O Campeonato Nacional de Seniores estreou-se nesta época 2013/14 englobando as antecedentes IIª e IIIª divisões nacionais. Um novo formato englobando 80 equipas para garantir a mesma promoção de três clubes à Liga de Honra. Mas nem tudo está assim tão líquido nesta altura, nem as mudanças levaram à aprovação. Os sentimentos auscultados manifestam-se mesmo insatisfeitos.

O novo campeonato divide as 80 equipas participantes em oito séries de 10 tendo em conta divisões regionais entre continente e ilhas. Os dois primeiros classificados desta primeira fase passam à fase em que se vai definir a subida de escalão.

As 16 melhores equipas da primeira fase são divididas em duas séries (norte e sul) de oito equipas cada, com pontos a partir do zero. As equipas da zona norte serão Limianos, Bragança, V. Guimarães B, Vizela, Boavista, Freamunde, S.João Ver e Cesarense. A zona sul será composta por Benfica C. Branco, Sertanense, Mafra, U. Leiria, Loures, Oriental, Pinhalnovense e Ferreiras.

Os dois primeiros destes dois agrupamentos sobem automaticamente à Liga de Honra. Os dois segundos classificados de cada zona fazem um play-off a duas mãos para encontrar o terceiro clube que sobe. Os vencedores das duas séries da subida disputam ainda uma final para encontrar o campeão.

As oito restantes equipas de cada série da primeira fase vão lutar pela manutenção e repetem os agrupamentos (de A a H) numa fase também a duas voltas. A regra aqui é que começam com metade dos pontos da primeira fase (sendo que os ímpares dobram a favor). Os cinco melhores de cada uma destas séries garantem a manutenção. Os dois últimos de cada descem. Os sextos classificados de cada série farão um sorteio para determinar quatro play-offs de manutenção de quatro clubes e despromoção de outros quatro.

O sorteio do calendário desta segunda fase irá acontecer na próxima segunda-feira, na sede da Federação Portuguesa de Futebol. Agora que terminou a primeira parte do novo nacional de seniores e está para começar a fase onde tudo vai ficar decidido, as análises recolhidas pelo Maisfutebol tendem para um mesmo lado: a mudança foi para pior.

Menor competitividade

José Cristo é presidente do Mafra, clube que vai disputar a fase de promoção como primeiro classificado do Grupo F, mas não é por isso que está mais satisfeito com este novo modelo: «É mau. Pela primeira vez ficámos em primeiro e não subimos.» «Para o Mafra e o Leiria há o objetivo da subida. Para os outros vai ser um campeonato triste, quer para os jogadores, para os dirigentes. Vai ser de desmotivação», analisa de forma geral.

O presidente do Gondomar – 3º classificado do Grupo C (atrás de Boavista e Freamunde) – ficou «convencido» de que o novo formato ficou «pior». «Ficámos com 34 pontos. Vamos ficar com 17 [na segunda fase]. Quem teve 24 vai ficar com 12. A diferença é de cinco pontos», explica Álvaro Cerqueira.

Juntando as condicionantes regulamentares que vão caracterizar a próxima época, o Gondomar colocou-se no centro de uma questão regulamentar ao questionar quem subirá à Liga de Honra se o Boavista ficar num lugar de promoção ao segundo escalão e se se confirmar que o clube do Bessa é promovido à I Liga 2014/15 (tendo cumpridos os pressupostos financeiros exigidos). Álvaro Cerqueira defende que deve ser um clube da III Divisão a subir à Honra ao mesmo tempo que prevê que será um dos despromovidos deste escalão a ser repescado pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional (Liga): «Deixa de existir o regulamento da Federação e passa a existir o regulamento da Liga. E ela vai convidar clubes que desceram».

«Agora estamos nós a fazer barulho se o Boavista ficar em primeiro. Outros também farão porque a Liga vai fazer o convite a um clube que desceu», reafirma o presidente do Gondomar explicando que o seu clube aguarda agora pela resposta à exposição enviada à Associação de Futebol do Porto e à FPF. «Se eles não nos derem razão não podemos fazer nada. Mas, assim, vamos ter uma resposta porque não ficámos parados», assume Álvaro Cerqueira.

José Cristo também acredita que «a Liga irá escolher a equipa que mais lhe agradar». «Espero que este não seja o campeonato dos históricos mas de quem lute por isso. Se for como no ano passado em que teve de subir um histórico...», critica o presidente do Mafra acrescentando que a norma das competições deveria ser «descer muitos e subir muitos».

«Havia mais motivação se subissem e descessem quatro ou cinco, havia mais competição», explica José Cristo, no que é acompanhado pelo presidente do Fátima (4º classificado no mesmo grupo). «Com o campeonato nos moldes anteriores há mais competição. Como há se mais equipas lutarem pela subida», afirma Sérgio Frias apontando que, «com este formato, será mais difícil a subida».

«Haverá equipas de vários pontos do país que não terão tantas hipóteses», refere o líder do Fátima explicando que «há realidades diferentes» e «orçamentos diferentes», concretizando: «As equipas do norte têm outra capacidade. As do Alentejo, por exemplo, não têm tanta capacidade e têm de jogar muito mas com jogadores da casa».

Menos interesse

As desvantagens em termos competitivos são extensíveis por Sérgio Frias ao impacto no público, pois a prova «tornou-se um pouco menos interessante, com os adeptos a estarem a ver uma equipa para não descer». «Uma luta pela manutenção não tem tanto interesse para o público», garante o presidente do Fátima. O seu homólogo do Gondomar deixa mesmo a questão em aberto: «Imagine quem é que vai ver os jogos...» E o presidente do Mafra conta que «à 3ª ou 4ª jornada do fim [da primeira fase] com a classificação assegurada, os adeptos deixaram de aparecer».

«É muito mau para treinadores, dirigentes, que vão andar 3 a 4 meses sem interesse nenhum», afirma José Cristo. Sérgio Frias conta que não obstante o planeamento da equipa se manter «o mesmo, os objetivos mudam» e que há «jogadores vão querer sair» depois da primeira fase».

O presidente do Fátima assume que este formato «tornou-se um pouco mais vantajoso porque as deslocações não ficam tão grandes, porque acaba por se jogar sempre na zona». Mas «foi das poucas vantagens» para Sérgio Frias, que não é acompanhado por Álvaro Cerqueira neste ponto. «Jogos mais perto? Onde? Demoramos duas horas para jogar em São Joãode  Ver. Fomos jogar à Madeira. Também é perto? O Camacha ficou aqui outra vez...», exemplifica o presidente do Gondomar.

José Cristo teve o Mafra na mesma série do Fátima e nem as mais pequenas deslocações deste agrupamento o deixaram também mais animado. O presidente do 1º classificado Grupo F ficou desiludido com o interesse competitivo no novo Campeonato Nacional de Seniores: «Com todo o respeito que tenho por essas divisões, faz-me lembrar os regionais. É um campeonato com pouca graça. Perde interesse.»