O Sporting foi ao fundo da alma arrancar uma vitória que vale mais do que três pontos: vale três pontos, um bafejo de alívio e um grito enorme de revolta.

Revolta com ele, antes de mais, que foi incapaz durante cerca de 85 minutos de transformar em golo o enorme atropelo que causou ao V. Setúbal.

Revolta com a sorte, também, que durante muito tempo não quis nada com a equipa.

Revolta por fim com o V. Setúbal, e com este jogo que faz mal ao futebol. Um tipo de jogo que fazia sentido nos anos oitenta, mas que hoje está obsoleto, azedo e arrumado num canto dos fundos.

O que a equipa de José Couceiro fez durante praticamente todo o encontro foi feio, muito feio.

É a negação do futebol. É até um atestado de incompetência passado aos próprios jogadores, que são instruídos para correr atrás do adversário como se fossem incapazes, eles próprios, de fazer o adversário correr atrás dele. Como escreveu uma vez Jorge Valdano, algum jogador consegue tirar prazer de um jogo sofrido e submisso como o que o V. Setúbal fez em Alvalade?

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Vale a pena sublinhar nesta altura dois dados para justificar o que se diz.

A formação sadina demorou por exemplo uma hora (estou a exagerar, pronto, demorou 59 minutos) a rematar à baliza. Demorou também 38 minutos a chegar à área de Rui Patrício, e só o fez porque beneficiou de um livre a meio do meio campo ofensivo e logo a seguir de um canto que permitiu aos homens mais altos da equipa invadir a grande área do Sporting.

No meio disto, jovens talentosos como João Teixeira, André Pedrosa, Costinha, João Amaral ou Gonçalo Paciência são obrigados a esconder-se do jogo, e a passar um pouco ao lado dele.

É claro que tudo isto que se disse atrás não justifica a demora do Sporting em chegar ao golo.

A equipa entrou no jogo cheia de vontade, numa rotação altíssima, a pressionar o V. Setúbal, a ganhar a bola e a carregar no ataque, mas a demonstrar enorme dificuldade em criar perigo.

Dois remates de Acuña, já dentro da área, e uma finalização espetacular de Gelson Martins por cima da barra foram as únicas ocasiões verdadeiras de golo que a equipa criou na primeira parte.

No final e... Bas(tou): confira os destaques do jogo

Na segunda parte foi diferente, é verdade. Começou a rematar à trave, por Adrien, voltou a ameçar num remate acrobático de Mathieu e deu o salto em definitivo após a entrada de Doumbia: com o costa marfinense ao lado de Bas Dost, o Sporting tornou-se de facto ameaçador.

As oportunidades começaram então a cair com uma cadência bonita, só Doumbia falhou por três vezes na cara do golo, Bas Dost e Bruno Fernandes também ficaram perto de marcar, até que um penálti por falta de Nuno Pinto sobre Bas Dost permitiu os tais bafejo de alívio e grito de revolta.

O próprio Bas Dost encarregou-se de bater a grande penalidade e com o peso do Estádio de Alvalade em cima dos ombros dele não falhou.

É claro que o golo não resolveu todos os problemas do Sporting. Não resolveu por exemplo a falta de jogo interior, não resolveu a insistência no futebol lateralizado para criar jogadas de ataque, não resolveu também a falta de mais desequilibradores para além do talento de Gelson Martins.

Mas resolveu alguma coisa: a necessidade de somar vitórias para crescer no futuro.

Bas Dost garantiu como tantas vezes esta vitória para o Sporting, e - nas palavras eternas de Simon & Garfunkel - Jesus ama-o por isso mais do que ele próprio deve saber.