«Quando envelhecemos, vamos perdendo algumas coisas. Isso faz parte da vida. Mas só percebemos isso quando começamos a perder coisas. Descobrimos que a vida é um jogo de centímetros. Tal como o futebol. Porque, em ambos os jogos, a vida ou o futebol, a margem de erro é tão pequena… Meio passo demasiado cedo ou tarde, e já não conseguimos. Meio segundo demasiado lento ou rápido, e não apanhamos. Os centímetros que precisamos estão à nossa volta. Estão em todas as oportunidades do jogo, todos os minutos, segundo»

O discurso motivacional interpretado por Al Pacino no filme «Any Given Sunday» (Um domingo qualquer) já inspirou milhares de treinadores por esse mundo fora e serve muitas vezes de referência para equipas que estão à beira de alcançar um objetivo. As palavras ditas na altura certa, a instantes do momento decisivo, são tantas vezes fator decisivo que servem para construir autênticos mitos à volta das conversas de balneário.

Num domingo qualquer (que é como quem diz, num dia de jogo qualquer) surgem discursos inspirados, que desbloqueiam medos e unem vontades. Tantas vezes redundam em sucesso, se bem que só conhecemos as histórias que resultaram em conquistas e nunca as brilhantes palavras que terão sido proferidas mas que não foram absolutamente certeiras.

Os portistas conhecem a história da palestra de Artur Jorge ao intervalo da final de Viena em 1987, quando a equipa estava a perder por 1-0 com o Bayern de Munique. «Se querem ficar na história têm de ganhar agora. Fizemos um longo caminho até aqui, deixámos as nossas famílias longe, percorremos milhares de quilómetros, e não foi para perder», disse na altura, com impacto comprovado pelos atletas presentes no balneário do Estádio do Prater, que levantariam a primeira taça de campeões europeus do clube. Uma espécie de primeira versão do que Mourinho viria a dizer uns anos mais tarde: «As finais não são para jogar, mas para ganhar».

Esta componente psicológica do futebol está cada vez mais presente na organização de uma equipa e não pode ser desperdiçada na abordagem ao jogo decisivo. Scolari fez um trabalho brilhante nesse sentido na Seleção Nacional e Paulo Bento não pode ficar atrás desse legado esta sexta-feira, quando os jogadores portugueses se prepararem para pisar o relvado do estádio de Alvalade.

Quando todas as táticas estiverem acertadas, todas as movimentações do adversário estudadas e for necessário um condimento adicional, o selecionador terá de colocar nas cabeças de cada um dos jogadores o sentido de união como equipa, depositando a semente de um objetivo de carreira que é estar presente no Mundial de futebol.

Regressando a Oliver Stone, nada mais importa, como explica num brilhante vídeo de promoção do Mundial do Brasil: «Este não é um jogo qualquer, mas o Mundial. Milhões de pessoas a ver, centenas de países, dezenas de raças, todas as religiões». É essa a motivação que a Seleção necessita para garantir o apuramento. Façam história.

Para quem ficou curioso, aqui fica o trecho completo da palestra de Al Pacino


E já agora o vídeo promocional do Mundial do Brasil


«Um domingo qualquer» é um espaço de opinião de Filipe Caetano