Como é possível em tão poucos meses, o mesmo treinador, com melhores jogadores e mais meios, mas numa equipa diferente, chegar a um ponto de degradação tão elevado, que coloca um clube conceituado no limiar da «linha d¿água»? No regresso a Barcelos, agora na pele do rival, Álvaro Magalhães foi verdadeiramente humilhado pelos mesmos atletas que escolheu para formar o plantel do Gil Vicente. 

Bafejado pela sorte, mas também pela astúcia que aplicou na segunda parte, quando colocou Sérgio Gameiro no lugar de Vítor Vieira para reforçar o meio-campo, Luís Campos ganhou a batalha directa com o seu antecessor na cadeira de treinador do banco gilista. Depois dos triunfos caseiros sobre Belenenses e Marítimo e o empate em Faro, o Gil Vicente alcançou uma confiança que seria difícil de adivinhar quando Álvaro saiu para Guimarães. O actual técnico do Gil Vicente soube valorizar e incentivar os seus jogadores, que estão muito mais soltos, dispostos a fazer mais e melhor, sem receio de errar. 

Os equívocos sucessivos dos vimaranenses no ataque desesperavam o treinador, que lutava para não sair perdedor de um Estádio que na época passada lhe trouxe tantas alegrias. Álvaro saiu em grande de Barcelos, pensando que iria para um lugar ao sol, onde podia ambicionar algo mais ambicioso. Enganou-se e hoje deixou o Adelino Ribeiro Novo pela porta do cavalo, vergado pela goleada infligida por quem soube aproveitar as incertezas alheias. 

Azar de Abel e contra-ataque 

O jogo começou com domínio total dos vimaranenses, tirando partido do factor-surpresa aplicado pela táctica de dois pontas-de-lança. Sion e Manoel ganharam inúmeros lances à defesa adversária, mas perderam em efectividade, revelando um inesperado receio pela baliza. 

Sem qualquer motivo de interesse até à meia-hora de jogo, a vertigem do sucesso gilista veio pouco depois, quando num lance normalíssimo de Sérgio Lomba, Abel colocou a bola na própria baliza. O azar do lateral-direito passou a simbolizar o destino da equipa, que nunca mais deixou de pensar que nada lhe poderia correr bem. 

Na segunda parte seria previsível que o Guimarães reagisse e apresentasse outra atitude ofensiva. Luís Campos antecipou-se e reforçou o meio-campo, defendendo a vantagem e apostando tudo no contra-ataque. Melhor visão não poderia ter. O adversário largou as armas e partiu despido para o desespero.  

Com o sector recuado totalmente desguarnecido, e com Lima já no lugar de Abel, a menos de quinze minutos do final surgiu o descalabro. Paulo César colocou os gilistas em vantagem, embora uma ténue reacção adversária tenha surgido pouco depois, através de um livre exemplarmente apontado por Sion.  

O jogo ganhava, decisivamente, em emoção e tudo seria de esperar, menos a goleada. Só que Nuno Assis decidiu premiar tudo e todos com duas assistências espectaculares para Sérgio Gameiro e Paulo César e aconteceu aquilo que nem o mais indefectível adepto do clube de Barcelos poderia apostar. Agora, o Gil Vicente fica a apenas dois pontos do V. Guimarães e a um simples passo da manutenção, trocando com os seus rivais da «cidade-berço», que atravessam uma forte crise psicológica e de resultados.