O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

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Leia a apresentação de Nuno Marques

NUNO MARQUES, NOTODDEN FK (NORUEGA):

«Olá a todos os leitores do Maisfutebol,

Com a época finalizada desde os finais de novembro, e com os exames e trabalhos da Universidade concluídos há um par de semanas, regressei a Portugal para passar a época natalícia e o ano novo com a família.

É durante este período de férias que me apercebo ainda mais da triste realidade em que o futebol e sociedade portuguesa se encontram.

Já vou a caminho da minha décima época no futebol norueguês, e nunca nestes anos todos tive salários ou prémios em atraso! Por norma, os clubes noruegueses pagam os salários no próprio mês, não no mês ou meses seguintes como se pratica aqui em Portugal.

Como já tinha referido num dos meus textos anteriores, embora a qualidade do futebol norueguês seja inferior ao do português, ter sempre tudo em dia e estar rodeado de pessoas honestas e profissionais faz com que uma pessoa não ambicione nem muito menos tenha intenções de regressar a Portugal.

Na Noruega, os salários em atraso não são tema de discussão, muito por culpa também das regras federativas, pois a Federação e Sindicato dos Jogadores não permitem este tipo de situações, ao contrário da realidade que existe em Portugal.

Por lá, alguns clubes da Liga e quase todos das divisões inferiores treinam na parte da tarde, ou seja, alguns clubes treinam às 14h, outros as 15h, 16h, 17h, etc. Desta maneira, os clubes dão oportunidade aos jogadores de estudarem e de trabalharem.

Este foi um dos fatores que me levaram a permanecer em Notodden nestas últimas cinco épocas. Embora tivesse tido algumas propostas mais vantajosas a nível desportivo e financeiro, optei ano após ano por continuar na pacata cidade de Notodden. Desta maneira consegui conciliar a família, estudos e o futebol. Aulas da parte da manhã, treinos às 16h e a noite para a família. A maior parte dos clubes têm acordos com as Universidades e empresas locais, permitindo aos jogadores combinar da melhor maneira o futebol com os estudos ou trabalho.

Com muitos sacrifícios e ajuda da minha família consegui entrar para o curso de Direito na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, mas só consegui fazer dois anos de direito em regime pós-laboral, pois naquela altura era impensável pedir ao clube aonde eu jogava naquela altura dispensa dos treinos ou para ir a aulas ou para ir fazer exames.

Na Noruega, os clubes, Universidades e Sindicato dos Jogadores motivam e incentivam os seus jogadores a conciliarem os estudos com o futebol.

Gostaria imenso de ver tais medidas a serem implementadas em Portugal, mas não tenho qualquer esperança em que isto aconteça nem num futuro próximo nem num futuro longínquo.

A realidade do futebol português é um espelho deste governo que gere os destinos do país, onde impera a corrupção, mentira, desonestidade e imoralidade. As ações de muitos presidentes de clubes portugueses e de muito membros do governo português são motivadas por interesses pessoais e/ou de determinados grupos/agentes.

Como português sinto muita tristeza e alguma revolta em ver o estado que o nosso país chegou e acho vergonhoso reparar que a miséria está cada vez a aumentar mais!

Quero aproveitar para desejar um Feliz Natal a todos os leitores do e também um ano 2013 bem melhor do que o de 2012.

Um abraco desportivo,

Nuno Marques»