Depois de uma edição itinerante em 2020, o Campeonato da Europa volta a ter sede fixa em 2024. Será na Alemanha ou na Turquia, as duas únicas candidaturas. A decisão é do Comité Executivo da UEFA, depois de uma avaliação técnica que parece inclinar-se para a proposta alemã, e será conhecida nesta quinta-feira.

A candidatura da Alemanha promete dez estádios já existentes e todas as infra-estruturas necessárias para uma grande competição. São dez estádios divididos por dez cidades, todas bem servidas por transportes e com capacidade hoteleira e diversidade de locais de trabalho para as seleções assegurada.

Ainda assim, não totalmente consensual.

Antes de mais há uma questão financeira, o facto de não ter sido dada pelas autoridades alemães isenção de impostos a eventuais receitas associadas ao Europeu, o que é sublinhado no relatório de avaliação da UEFA, divulgado no final da semana passada. E além disso há também sinais de oposição por parte da sociedade alemã, vocalizadas sobretudo por grupos de adeptos.

No passado fim de semana foram várias as manifestações nos estádios contra a candidatura alemã, numa altura em que muitos adeptos questionam decisões da Bundesliga como as mudanças de horários de jogos, ou as partidas à segunda-feira, defendendo que os interesses comerciais e televisivos estão a colidir com o interesse dos fãs. Além disso, há a sombra que paira sobre a última candidatura vencedora da Alemanha, a organização do Mundial 2006, rodeada de suspeitas de suborno e compra de votos.

Foi tudo isso que levou a cartazes críticos nas bancadas. Alguns deles adaptavam o lema da campanha da candidatura alemã, «United by football», para um mais materialista «United by money». Adeptos do Werder Bremen, do Dínamo Dresden, do Estugarda, entre vários outros, uniram-se em manifestações como estas.

Do ponto de vista formal, por outro lado, não haverá muito a apontar, a uma candidatura alemã que quer organizar o Europeu pela primeira vez desde a reunificação: antes recebeu o Campeonato da Europa de 1988, já depois o Mundial 2006. Um país com provas mais que dadas quanto a capacidade de organização e com uma aposta forte numa candidatura que tem como rosto Philip Lahm.

O relatório de avaliação da UEFA resumiu a candidatura alemã nestes termos: «É de alta qualidade e está confortavelmente à altura das expectativas no que diz respeito a aspectos políticos, de responsabilidade social, sustentabilidade e direitos humanos».

Todos os estádios propostos pela Alemanha existem e estão operacionais, precisando apenas, diz a UEFA, de «melhorias específicas» para cumprirem as exigências do torneio. No total, a Alemanha oferece uma capacidade de 2.780 milhões de lugares para os 51 jogos da competição.

Os estádios propostos pela Alemanha:

As distâncias estimadas entre cidades-sede na Alemanha, de automóvel e de comboio:

A referência aos direitos humanos pode ser uma das chaves neste processo. Veja-se a diferença na conclusão genérica do relatório da UEFA sobre a candidatura da Turquia: «Cumpre os critérios políticos, de responsabilidade social e de sustentabilidade. A falta de um plano de ação na área dos direitos humanos é motivo de preocupação.»

O cenário de fundo é a atual situação da Turquia, depois da convulsão dos últimos anos que levou a poderes reforçados de Tayyip Erdogan, com acusações de perseguição a opositores e atropelo dos direitos humanos.

Mas não é só por aí, a UEFA também alerta para a atual situação económica do país, com a lira turca em desvalorização. «Os recentes desenvolvimentos económicos no país podem colocar os investimentos públicos planeados sob pressão», diz o relatório, que nota de resto como a candidatura turca depende de várias infra-estruturas ainda por construir.

Uma questão obviamente sensível, tanto mais que o relatório sublinha o facto de a rede de transportes, internacionais em algumas cidades, e sobretudo domésticos, depender de melhorias estruturais prometidas pelas autoridades turcas até 2024.

São também 10 os estádios propostos pela Turquia, em nove cidades. Mas três deles serão reconstruídos, incluindo o Estádio Ataturk, em Istambul, que vai receber a final da Liga dos Campeões em 2020. O relatório diz que isso pode ser «um risco» para uma das organizações. A capacidade total de lugares proposta pela Turquia é de 2.490 milhões.

A grande aposta da Turquia é de resto a novidade e a perspetiva de abrir «novos mercados» para o futebol europeu. Um país que nunca organizou uma grande competição e que promete compromisso integral com a candidatura.

Os estádios propostos pela Turquia:

As distâncias entre cidades-sede na Turquia: