O dérbi londrino deste sábado é o primeiro frente a frente de treinadores portugueses na história da Premier League. É, também, pela história dos respetivos clubes, como pela história pessoal de José Mourinho e André Villas-Boas, o mais mediático dos duelos entre técnicos portugueses na elite do futebol europeu.

O Tottenham-Chelsea é, até ver, o culminar de uma década marcada pela afirmação internacional dos treinadores portugueses. Comprovam-no as sete finais europeias e quatro títulos da UEFA conquistados de 2003 a esta parte. Desses quatro títulos (duas Ligas dos Campeões e duas Taça UEFA/Liga Europa), três foram de Mourinho e um de André Villas-Boas, com o balanço reforçado pelas finais de José Peseiro, Domingos Paciência e Jorge Jesus.

Tendo como pioneiro Artur Jorge, campeão de França em 1994, a afirmação de treinadores portugueses na Europa completa a tendência exportadora para outros continentes nas últimas duas décadas. Neste plano, merecem destaque os sucessos de Manuel José no Egito, de Nelo Vingada na Árabia Saudita, e de Carlos Queiroz no Irão, entre outros. Para além da tradição de presença portuguesa nos bancos de equipas de Angola e Moçambique, retomada em força nos últimos anos.

Mas continua a ser no futebol europeu que se afere a dimensão competitiva dos treinadores. E se Mourinho é a indiscutível locomotiva portuguesa deste processo, outros nomes, como Villas-Boas, Carlos Queiroz, Fernando Santos, Leonardo Jardim, António Conceição, Jorge Costa e Paulo Sérgio já demonstraram ser possível ter sucesso em outros países da Europa. Ainda assim, os embates entre treinadores lusos são relativamente raros. Mesmo considerando campeonatos de segundo plano, como o romeno e o cipriota, habituados nos últimos anos a presenças portuguesas no banco.

Queiroz contra Pacheco, com uma taça pelo meio

O primeiro duelo relevante entre treinadores portugueses emigrantes aconteceu em agosto de 2003. Na decisão da Supertaça espanhola, Carlos Queiroz, recém-chegado ao Real Madrid, para o lugar de Del Bosque, enfrentava o Maiorca, que tinha apostado em Jaime Pacheco, depois de o português ter levado o Boavista às meias-finais da Taça UEFA. O troféu decidiu-se em dois jogos: no primeiro, a 24 de agosto, a equipa de Pacheco, com Etoo como estrela, saiu por cima com uma vitória por 2-1. No segundo, três dias depois, Queiroz conquistou o seu único troféu pelo Real, graças à vitória por 3-0.

A época não correu bem a nenhum dos técnicos: Pacheco deixou o Maiorca um mês depois, ao fim de oito jogos oficiais. Queiroz, depois de um início de época brilhante (que incluiu uma vitória por 3-1 nas Antas, sobre o FC Porto de Mourinho, futuro campeão europeu), não conseguiu impedir que a equipa entrasse numa espiral de autodestruição, arrastando-se até ao quarto lugar na Liga, com sete derrotas nos últimos oito jogos.

Mourinho contra Jesualdo

Inédito na Premier League, o embate com Villas-Boas não será o primeiro de José Mourinho com um treinador português numa Liga estrangeira: a 15 de outubro de 2010, na primeira temporada de Mourinho em Espanha, o Real Madrid foi a Málaga golear a equipa orientada por Jesualdo Ferreira (4-1) com um bis de Cristiano Ronaldo e outro de Higuaín. Os dois treinadores já se tinham defrontado fora da Liga portuguesa, em 2007: nos oitavos de final da Liga dos Campeões, o Chelsea de Mourinho empatou no Dragão (1-1) antes de sentenciar a eliminatória em Stamford Bridge (2-1).

Em Espanha, não houve segunda volta, uma vez que Jesualdo deixou o comando do Málaga pouco depois, rumo ao Panathinaikos. Ainda bem para o técnico português: no jogo de Madrid, em março de 2011, o Málaga foi triturado por 7-0, no regresso de Manuel Pellegrini ao Bernabéu.

Encontros cruzados na Grécia

Na temporada 2007/08, a Liga grega foi cenário de duplo embate entre treinadores portugueses. José Peseiro, à frente do Panathinaikos venceu por duas vezes o PAOK, treinado por Fernando Santos: 2-0 em Atenas, 1-0 em Salónica. O futebol grego voltaria a proporcionar um duelo entre portugueses na temporada 2011/12: Manuel Machado, então à frente do Aris Salónica, foi perder a Atenas (1-0), diante do Panathinaikos, já treinado por Jesualdo Ferreira.

Na época seguinte, com a chegada de Leonardo Jardim ao Olympiakos, as expetativas de um duelo de técnicos lusos no dérbi de Atenas foram defraudadas pela saída prematura de Jesualdo Ferreira, que abandonou o Panathinaikos em novembro, três semanas antes do primeiro clássico da temporada.

Roménia, Chipre e não só

A conquista do título romeno pelo Cluj, em 2011/12, também ficou marcada por um cruzamento entre treinadores portugueses: a 2 de abril de 2012, um empate (1-1) entre o Vaslui, de Augusto Inácio, e o Cluj, treinado por Jorge Costa. Menos de uma semana depois, mesmo com um avanço de cinco pontos sobre o segundo classificado, Jorge Costa deixaria o clube, não cumprindo a reta final rumo ao título.

O antigo defesa do FC Porto voltaria a cruzar caminhos com um compatriota no campeonato cipriota. Foi em novembro de 2012, e a sua equipa, o AEL Limassol, venceu (3-1) o AEP, treinado de forma episódica por Horácio Gonçalves. Jorge Costa tem já marcado, para esta temporada, novo encontro com outro técnico português: o seu Anorthosis defronta o APOEL Nicósia, de Paulo Sérgio, a 26 de outubro.

Por fim, referência para o recente empate entre o Maccabi Telavive, treinado por Paulo Sousa, e o APOEL, de Paulo Sérgio, na primeira jornada da fase de grupos da Liga Europa: nunca antes, dois treinadores portugueses se tinham enfrentado numa prova da UEFA sem equipas lusas pelo meio. Depois do 0-0 na estreia, o tira-teimas está marcado para 28 de novembro, em Nicósia.

Dez duelos de emigrantes na última década

Jaime Pacheco-Carlos Queiroz
Maiorca-Real Madrid, 2-1 (Supertaça espanhola, 24/8/2003)
Real Madrid-Maiorca, 3-0 (Supertaça espanhola, 27/8/2003)

José Peseiro-Fernando Santos
Panathinakos-PAOK, 2-0 (Liga grega, 29/9/2007)
PAOK-Panathinaikos, 0-1 (Liga grega, 27/1/2008)


Jesualdo Ferreira-José Mourinho
Málaga-Real Madrid, 1-4 (Liga espanhola, 15/10/2010)


Jesualdo Ferreira-Manuel Machado
Panathinaikos-Aris, 1-0 (Liga grega, 1/4/2012)


Augusto Inácio-Jorge Costa
Vaslui-Cluj, 1-1 (Liga romena, 2/4/2012)


Horácio Gonçalves-Jorge Costa
AEP-AEL Limassol, 1-3 (liga cipriota, 17/11/2012)

Paulo Sousa-Paulo Sérgio
Maccabi-APOEL, 0-0 (Liga Europa, 19/9/2013)