A oficialização nesta quarta-feira de Sérgio Conceição como treinador do V. Guimarães é mais um momento da rivalidade entre os dois maiores clubes do Minho e que sobressai quando, como neste caso, um elemento que esteve num dos lados da barricada passa a representar o outro.

O caso presente tem como caraterísticas acrescidas o facto de Sérgio Conceição ter mudado para Guimarães depois de ter saído de Braga (sem qualquer outro clube de intervalo) e o facto de os dois clubes terem encontro marcado no próximo domingo, em jogo da sexta jornada da Liga.

Sérgio Conceição entre grandezas e equilíbrio de «forças» no Minho

Tendo em conta as últimas décadas, os elementos que representaram os dois emblemas é significativo. Os jogadores são, claro está, a maioria dos casos, mas, entre os treinadores, Sérgio Conceição está longe de ser o primeiro a juntar os dois clubes no currículo. É porém, o primeiro a sair diretamente e um para o outro sem qualquer passagem por outro clube de permeio.

Atualmente na Liga portuguesa há dois treinadores que já orientaram quer V. Guimarães quer Sp. Braga: são eles Manuel Machado e Jorge Jesus – ambos estiveram primeiro na Cidade Berço e só depois na dos Arcebispos. Assim como Manuel Cajuda e Vítor Oliveira também estiveram primeiro em Guimarães.

Recuando ainda até à década de 1980, a tendência Guimarães primeiro, Braga depois mantém-se com um treinador desligado de qualquer clube no presente. Manuel José faz o enquadramento perfeito do que é treinar os dois rivais, ele que se estreou pelo Vitória (como Conceição fará) precisamente num dérbi minhoto (que venceu o Sp. Braga de Quinito, por 2-0).

Manuel José fala deste jogo entre rivais como um síbolo da «paixão regional», com duas diferenças: uma mais antiga; outra mais recente – daí o enquadramento exigível. «Em Guimarães, os adeptos são adeptos só do Guimarães. Em Braga, a maior parte são adeptos do Benfica», diz ao Maisfutebol o treinador atualizando aquelas diferenças: «O Braga cresceu muito» com esta direção de que são exemplos «a final da Liga Europa» e a «discussão do título de campeão com o Benfica». «A paixão cresceu nos adeptos do Braga, que tem estado melhor» do que o rival.

Críticas ao V. Guimarães eram para «equilibrar forças»

O treinador português de 69 anos analisa que as declarações sobre o V.Guimarães enquanto treinador do Sporting minhoto foram uma estratégia de Sérgio Conceição para «jogar com os adeptos do Vitória», para «tentar tirar vantagem». E aponta que «ele também não saiu a bem de Braga» e que «com certeza vai matar-se e puxar pelos jogadores» do V. Guimarães. Este é «um jogo que tem uma carga emocional maior que qualquer outro» e é preciso «jogadores em crescendo no jogo, superando-se». O dérbi minhoto, garante Manuel José «é para gente de barba rija, de caráter forte».

No jogo de domingo as equipas vão apresentar-se com emoções muito diferentes, diz o treinador português. Se o Braga «vem de duas vitórias importantes (em Liberec para a Liga Europa e a goleada ao Marítimo) e está com a auto-estima em alta», o V. Guimarães «estava em baixou e revitalizou» com esta «chicotada» que «pode ser aproveitada pelo Sérgio Conceição», se bem que o novo técnico vimaranense «tem muito pouco tempo para preparar a equipa».

«Vai ser sempre a parte psicológica a funcionar, onde ele vai incluir a forma como saiu de Braga e que vai levar a que ele tenha tudo para estimular os seus jogadores», prevê Manuel José sabendo que Sérgio Conceição «tem consciência de que este jogo com o Braga pode acalmar tudo com os adeptos do Guimarães».

Manuel José considera que «o Braga tem melhor qualidade» e que «é o temperamento do seu treinador que pode dar vantagem ao Guimarães», pois a equipa bracarense «é mais experiente, tem um treinador sistematizado, que não tem medo e que vai a Guimarães para ganhar o jogo».

Para Paulo Fonseca não interessará muito ser o sucessor de Sérgio Conceição, até porque «saíram bastantes jogadores do Braga» e o técnico dos «guerreiros» não temerá o conhecimento que o técnico adversário possa ter da sua equipa. «Isso não vai contar» porque Paulo Fonseca «sabe o que vai encontrar, quem é o Sérgio e que as suas equipas não se entregam».

Tendência maior é para sair de Guimarães para Braga

O próprio Paulo Fonseca representou como jogador o clube que no domingo vai defrontar como treinador. Os caminhos entre os rivais minhotos têm muitos pontos de encontro não só entre treinadores, bem como entre jogadores. E, estes, ao longo das tais últimas décadas como baliza preenchem todas as possibilidades previstas: de um para outro clube, com outros emblemas intercalados ou tendo mudado diretamente.

Nesta diferenciação, a tendência maior é a dos jogadores que saíram diretamente de Guimarães para Braga: Custódio, Gonçalo Silva, Alan, Douglas, Abel, Jaime Júnior, João Tomás, Paulo Gomes, Carlos Lima, Riva e Edmilson.

No sentido inverso, mas passando por outro(s) clube(s) antes rumar ao Vitória minhoto, são também alguns os que estiveram primeiro na Cidade dos Arcebispos: Kanú, João Alves, Cícero, Henrique, Luis Filipe, Elpídio Silva e Carlitos.

Os que foram primeiro «conquistadores» e mais tarde «guerreiros (também com outras paragens intercalares) ainda são menos: César Peixoto, Paíto, Rabiola, Tito e Carlos André. Os que saíram diretamente de Braga para Guimarães são os da tendência em menor número: apenas Sami e Paulo Sérgio.