Acho que os portugueses, de uma forma geral, não têm direito de fazer grandes exigências aos atletas olímpicos. E nós, jornalistas, também não.
Ao contrário de nós, que acordamos para os Jogos de quatro em quatro anos, os atletas passam os dias a preparar-se para fazer o melhor possível. Sim, porque ninguém acredita que treinem para o boneco. Para passear não necessitavam de tanto esforço.
Já aos dirigentes é legítimo pedir sempre mais.
Vicente Moura, presidente do Comité Olímpico, foi de resto o mais fraco da comitiva.
Esteve mal ao fixar objectivos de medalhas. O seu papel é precisamente outro: aproveitar a atenção mediática para explicar aos portugueses as dificuldades do nosso desporto e sugerir alterações. Reclamar, apresentar ideias.
Ao estipular o número mínimo de medalhas inventou uma pressão extra. Sem necessidade.
Quando as coisas começaram a sair mal, Vicente Moura reagiu sem bom senso. Ninguém deve admitir, a meio de uns Jogos Olímpicos, que está a pensar ir embora. O presidente chamou para si a atenção que devia caber exclusivamente aos atletas.
Incapaz de resistir a um microfone, Vicente Moura disse em público o que devia ter guardado para a comitiva. Recados que só sublinharam algumas declarações infelizes de atletas inexperientes e pouco preparados para fazer declarações a quente.
Assim que Nélson Évora saltou para o ouro, Vicente Moura correu para as fotografias e mudou o discurso. Afinal já estava disponível para ficar. Se a lista for forte e houver gente disponível para mudar.
Mas mudar o quê? Não foi ele quem ocupou o cargo de presidente do Comité Olímpico Português nos últimos anos?
Infelizmente, Vicente Moura demonstrou estar ao nível dos piores dirigentes do futebol português. Sem equilíbrio e com total ausência de espírito olímpico. Obviamente, adeus.