repartição pública a gerir as reformas dos cidadãos do meu país», conta o atleta olímpico, representante único da paixão de Tuvalu pelo desporto.

A experiência no Rio de Janeiro está a acabar e Timuani regressa como «um herói».

«Entrar no Maracanã com a bandeira do meu país tornou-me conhecido. Mas senti-me muito sozinho, gostava de ter estado com compatriotas», lamenta, antes de formular um desejo.

«Gostava muito de conhecer o Neymar. Tento imitá-lo no relvado e no estilo. Para mim é o melhor do mundo».

Etimoni Timuani correu na pista que recebeu Usain Bolt, Justin Gatlin ou Wayde van Niekerk. E isso já ninguém lhe tira. Deu o que tinha, honesto, e agora vai voltar à modalidade que ama.

«Sim, voltarei ao futebol e a concentrar-me em ser futebolista. Daqui a quatro anos… não sei».

Apaixonado pelo desporto-rei, Etimoni Timuani é adepto do Barcelona e do Real Madrid. Talvez seja o único no atleta com estas paixões teoricamente incompatíveis. Do Rio de Janeiro leva as histórias e a visita ao Cristo Redentor. «A estátua não cabia na minha ilha».

Boa sorte, Etimoni. Até breve.

«Hey, é de Portugal, não é? Vi a final do Europeu nas Ilhas Fiji. A maior parte das pessoas torcia por França, eu e o meu treinador éramos os únicos por Portugal. Festejei o golo do Éder».

Está registado. Éder é famoso em Tuvalu.