Texto do jornalista Paulo Pedrosa, publicado no Maisfutebol por ocasião dos 40 anos

A personalidade forte de José Mourinho gera controvérsia. O treinador não mostra problemas em abordar frontalmente aquilo que o preocupa ou satisfaz e isso causa incómodo. Para os pais do treinador do F.C. Porto, o discurso é erradamente interpretado por algumas pessoas, mas pode ter surgido em função das dificuldades que José Mourinho encontrou quando começou a ser treinador principal no Benfica.

«É a maneira dele ser», começa por dizer Maria Júlia. «Ou se calhar foi a maneira que ele encontrou para se impor no meio dos velhos do Restelo. Os antigos que não aceitaram a chegada de um gaiato. Não digo que é inveja, mas sim a dificuldade de abrir aos novos», afirmou, acrescentando que até pessoas que conheciam o percurso do jovem treinador se viraram contra ele: «Foram muitos os que tentaram espetar-lhe facas nas costas. Até pessoas que nos conheciam e que sabiam que ele vivia o futebol desde gaiato, disseram coisas que não deviam ter dito. Ele entrou por cima e as pessoas não aceitaram isso. Foi no Benfica que tudo começou.»

Se o pai fosse como o filho¿

Félix Mourinho garante que José, o filho, não tem nada a ver com arrogância. «Quando leio os jornais ou vejo certas pessoas dizerem que ele é um vaidozão, tenho vontade de rir e ao mesmo tempo alguma tristeza», afirma. «É que algumas pessoas ficam com aquilo no ouvido. Dizem que ele é vaidoso e prepotente. O Zé não é nada disso. Não foi nem nunca será. Tem uma personalidade muito forte, graças a Deus. Uma personalidade fortíssima que o pai nunca teve¿.»

É precisamente neste ponto que Maria Júlia intervém para puxar a si os genes da personalidade de José Mourinho. A mãe do treinador do F.C. Porto diz que a postura de Mourinho pode ser uma forma de contrariar a demasiada modéstia do pai. «A arrogância que dizem que ele tem até pode vir do facto de o pai não ter conseguido ir mais além devido à sua modéstia. Porque ele viveu muito a carreira do pai», explica Maria Júlia.

Félix Mourinho confirma a teoria: «Se calhar, se o pai fosse como é o filho teria sido mais treinador do que foi. Sai à mãe. Não tenho dúvidas que foi por isso que ele chegou onde chegou. Não tem medo das coisas nem do que as pessoas pensam. Agora penso que ele me contagiou. Ganhei alguma da personalidade dele. Há dez anos respondia de uma forma, agora respondo de outra. Comecei a ver que ele é que está certo e não eu, com a minha modéstia. Perdi algumas coisas que ele agora está a ganhar. Ele não é vaidoso, tem personalidade e diz o que tem a dizer sem medo.»