Xandão nem sonhava com isto. Nunca marcara um golo de calcanhar na sua carreira. Aliás, no São Paulo, não tinha autorização para subir à área contrária. Na quinta-feira à noite, vingou-se. Frente ao poderoso Man. City, matou-se saudades das redes adversárias.

O defesa brasileiro viu Hart negar-lhe a primeira tentativa, virou-se de costas para a baliza e praticou um ato de fé. Vai já daqui. Naquele momento, recordou os primeiros passos, o início da carreira como avançado.

«É verdade, era atacante mesmo, e dos bons», recorda o pai Luiz Reame, entre gargalhadas.

«Uma vez, até foi o melhor marcador num torneio. Fez três golos na final. Começou aos oito anos e só recuou para central na Escolinha de Futebol Municipal. O treinador, Fernandinho, tinha um central suspenso e convenceu-o. Nunca mais saiu de lá», explica o progenitor, em conversa com o Maisfutebol.

Aos 24 anos, Xandão sorri. Marcou um golo na Liga Europa, um golaço até, movimento corajoso perante a milionária defesa do City.

Os adeptos do São Paulo, seu anterior clube, nem querem acreditar.

«No São Paulo não o deixavam subir»

Ao serviço do emblema do Morumbi, o central nunca aparecia na área contrária. Nem em lances de bola parada. Realidade estranha para uma torre com 193 centímetros.

Festejou uma única vez no S. Paulo.

A 3 de Setembro de 2010, frente ao Atlético Goianiense, Xandão foi autorizado a subir num canto. Coisa rara. Marcou o seu primeiro - e único - golo com a camisola são-paulina.

Desde então, zero. Até ontem.

«Parece incrível, pela sua altura e impulsão, mas no São Paulo não o deixavam subir, nem nos cantos. Não o deixavam mesmo ir. O Xandão desabafa comigo sobre isso, mas respeitava. Respeitou sempre. É pena porque mesmo no Guarani, como central, ele marcou alguns golos», explica Luiz Reame.

Sá Pinto não foi por aí. Libertou o central e foi premiado. «Estávamos a ver em casa e a minha mulher até chorou de felicidade. Foi incrível. Se lhe derem liberdade, é provável que ele marque mais golos até final da temporada. Mas de calcanhar, nunca tinha marcado, isso é garantido.»

Teve de ganhar músculo no Guarani

Alexandre Luiz Reame nasceu em Araçatuba, município no interior do estado de São Paulo. Nem sempre foi Xandão. Aliás, teve mesmo de fazer reforço muscular quando chegou ao Guarani, para equiparar o peso à elevada estatura.

Depois de representar alguns clubes da sua zona, o avançado convertido a central foi treinar à experiência no Guarani.

«Esteve um mês a treinar com o Flavinho, professor de Educação Física daqui, só para se preparar. Chegou lá, eram quatro para um lugar mas foi ele a ficar.»

«O Xandão era magrinho e só fortaleceu no Guarani, puseram-no a fazer musculação. Curiosamente, quando chegou ao Sporting, um diretor disse-lhe que já o seguiam desde esses tempos do Guarani», revela o pai.

O novo herói do Sporting ficou no Guarani até 2008. Entretanto, o seu passe foi adquirido pela Traffic. Passou por Fluminense, Grémio Barueri e São Paulo até chegar ao Sporting.

Veio por empréstimo e sente-se valorizado em Alvalade.

«A Traffic tem 85 por cento dos seus direitos. Vamos ver como será o futuro mas ele está muito feliz no Sporting, muito mesmo. Ainda por cima, com o golo de ontem, calou muitos são-paulinos que o criticavam. Ele é são-paulino de nascença e aquilo custava-lhe. Agora, já pedem que volte. Mas está bem no Sporting», remata Luiz Reame.

Veja o único golo de Xandão no São Paulo, há ano e meio