Esta é uma Volta ao Mundo exclusiva. Seis veleiros de última geração, cada um com uma tripulação de 11 pessoas. Nove meses a navegar por todos os oceanos no planeta, com chegada a Lisboa prevista para esta noite. A hora exata depende do mar. É a Volvo Ocean Race, a maior regata de circumnavegação com escalas do mundo, uma história com 40 anos que estará em Portugal pela primeira vez.

A doca de Pedrouços é a sétima e penúltima etapa de uma aventura que começou em Novembro, em Alicante, e já passou pela Cidade do Cabo (África do Sul), Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), Sanya (China), Auckland (Nova Zelândia) , Itajaí (Brasil) e Miami (Flórida, EUA). Depois de Lisboa, onde fica até 10 de Junho, irá para Lorient, em França, e a seguir para a meta final em Galway, na Irlanda. Quando lá chegar, terá navegado 39.000 milhas náuticas, mais de 70.000 quilómetros.

Tudo começou em 1973, diz a lenda que à volta de umas cervejas. Os britânicos Guy Pearce e Anthony Churchill entusiasmaram-se com a proeza de Robin Knox-Johnston, que em 1969 se tornou no primeiro homem a completar uma circumnavegação sem interrupções e a solo, e decidiram tentar replicar a aventura em jeito de competição. Propuseram uma reunião à Royal Naval Sailing Association e juntaram à conversa o empresário Bill Whitbread. Foi esse encontro num pub que lançou as bases para esta aventura.

A primeira regata aconteceu em 1973 e juntou 17 barcos e 167 marinheiros. Eram outros tempos. Participavam sobretudo aventureiros, com meios tecnológicos muito diferentes dos de hoje. E hábitos alimentares também. No Sayula II, vencedor da primeira edição, consumiam-se seis garrafas de vinho por dia. E comia-se carne fresca.

Hoje, os tripulantes da Ocean Race são profissionais de elite, campeões mundiais e campeões olímpicos de vela. Tripulam veleiros de última geração, construídos em fibra de carbono, com tecnologia de ponta, têm refeições de comida desidratada, bebem água dessalinizada. Têm equipamento que permite seguir o seu percurso em tempo real, e a bordo um elemento cujo papel é precisamente tratar e gerir essa informação.

Por muito sofisticada que seja, não deixa de ser uma aventura. A edição atual até meteu... piratas. Na saída da Cidade do Cabo, após a primeira escala, os veleiros foram embarcados num navio armado, para ficarem a salvo de ameaças de pirataria no Oceano Índico. Foram até Sharjah, na costa dos Emirados, e retomaram aí o percurso até Abu Dhabi.

Esta é a 11ª edição da prova, que se realiza de três em três anos, e tem equipas de origens muito diversas: Abu Dhabi, dos Emirados Árabes Unidos, que lidera na aproximação a Lisboa, PUMA (Estados Unidos), Groupama (França), Team Telefónica (Espanha), Team Sanya (China) e Camper (Nova Zelândia).

Além da corrida pelo primeiro lugar na meta final, realizam-se etapas costeiras em todas as escalas. Assim será em Lisboa, a 8 e Junho. Pelo meio há um intenso programa de eventos na «Race Village».

A escala em Portugal é uma parceria público-privada entre a Câmara Municipal de Lisboa, o Turismo de Lisboa e a João Lagos Sport. Foi considerada pelo Governo português como evento de interesse público e aproveita o espaço da reconvertida Doca de Pedrouços, onde a Administração do Porto de Lisboa gastou até agora cerca de seis milhões de euros, num processo que implicou a saída da Docapesca do local. Os gastos incluíram a construção de um porto de pesca alternativo em Santos, num processo que continua a ser contestado pelos pescadores.