Pálido, compondo um ar de incredulidade perante tudo o que acabara de assistir, Álvaro Magalhães sentava-se, pesaroso, para falar de injustiça. «Fizemos o melhor jogo em casa, desde que cá estou», disse. «A equipa entrou tranquila, serena, mas teve azar». Não podia conceber tão estranho resultado, embora distinguisse, a meio do discurso, motivos para tal desfecho. «Mais uma vez, sofremos um golo estúpido», era só a primeira razão de que se lembrava num encadeamento do raciocínio conduzido por uma lógica cronológica. 

«O Vitória criou muitas situações de golo e o Jorge Silva foi o melhor jogador em campo», continuou o inconsolável treinador, de olhar fixo no vazio. «Quando fizemos o empate, podíamos ter conseguido logo o segundo golo, mas, mais uma vez, numa perda de bola a meio-campo, acabámos por perder». Não podia perceber, a menos que a «infelicidade» da sua equipa explicasse tudo. «Não há justiça no futebol», lamentou-se. «O Salgueiros foi duas vezes à nossa baliza e fez dois golos». Inacreditável, parecia-lhe. Rendido, acabaria por dar os «parabéns ao Salgueiros». 

A dois pontos da «linha-de-água», sob a contestação dos adeptos, Álvaro Magalhães não desiste, lembrando que tem contrato e que tenciona cumpri-lo. «É para cumprir», disse, crendo que, mais importante do que discutir a continuidade do treinador, urge «levantar a cabeça aos jogadores», que, na noite da derrota, chamou de «verdadeiros campeões». 

A justiça, segundo Vítor Manuel 

Vítor Manuel não poderia discordar mais. «O Salgueiros venceu bem, com inteira justiça», disse, logo a abrir. «Os jogadores estiveram excelentes, cortando as linhas de passe ao Guimarães, controlando sempre o jogo». E melhor se tornariam na segunda parte, quando «a equipa cresceu e se soltou» 

Sem esforço, o treinador do Salgueiros reconheceria, contudo, a felicidade com que a sua equipa conseguiu o primeiro golo. «Mas é importante ter sorte», juntou o que Álvaro bem poderia subscrever. «O Salgueiros nunca se desorientou», orgulhou-se, seguro de não poder dizer o mesmo do adversário. 

No final do encontro, ainda no relvado, Vítor Manuel teve o cuidado de aconselhar os jogadores do Guimarães a «não desistirem», lembrando-lhes que o Salgueiros já passou por dificuldades do género, ainda que tivesse outra explicação para a derrota, subtilmente guardada para a conferência de imprensa:«Os jogadores do Vitória estão a atravessar uma fase menos boa, mas apanharam uma equipa tranquila pela frente».