Esta coisa de deixar tudo para o último instante é um hábito bem português. O «deixa andar» pode conhecer três epílogos: o mau (o mais provável), o remediado e o bom. Há semanas que V. Setúbal e Arouca já podiam ter as contas do campeonato resolvidas, mas foram deixando a situação arrastar-se.

Os sadinos, então, não sabiam o que era somar os três pontos num jogo desde a 25.ª jornada. Demérito, azar, mérito dos adversários ou uma dose de tudo, isso agora não importava, tal como aos arouquenses que, mais tranquilos mas ainda sem a manutenção garantida, precisavam (se o Gil Vicente derrotasse o Penafiel) de um empate em Setúbal para assinarem a papelada.

FICHA E AO MINUTO DO V. SETÚBAL-AROUCA

O Bonfim engalanou-se para o jogo da época e o Vitória não vacilou. A equipa de Bruno Ribeiro venceu o Arouca por 2-1 e garantiu mais uma época entre os grandes do futebol português.

A precisarem (muito) mais dos três pontos do que o adversário, os sadinos começaram melhor. E, durante a primeira meia hora de jogo, criaram três boas ocasiões, primeiro por Paulo Tavares num remate forte do meio da rua e depois por Miguel Lourenço e Suk.

Depois de estancada a pressão da equipa da casa, o Arouca começou a equilibrar a partida e, aos 34, Iuri Medeiros esteve perto de abrir a contagem para os homens de Pedro Emanuel, que parecia até estar por cima do jogo quando Suk tirou um coelho da cartola e causou a primeira explosão de euforia no Bonfim.

Qual CR7, o coreano (amado e incompreendido na mesma proporção) foi para cima de um defesa arouquense, fez-lhe um túnel e bateu Goicoechea pela primeira vez no jogo, aos 41 minutos. Não viu? Queixe-se ao operador. O golo foi um boost de confiança para os sadinos, que chegaram ao segundo à entrada para os descontos. João Schmidt apareceu sem marcação à entrada da pequena área e, de cabeça, deu o melhor seguimento a um canto batido da direita por Miguel Pedro.

O Arouca parecia ter capitulado à beira do intervalo, mas reapareceu melhor no segundo tempo, muito graças às mexidas promovidas por Pedro Emanuel. Iuri Medeiros esteve perto de reduzir na cobrança de um livre e foi ele quem aos 69’ serviu Nildo (um dos tais lançados pelo técnico do Arouca), que aproveitou uma desatenção da defesa sadinas para reduzir o marcador.

O Arouca tentava chegar ao empate, mas raramente causava pânico em Lukas Raeder, que nunca teve muito trabalho. Um remate perigoso de David Simão e alguns cruzamentos venenosos de Iuri Medeiros e pouco mais. Pouco, muito pouco para justificar a igualdade e até eram os sadinos quem criavam mais perigo, com Goicoechea sempre seguro entre os postes. Suk esteve perto de colocar um ponto final ao jogo a dez minutos do fim em mais um detalhe à CR7. Endiabrado, este coreano que pôs os olhos em bico à equipa do distrito de Aveiro, que até saiu feliz do Bonfim.

Sim, esta crónica tem um final feliz para duas equipas. O Vitória venceu por 2-1, mas o Arouca regressa ao norte com a permanência garantida numa das derrotas mais doces da história da equipa após a derrota do Gil Vicente em Penafiel. Valeu a pena sofrer para estes dois, mas o coração não aguenta muitos sustos destes.

Nunca a palavra «Bonfim» foi tão consensual para duas equipas.