Rui Costa, Nuno Gomes e o administrador da SAD do Benfica, Domingos Soares de Oliveira, estiveram presentes nesta quinta-feira na cimeira tecnológica Web Summit para falar sobre o modelo de negócio do Benfica assente na formação de jogadores.

Diretor da formação do Benfica desde o ano passado, Nuno Gomes passou esta terça-feira pela cimeira tecnológica Web Summit, onde falou, juntamente com Rui Costa e o administrador da SAD do clube, Domingos Soares de Oliveira, sobre o universo encarnado, com um olhar particular para a produção de jovens talentos.

Lembrando que o Benfica tem cerca de 40 escolas e Portugal e mais 20 espalhadas pelo mundo, o antigo avançado revelou uma particularidade depois de questionado se o objetivo do clube investia na formação para encontrar estrelas ou como oportunidade de negócio. «É um pouco das duas coisas. No vídeo anterior [um teaser] vimos Gonçalo Guedes e Bernardo Silva, que agora está no Mónaco e na Seleção Nacional. Eles começaram por pagar para jogar no Benfica», disse, sublinhando a importância da aposta em jovens talentos para reduzir as diferenças competitivas para alguns dos clubes mais poderosos do mundo.

«Somos um país pequeno, mas temos grandes talentos. Não os conseguimos manter por muito tempo porque clubes de Inglaterra, por exemplo, têm mais dinheiro, e também porque talvez aí haja mais clubes a lutar pelo título: encontramos facilmente quatro ou cinco, enquanto em Portugal só há três. Precisamos de lutar contra essas diferenças e é por isso que produzimos jovens talentos: para sermos melhor e lutar com esses clubes», acrescentou.

Opinião corroborada por Rui Costa. «Joguei em Itália durante os melhores ano do Calcio. A grande diferença [em relação a Portugal] é económica. Naquela altura e Itália e, agora em Espanha e em Inglaterra, há muito dinheiro para comprar jogadores. É muito difícil competir com esses países. Portugal é um país pequeno que todos os anos dá ao mundo grandes talentos, mas é impossível mantê-los», lamentou.

Renato Sanches, vendido no último defeso ao Bayern Munique por um valor imediato de 35 milhões, foi uma das mais recentes «vítimas» do sucesso do centro de estágios do Seixal no que à exportação diz respeito. Nuno Gomes sublinhou que o jovem médio internacional português é já, aos 19 anos, uma referência para os jovens. «Há 15 anos todos os miúdos do Benfica queriam ser como o Rui Costa. Agora começam a olhar para o Renato Sanches e querem ser como ele. Começou connosco com 11 anos e fizemos um excelente trabalho com ele. O nosso objetivo é fazer detectar cedo os jovens talentos e desenvolver as potencialidades deles. O Renato é um bom exemplo do que podemos fazer.»

Para Nuno Gomes, o futuro do Benfica passa cada vez mais pela presença do clubes em outros mercados. Mas não chega assentar raízes noutros pontos do planeta. É preciso seguir tudo o que se faz por lá. «O nosso sistema da formação está centralizado e permite-nos coordenar todas as escolas, que estão ligadas umas às outras.» E exemplificou: «Na China temos 12 treinadores, que precisam apenas de um computador para aceder à metodologia do clube, ao nosso sistema de treino. Na China faz-se os mesmos exercício do que nas nossas escolas em Lisboa. A tecnologia ajuda-nos a estarmos conectados. Temos também uma caixa 360, a que chamamos jaula e que é um simulador de situações reais de jogo.»

Domingos Soares de Oliveira falou sobre várias parcerias estabelecidas pelo Benfica com várias multinacionais e da forma como ajudam a melhorar o rendimento desportivo não só no futebol, mas também em outras modalidades. O administrador da SAD do clube deu o exemplo de uma parceria estabelecida com a Microsoft e que permite analisar dados associados à saúde dos atletas. «O que fazemos com a Microsoft têm a ver com ciência desportiva no âmbito do desempenho desportivo. Lançámos o Benfica Lab em 2005 e a ideia inicial era aproveitar o que víamos no Milan. O Rui [Costa] nessa altura não estava no Benfica, mas tínhamos uma relação de proximidade com ele, que nos disse como funcionava em Itália. O objetivo é antecipar o que vai acontecer depois de serem analisados todos os dados em conjunto. A Microsoft escolheu-nos porque éramos o clube na Europa que tinha mais dados e por estarmos muito comprometidos para com a ciência desportiva.»