O jogador da U. Leiria Ousseni Zongo corre o risco de ser extraditado para o seu pais de origem, o Burkina Faso, na sequência de uma ordem de expulsão emitida pelo SEF (Serviço de Estrangeiros e Fronteiras), que deverá ser cumprida até 11 de Dezembro. As autoridades portuguesas detectaram que o atleta se encontra na lista negra de pessoas proibidas de circular no espaço Schengen, na sequência de uma irregularidade relacionada com um visto emitido pela embaixada da Alemanha em Malta, onde jogava antes de ser contratado pelos leirienses.
O caso é confuso e digno de interpretações diferentes. Os primeiros problemas surgiram quando Zongo, em Dezembro de 2006, foi apanhado pelos serviços alfandegários de Munique, em trânsito para a Bélgica, mas com um visto emitido pela embaixada alemã. «Fiquei surpreendido porque já não era a primeira vez que ia para outro país da Europa com uma autorização dos serviços alemães. No entanto, não me deixaram seguir e ameaçaram-me com o tribunal ou uma multa de 450 euros. Optei pela segunda via, paguei a multa, e fui obrigado a voltar para Malta», explica o médio africano ao Maisfutebol.
O segundo episódio desta novela - dramática, pelo menos para o visado - dá-se em Julho deste ano, quando a U. Leiria entra em cena e o convida para um período de testes, durante a pré-época. É então que Zongo tenta obter a indispensável autorização para viajar para Portugal através da embaixada portuguesa, mas esta remete-o para a congénere francesa, porque, de acordo com o jogador, «não tinha capacidade de emitir vistos».
Depois de alguma discussão entre os serviços franceses e alemães, já cientes do ocorrido em Munique, o visto é-lhe concedido pelo período de um mês. Ora, é nesta fase que poderá ter acontecido uma segunda prevaricação: Zongo teria um visto para entrar em França, mas acabou por rumar a Portugal.
Detido e presente a um juiz
A acrescentar a esta primeira explicação, meramente técnica, há toda uma série de peripécias que deixaram o jogador «em baixo e à beira do desespero». Numa manhã de Setembro, revela ter sido detido e presente a um juiz de instrução criminal no Tribunal de Leiria, que lhe decretou o termo de identidade e residência. O SEF apercebera-se da situação irregular e recusou-lhe o visto de trabalho, mesmo se já tinha um contrato de trabalho para quatro anos.
No meio disto tudo, a Liga aceitou a inscrição e Zongo até participou em três jogos da U. Leiria. Só não pôde defrontar o Bayern Leverkusen para a Taça UEFA para não se arriscar a ter novamente problemas na Alemanha.
Drama familiar
«Não sou um criminoso, não roubei nada, apenas cometi o erro de ter mentido ao pedir o visto, mas paguei por isso, e pensava que estava tudo ultrapassado. O futebol é a minha vida. Estou na Europa desde 2000 para trabalhar, não para passear, e não sei fazer mais nada. Ainda por cima, dizem que não posso circular no espaço Schengen por cinco anos, ora isso significará o fim da minha carreira. Não me importo de ir parar à V Divisão, quero é ficar cá!», suplica o jogador.
Zongo garante ser o sustento dos seus pais e irmãos, que vivem na Costa do Marfim, e não pensa ficar no Burkina Faso, onde não tem família, mas assegura que não se sentirá seguro na pátria de Drogba: «Os dois países estiveram em guerra. As coisas estão agora mais calmas, mas aquilo é um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento.»
Os problemas com vistos de atletas africanos não são caso virgem no clube do Lis. Já na época passada, Serge NGal foi forçado a passar dois meses nos Camarões a seguir ao Natal, depois de ter deixado caducar o documento e devido às dificuldades em conseguir renová-lo a partir do seu país.
A única esperança de Zongo, neste momento, é conseguir ganhar tempo (requereu a prorrogação do pedido de extradição) para resolver a questão e, além dos serviços jurídicos da U. Leiria, tem uma advogada em Portugal e outro na Alemanha que procuram solucionar o caso.