A relação entre um treinador e um clube é um pouco como um casamento: só quem a vive é que sabe exatamente porque acaba.

Este que hoje terminou, entre Villas-Boas e Abramovich, começou por surpreender. Era de risco a aposta do russo. Pela juventude do treinador português e sobretudo pelos quinze milhões de euros que pagou ao F.C. Porto.

Depois da surpresa da contratação, a surpresa de pouco acontecer em Stamford Bridge. O Chelsea optou por manter a estrutura envelhecida, com muitos jogadores do tempo de José Mourinho.

Na altura, esta opção pareceu um erro. Hoje não há dúvida, foi o erro. Resta saber se o lapso de avaliação ficou a dever-se a Villas-Boas ou a Abramovich. Ou, talvez, a ambos. Talvez um dia o saibamos, hoje ainda não.

O primeiro sintoma foi no relvado. O Chelsea não andava. A equipa não conseguia jogar em velocidade, não incomodava os advérsários. Era previsível e aborrecida de ver.

Apesar de tudo, acabou por passar a fase de grupos da Liga dos Campeões. Mas conseguiu-o a defender, em sofrimento, como se de um clube pequeno se tratasse.

Depois, quando decidiu sentar Drogba e Lampard no banco, Villas-Boas descobriu que no balneário do Chelsea não havia apenas rapazes bons. O médio inglês nunca escondeu o desconforto.

Em Fevereiro, mês que decidia a época 2011/12, André Villas-Boas esticou a corda ao afirmar que fundamental mesmo era o apoio do dono do clube, não do balneário. Estava errado, claro. Mas custa entender que não tenha percebido.

Poucos dias depois desta frase, e após algumas visitas de Abramovich aos treinos, nova derrota esgotou a paciência do russo. Um comunicado pôs fim à relação.

Em termos objetivos, o despedimento significa que era cedo de mais para Villas-Boas.

Cedo de mais para gerir um balneário envelhecido e repleto de estrelas poderosas.

Cedo de mais para lidar com uma pessoa como Abramovich.

Cedo de mais para a Premier League.

E, nunca saberemos, tudo indica que cedo de mais para a Liga dos Campeões.

Sair do Chelsea a meio da época é algo que sucede aos melhores. Aconteceu a Mourinho, é praticamente certo que se repetirá com os próximos. Aliás, diria que é mais certo do que chover em Portugal, tal o feitio de Abramovich.

A questão, para Villas-Boas, é agora outra. Depois do despedimento, o próximo passo terá de ser bem pensado. Não a cedência ao desafio e ao dinheiro que ditaram o abandono da cadeira de sonho, no Dragão.

Villas-Boas disporá seguramente de oportunidade para voltar a mostrar o que vale numa boa equipa do futebol europeu. Já não será o fenómeno que ganhou a Liga Europa, mas sim o último treinador que não resistiu a Abramovich. Como ponto de partida, faz muita diferença.

Há uma semana, ainda treinador do Chelsea, Villas-Boas recusou a possibilidade de voltar ao banco portista. Estas declarações valem o que valem, mas ficou dito. No F.C. Porto estaria provavelmente mais perto de ganhar alguma coisa do que em qualquer outra equipa, no melhor futebol da Europa. Mas, depois do fracasso em Londres, o seu sucesso seria sempre visto mais como resultado do peso e eficiência da estrutura do que por mérito próprio. É tudo o que Villas-Boas não precisa, trocar a sombra de Mourinho pela sombra de Pinto da Costa.