Vi apenas a primeira parte da entrevista de Luís Filipe Vieira à «Benfica TV», que coincidiu, em parte, com o programa «Maisfutebol» na TVI24. Por isso não farei qualquer abordagem genérica, comento apenas o que vi e li transcrito em diferentes jornais online, a começar pelo Maisfutebol.

1. O objetivo da primeira parte da entrevista era claro: retirar pressão antes do jogo de domingo em casa. Apesar de o adversário não inspirar particular receio, o momento é mau, depois da derrota na Madeira e da contestação a Jesus. O ambiente está pesado, Vieira tentou desanuviá-lo, com um discurso que aparentava firmeza. Três ideias básicas: sabemos qual foi o problema na Madeira, está identificado e resolvido (deu a entender que tinha ido ao balneário falar com os jogadores); mudar de treinador é um erro, lembram-se de Fernando Santos (algo que já repetiu muitas vezes); não se preocupem com o Cardozo, é assunto resolvido e na segunda-feira já estará a treinar. As mensagens eram certas, a entrega foi razoável. Ao voltar a falar em ofertas para o paraguaio, no dinheiro que terão de pagar se o quiserem, o presidente do Benfica revelou que no fundo o seu desejo é receber o preço justo e deixar sair a bomba-relógio. Só não o fará se não puder. Tudo somado, creio que terá convencido os adeptos benevolentes (que são muitos, como se tem visto nos últimos anos) e colocado a dúvida nos restantes. Objetivo cumprido, pelo menos no imediato. Se o golo não aparecer logo, o público esperará um pouco mais.

2. A entrevista servia também para falar sobre mercado. Pelo que li, Luís Filipe Vieira confirmou um nome e abordou alguns dos processos do Verão. Pizzi: apesar de dizer que nada percebe de futebol, garantiu que estará no plantel do próximo ano. Não sei como pode garantir tal coisa. Os que estão no plantel vão piorar? Vão sair? O Benfica parará de comprar extremos no estrangeiro? Roberto: este é um daqueles casos em que a história piora cada vez que alguém com responsabilidade se pronuncia sobre o tema. Fariña: 40 por cento do custo está pago. Logo, com mais dois empréstimos semelhantes o Benfica começa a ganhar dinheiro com o argentino. Mas um clube de futebol pode ser isto, por mais estratégico que possa ser o Dubai?

3. Rui Costa foi um nome referido na entrevista. As explicações de Luís Filipe Vieira sobre a estrutura do futebol foram frágeis. Talvez porque ao longo dos anos o presidente tenha oscilado entre o «não sei nada de futebol» e o «para o ano estarei mais próximo do futebol». Se de facto Rui Costa é, como disse Vieira, fundamental na estrutura isso poderá ser uma boa notícia. Veremos na próxima semana. Ou na próxima entrevista.

4. Por último a Benfica TV, o fantasma Olivedesportos e a herança. Percebo o entusiasmo do presidente do Benfica com o estádio, o museu, a televisão. Concordo que a ideia de colocar os direitos televisivos na Benfica TV é original, arriscada, demonstra coragem e abre uma nova frente de negócio. Ao fim destes anos todos nem o crítico mais distraído poderá dizer que Luís Filipe Vieira não sabe negociar, não sabe construir, não é capaz de liderar um clube. Claro que é, claro que tem sido, claro que o Benfica é hoje muito diferente do que era há uma década. E claro que os números, sobretudo os conseguidos na Europa, nos dizem que também na frente desportiva as coisas melhoraram. O erro de Vieira é achar que deve ser avaliado por isso e que essas coisas dos títulos são um detalhe. Não são. E, má notícia, não é ele quem escolhe a forma como a história o julgará. Por enquanto, com apenas dois títulos numa década (mais o tempo com Vilarinho), Vieira é um daqueles avançados que precisam de muitos remates para fazer um golo. Não estaria nos primeiros nomes da lista para substituir Cardozo. Mas o paraguaio não sai, não é?