O Bonfim impunha respeito. Albergava um Vitória acostumado a olhar sem espanto para a UEFA. Ora, por isso mesmo, os campeões do F.C. Porto de 1977/78 não podiam facilitar. Iniciaram o campeonato a vencer por 0-1 em Setúbal, golo de Gabriel, e só pararam 29 jornadas depois com o bicampeonato na mão.

A recordação da efeméride tem todo o propósito. Afinal, foi a derradeira ocasião em que o F.C. Porto iniciou a prova maior do calendário nacional à beira Sado. 35 anos depois, o cenário repete-se. Mudam as personagens, muda o contexto, mantém-se o cenário.

Rodolfo Reis era figura de proa e capitão no Porto de mestre Pedroto. Fala desses tempos com orgulho, como se tudo se tivesse passado há um par de dias. Há memórias que se agarram e não fogem.

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«Esse Setúbal era muito mais poderoso do que o atual. Creio que nós tivemos mais problemas do que o Porto terá este domingo», projeta o antigo médio ao Maisfutebol.

O Vitória tinha Silvino (esse mesmo) na baliza e elementos da dimensão de Narciso, Jacinto João e o inesquecível Vítor Batista. Passar no Bonfim não era para qualquer um. «O senhor Pedroto, aliás, tinha treinado lá [1969-1973] e avisou-nos à maneira dele: é para comê-los!».

Parte da conversa, de resto, serve para recordar essa personagem extraordinária. Quase lendária. Rodolfo não mais esquece a semana em que se preparou a visita ao Bonfim.

«O senhor Pedroto fazia só treinos de conjunto. Corrigia movimentos e queria muita bola no pé. E também fazia questão de vestir a equipa dos reservas com a cor do adversário. Nesse caso, de verde», conta o antigo jogador e treinador do F.C. Porto.

Mensagens berradas aos ouvidos, gestos frenéticos e, sempre mas sempre, um respeito quase religioso por parte do plantel. O presidente Américo de Sá depositava uma confiança cega em Pedroto e os resultados faziam tábua rasa de uma personalidade «complexa».

V. Setúbal-F.C. Porto (antevisão): 30 anos com Bonfim

Após 19 anos de submissão ao poderio dos grandes de Lisboa - «tantas goleadas levávamos», assente Rodolfo Reis ¿ a insubordinação dos rebeldes nortenhos ficava ali gravada, nestes dois título consecutivos.

A ditadura azul e branca teria, no entanto, de esperar mais um pouco, até disseminar a sua cartilha pelo mapa futebolístico indígena. A partir de 1984/85 tudo mudaria: 20 títulos em 29 edições do campeonato nacional (Benfica, 6; Sporting, 2; Boavista, 1).

Nesse jogo no Estádio do Bonfim, realizado a 26 de agosto de 1978, o F.C. Porto comandado por José Maria Pedroto apresentou a seguinte equipa:

João Fonseca; Gabriel (Teixeira I, 80), Simões, Freitas e Vieira; Rodolfo Reis, Frasco e Duda; Vital, Fernando Gomes (Francisco Gonzalez, 66) e Costa.