As grandes movimentações do mercado futebolístico estão cada vez mais dependentes de fatores que os clubes não conseguem controlar. Seja pela intervenção dos fundos, através do investimento de um oligarca russo ou de um sheik árabe, para já não falar das lesões dos jogadores ou de uma grande exibição que pode mudar o rumo de uma carreira. A formação de um plantel e a gestão de carteira de investimentos fica à mercê de variáveis muitas vezes ausentes de regras e permeáveis a influências externas. A isto temos de juntar as virtudes e defeitos de quem controla um clube.

Se bem que a componente menos atraente do espetáculo futebolístico seja a administração dos clubes, é um facto que sem presidentes, administradores, diretores comerciais e de marketing não há forma de garantir os fundos que façam a máquina girar. A interdependência é inescapável, por isso não vale a pena ostracizar quem manda só pelas alarvidades que muitas vezes atiram contra o próprio sistema, também composto por equipas de arbitragem e outros agentes.

Enquanto os jogadores se esforçam, as equipas lutam, os treinadores organizam e os adeptos aplaudem (ou protestam), alguém tem de pensar em encontrar soluções constantes para o presente e quase sempre para o futuro. Antes de atingirmos a fase das decisões de uma época já os diretores desportivos e os presidentes estudaram perfis de jogadores e treinadores, definiram objetivos e detetaram os aspetos a melhorar na temporada seguinte.

Até que chega o momento das decisões, como aquele em vivemos por estes dias. Enquanto o FC Porto já resolveu o seu problema com a equipa técnica, Benfica, Sporting, Estoril e até Sp. Braga aguardam pelo bater das asas da borboleta para que o tufão passe pelas suas realidades. O efeito borboleta pode facilmente gerar o caos nestes clubes e muitas pessoas estão dependentes desse pequeno gesto para que o mercado comece a funcionar.

O bater de asas do Mónaco levará Leonardo Jardim e depositará três milhões de euros nos cofres do Sporting. A partir daí tudo pode acontecer e não é seguro que a alternativa encontrada por Bruno Carvalho seja Marco Silva, uma vez que o ex-treinador do Estoril é visto como o sucessor ideal de Jorge Jesus se o técnico encarnado sair para o AC Milan, clube que está prestes a ser comprado pelo empresário Peter Lim. Sobra Nuno Espírito Santo, que é aposta forte de Jorge Mendes e até pode ir parar ao Sporting… de Lisboa, enquanto é cobiçado por António Salvador para o Braga. A roda das cadeiras ainda só agora começou e deixará livres mais algumas, como a do Estoril ou do Rio Ave, e com nomes bem interessantes no mercado, como José Couceiro ou Pedro Martins.

E ainda só estamos nos treinadores, porque em ano de Mundial muito do que se possa decidir sobre jogadores vai ficar adiado para o final do mês de junho/início de julho. Ainda assim, a entrada de Lopetegui no Dragão deverá trazer sangue espanhol (para além do guarda-redes Ricardo e o médio Evandro) e a necessidade de remodelação do plantel obrigará a encaixes financeiros consideráveis através da venda de alguns jogadores importantes, como Fernando e Mangala para o Manchester City (observados no Dragão várias vezes pelo diretor Txiki Begiristain) e Iturbe para quem o agarrar (a cláusula de 15 milhões será facilmente paga). O Sporting corre o risco de perder alguma das suas pérolas que faça um bom Mundial e o Benfica também está exposto após a grande época, sabendo que já não vai poder contar com André Gomes e Rodrigo, que devem ir para onde Peter Lim for.

No meio de tudo isto está muito dinheiro, é um facto, e o segredo estará na forma como os principais clubes vão conseguir cumprir os seus compromissos passados antevendo sucessos no futuro. A próxima época será fantástica em Portugal, com muitas mudanças à vista e a certeza de que a enorme competência do nosso futebol em formar estrelas (jogadores e treinadores) é um garante de sucesso no futuro.

«Um domingo qualquer» é uma crónica de opinião quinzenal do jornalista Filipe Caetano