Em dia de eleições vale a pena lembrar o slogan que uns publicitários inventaram para uma campanha de François Miterrand a umas presidenciais francesas. A força tranquila, diziam eles.
 
Já tem umas décadas, mas é daqueles motes que é sempre oportuno.
 
Esta noite, por exemplo, voltou a sê-lo em Alvalade, onde o Sporting esmagou o V. Guimarães sem gritos, sem celeuma, sem algazarra: apenas com a categoria dos princípios e a segurança do futebol.
 
A primeira parte, sobretudo essa, foi um regalo à vista. Muito provavelmente o melhor que já se viu esta temporada ao Sporting: uma enxurrada de ocasiões de golo que só por um acaso infeliz não provocaram mais golos para além dos dois que o resultado registava no final da primeira parte.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Começou quando Slimani, no primeiro remate, abriu o marcador. Uma excelente jogada, aliás, com Téo Gutierrez a abrir na direita em João Mário, que cruzou para um cabeceamento fulminante.
 
Estavam decorridos doze minutos e o jogo nunca mais foi o mesmo.
 
O V. Guimarães chegou a Alvalade com quatro derrotas em oito jogo, e apenas uma vitória, pelo que já se sabia que caminhava sobre brasas. Depois desse golo madrugador, porém, todos os passos queimavam: a formação de Sérgio Conceição acumulou então uma série de erros comprometedores.
 
Havia passes mal medidos, havia perdas de bolas infantis e havia um total incapacidade de sair.
 
O Sporting atacava o adversário muito à frente, pressionava o portador da bola, caía literalmente em cima e provocava erros sucessivos. Foi dessa forma, de resto, que obrigou Montoya a fazer um passe atrasado disparatado, que isolou Téo Gutierrez na cara de Douglas para o segundo golo.


 
Nesta altura vale a pena fazer um parêntesis para dizer que William Carvalho foi essencial nesta estratégia, pela forma como encheu o campo e mordeu os calcanhares aos adversários.
 
Mas houve mais: Jorge Jesus optou por deixar Gelson Martins no banco, lançando William e Adrien para o centro do terreno e deslocando João Mário para a direita do ataque, no tal lugar de Gelson.
 
A estratégia funcionou em pleno, até porque foi pela direita, pela capacidade de entendimento entre João Mário e Esgaio, com o apoio constante de Téo Gutierrez, que o Sporting criou as melhores e mais bonitas jogadas do encontro. Por isso, e sem surpresa, Téo Gutierrez ainda atirou ao ferro, Bryan Ruiz falhou na cara de Douglas, Adrien atirou por cima e Gelson rematou a rasar o poste.
 
A equipa funcionava bem coletivamente e os jogadores mostravam a melhor versão individual.
 
Ruiz fez provavelmente a melhor exibição até se lesionar, Téo Gutierrez esteve sempre em jogo, Esgaio encheu o corredor direito, Adrien defendeu e atacou, Jefferson fez três assistências, Slimani fez três golos, William e João Mário, enfim, desses dois já se disse tudo.

Slimani, por fim um hat-trick: confira os destaques
 
A segunda parte mudou pouco, mas começou com uma curiosidade: o árbitro Rui Costa lesionou-se, disse que não dava e foi substituído. Foi já com o quarto árbitro Hélder Malheiro a dirigir o encontro que Bouba Saré teve uma entrada assassina sobre Gelson e viu o vermelho direto.
 
A jogar com mais um, e mesmo sem a qualidade da primeira parte, o Sporting continuou a mandar no jogo e a construir a goleada. Slimani, por duas vezes, ambas após assistências de Jefferson, e Adrien, de livre, após um toque também de Jefferson, fizeram os golos leoninos.
 
O V. Guimarães ainda reduziu por Josué, na sequência de um canto, mas o golo não mudou nada. O Sporting conseguiu a vitória mais gorda da época, na melhor exibição e perante provavelmente o adversário mais frágil. Com isso voltou a colar-se ao FC Porto na liderança da Liga.
 
Com uma naturalidade admirável. A força tranquila, lá está: ou não fosse este um dia de eleições.